Há expressões que se gastam de tanto uso, mas se há momento em que faz sentido falar em nova era é aquele que vive o FC Porto à partida para a época 2024/25. Por causa da mudança na presidência, com André Villas-Boas a pôr fim a quatro décadas de liderança de Pinto da Costa e a levar consigo toda uma nova estrutura para o Dragão, além de uma abordagem que se anuncia diferente. Por causa da mudança no banco, de onde saiu Sérgio Conceição ao fim de sete anos marcantes, para assumir Vítor Bruno, até aqui seu adjunto.
E porque até em campo já não está a principal referência de liderança. A saída do capitão Pepe, aos 41 anos, representa mais um corte com o passado, com o argentino Alan Varela a assumir a braçadeira.
Posto isto, não se trata, no que diz respeito à equipa, de fazer tábua rasa do que estava para trás, longe disso. Está lá, pelo menos para já, a base da equipa, bem como o conhecimento profundo dos jogadores, dos processos e das dinâmicas que a opção por Vítor Bruno garante. E está lá a ambição de sempre, o «vício permanente pela vitória», como disse o novo treinador. E também a expectativa renovada dos adeptos, os muitos milhares que escolheram assumir a mudança. Tudo isso potenciado pela forma como o FC Porto entrou na temporada, a dar a volta a três golos de desvantagem com o Sporting para vencer a Supertaça. Um primeiro troféu para batizar a nova era.
Também estão lá problemas antigos, desde logo a situação financeira, que mantém o FC Porto sob controlo da UEFA. As dificuldades de tesouraria que limitam a capacidade de ir ao mercado, numa equipa que ainda não tem reforços e perdeu a sua maior referência goleadora, Mehdi Taremi, agora jogador do Inter depois de deixar o Dragão em fim de contrato. E que limitam, antes de mais, a capacidade para reter os jogadores com mais mercado. Esse não é de todo, à partida para o arranque oficial da época, um dossier fechado e deixa em aberto o futuro de referências da equipa como Francisco Conceição ou até Diogo Costa.
Para já, o FC Porto recuperou alguns dos jogadores que estavam emprestados, como David Carmo e Fran Navarro. E fez da aposta nos jovens da formação uma bandeira. Ouro da casa é a expressão que o clube cunhou, misto de marketing e de esperança, para designar as promessas do Olival.
O novo treinador trabalhou com mais de uma dezena de jogadores da formação durante a pré-temporada e há promessas fortes para a nova época, desde logo em volta do lateral Martim Fernandes, que saltou para a ribalta na reta final da última temporada, ou do enorme talento que é Rodrigo Mora. Mas há mais. Os guarda-redes Gonçalo Ribeiro e Diogo Fernandes, os defesas Gabriel Brás e Martim Cunha, o médio Vasco Sousa e o extremo Gonçalo Sousa, para já, estiveram entre os 34 jogadores formalmente apresentados aos adeptos, embora vários deles vão provavelmente alternar entre a equipa principal e os B.
O trabalho da pré-temporada foi condicionado pela chegada tardia de vários internacionais e, se os resultados dos jogos de preparação, com pleno de vitórias e golos em catadupa, contribuíram para alimentar a confiança e o entusiasmo dos adeptos, é prudente manter a noção de que este novo FC Porto é ainda um projeto em construção. Mas que parte para o campeonato com a confiança no alto, depois da épica conquista da Supertaça frente ao Sporting.
Classificação da época passada: 3º
Melhor classificação: 30 vezes campeão nacional
Presenças na I Divisão: 90
Objetivo: ser campeão nacional
A aposta de André Villas-Boas para substituir Sérgio Conceição estava em casa. Depois de um processo turbulento, que chegou ao ponto de rutura entre o treinador que saiu e aquele que foi seu adjunto durante 13 anos, a surpresa confirmou-se. Vítor Bruno era o novo treinador do FC Porto. É uma herança pesada substituir Conceição, o técnico que acumulou uma série de marcas históricas, que é o mais titulado de sempre do clube e que personalizou a identidade portista ao longo dos últimos sete anos. Vítor Bruno, de 41 anos, parte do conhecimento profundo que tem do clube, mas também da experiência de uma vida, literalmente. Filho do ex-treinador Vítor Manuel, viveu futebol desde sempre, da carreira discreta como médio à formação em Ciências do Desporto na Universidade de Coimbra, do início nos bancos ao lado do pai, em Angola, à parceria desde a primeira hora com Sérgio Conceição, quando este iniciou a carreira de treinador principal, em janeiro de 2012. Vítor Bruno, que em sete anos no Dragão orientou por mais de uma dezena de vezes a equipa, ao ritmo dos sucessivos castigos de Conceição, assumiu um discurso ambicioso na apresentação. Mas sabe do enorme desafio que tem pela frente na sua primeira experiência como treinador principal para conseguir, usando a sua própria imagem, reduzir a formiga o elefante na sala que é Sérgio Conceição. Para já, entrou com o pé direito, com a reviravolta frente ao Sporting que deu a Supertaça ao FC Porto.
Entradas: Ainda sem reforços
Saídas: Jorge Sánchez (regressa ao Ajax), Taremi (final de contrato - Inter Milão), Pepe (final de contrato), João Mendes (V. Guimarães)
Fez 17 anos em maio aquele que é o segredo mais mal guardado do Olival. O talento de Rodrigo Mora é tão evidente que ele é há muito apontado como a próxima grande notícia do FC Porto e do futebol português. A inteligência, a leitura de jogo, a qualidade técnica e a maturidade precoce daquele que foi o mais jovem de sempre a jogar e a marcar nas competições profissionais, pelo FC Porto B, têm dado sucessivas provas, a última das quais no Europeu sub-17 deste ano, onde se destacou na caminhada de Portugal até à final. Renovou contrato no início de julho e, com o FC Porto limitado no mercado por constrangimentos financeiros e com um novo treinador que é também ele da casa e o conhece bem, este pode ser o momento ideal para a promessa se transformar em certeza.