Há cinco anos não existiam muitos sinais de que a Finlândia estaria em vias de fazer a estreia num grande torneio de seleções. Em 2016, sob o comando de Hans Backe, um antigo adjunto de Sven-Goran Eriksson, a Finlândia não venceu um único jogo. Após esse ano desmoralizador, a federação decidiu virar-se para Markku Kanerva, que já tinha sido selecionador interino em duas ocasiões.
Não se esperava muito do antigo professor, que foi internacional finlandês como central, mas que tinha reduzida experiência a treinar equipas. Foi então que algo estranho aconteceu: a Finlândia começou a ganhar jogos. Primeiro ganharam o grupo da Liga das Nações, à frente de Hungria e Grécia, e depois qualificaram-se para o Campeonato da Europa.
A base da equipa é bem conhecida de Kanerva, pois vem da seleção de sub-21 que o técnico conduziu ao Campeonato da Europa da categoria, em 2009. Demorou quase uma década para que esse grupo atingisse todo o seu potencial, mas ainda que não seja a melhor geração de jogadores, é certamente a melhor equipa que a Finlândia já teve. Um plantel com uma ligação especial, e com uma verdadeira identidade de equipa, dentro e fora do campo.
O selecionador da Irlanda, Stephen Kenny, foi muito certeiro na análise que fez à seleção finlandesa, após a derrota sofrida em outubro: «Parece uma equipa de clubes, tendo em conta que sabem perfeitamente os seus papéis em campo».
«Isso mostra que estamos a usar bem o pouco tempo que temos juntos. Muitos jogadores estão connosco há muito tempo, e conhecem os princípios desta equipa. Agora temos de concentrar o nosso trabalho em pequenas nuances», respondeu Kanerva.
Isso chega a ser um luxo para uma seleção. Na Finlândia até se brinca que Kanerva é tão obcecado com detalhes que até descobre onde estão os aspersores da rega antes dos jogos. O sistema tático pode mudar de 5x3x2 para 4x4x2, pois a flexibilidade da equipa é uma das suas maiores virtudes.
A Finlândia é tão organizada que até se pode tornar entediante defrontá-la. A chave passa muito pela coordenação entre o guarda-redes Lukas Hradecky e os centrais Paulus Arajuuri e Joona Toivio. Glen Kamara é o motor do meio-campo e Teemu Pukki é apoiado por Robin Lod nos contra-ataques, sendo que Joel Pohjanpalo é capaz também de marcar.
O segredo, porém, é o espírito de equipa. Os jogadores sentem-se muito relaxados na companhia uns dos outros, e alguns até já disseram que os estágios parecem quase um reencontro com familiares que não veem há algum tempo.
«Há muito respeito entre todos. O desporto, a este nível, pode ser muito egoísta, mas somos mais do que colegas, somos amigos», disse Paulus Arajuuri.