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Histórias das idas do FC Porto ao Alfredo da Silva

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Estádio Alfredo da Silva

28/11/1965: catenaccio no primeiro CUF-FC Porto no Alfredo da Silva

Bancadas centrais praticamente desertas; uma das laterais apinhada, para onde ataca a CUF na primeira parte.

Nóbrega inaugura o marcador aos 3 minutos e assina o golo mais madrugador dos 12 duelos que vão jogar-se neste palco entre cufistas e portistas: remate colocado de canhota de fora da área. Aos 85 minutos, Rui, guarda-redes do FC Porto e uma das figuras da partida, sai lesionado após um lance com Fernando Oliveira. Este não será o único dissabor causado pelo avançado da CUF aos azuis e brancos: dois minutos depois, marca com um desvio oportuno de cabeça ao primeiro poste, antecipando-se ao veterano Américo, acabado de entrar para o lugar de Rui.

O primeiro CUF-FC Porto no novíssimo Alfredo da Silva, inaugurado meses antes, termina com uma igualdade a um golo. «Mais uma vez se provou o ‘veneno’ do contra-ataque cufista, baseado na adopção, quase geral, das táticas defensivas que inundaram o nosso futebol. O ‘catenácio’ está a fazer escola entre nós», lê-se no Diário de Lisboa do dia seguinte.

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Estádio Alfredo da Silva

29/01/1967: a Taça no Lavradio na primeira época de Pedroto ao leme do FC Porto

É a terceira vez que CUF e FC Porto se defrontam para a Taça de Portugal no Barreiro, mas a primeira no Alfredo da Silva.

Quinze dias após a vitória do FC Porto por 3-2 nas Antas, a passagem aos oitavos de final da Prova Rainha está longe de estar fechada, muito por culpa da reação dos cufistas, que se reergueram na reta final e quase recuperaram de uma desvantagem de três golos. No jogo da 2.ª mão, contra a corrente do jogo, Custódio Pinto inaugura o marcador para os visitantes aos 17 minutos na marcação de um livre. Américo e Atraca seguram a reação da equipa da casa, que acaba por chegar ao empate por Alfredo Espírito Santo aos 10 minutos da segunda parte, também de livre. A esperança da CUF reacende-se, mas o cansaço toma conta da equipa da margem sul do Tejo, que não consegue ir mais além, e o resultado mantém-se até final.

Alfredo Farinha, jornalista de A Bola que assina a crónica, refere-se ao jogo como um «concerto de apito», numa alusão à agressividade e elevado número de faltas cometidas pelo FC Porto. José Maria Pedroto, que cumpre a primeira época no comando técnico dos azuis e brancos, concorda que houve dureza, mas critica o árbitro por «nunca atender à lei da vantagem». E questiona: «É de estranhar que para um jogo desta importância tenha sido nomeado um árbitro com tão pouca experiência. (…) Já estamos habituados a servir de cobaias de árbitros novos.»

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Estádio Alfredo da Silva

12/03/1967: nem o regressado Mário João travou a avalanche portista

À terceira visita, o FC Porto consegue a primeira vitória sobre a CUF no Alfredo da Silva e logo por números esmagadores. 5-1!

Mário João, anos antes bicampeão europeu pelo Benfica e a caminhar para a reta final da carreira, volta a jogar após quase quatro meses de ausência e é visto como um trunfo para os fabris, enquanto os homens de Pedroto apresentam-se sem alguns dos habituais titulares.

Contra as expectativas, o FC Porto não dá quaisquer hipóteses. Manuel António bisa e Ernesto, Nóbrega e o homem-golo Djalma constroem a vitória mais robusta presenciada no Lavradio em duelos entre estas duas equipas. «Defesa certa, meio-campo preenchido satisfatoriamente e ataque incisivo, acutilante e prático», elogia a crónica do Diário de Lisboa.

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Estádio Alfredo da Silva

25/02/1968: Capitão-Mor põe FC Porto em sentido e salva Meirim

Capitão-Mor é o homem do jogo e dá à CUF, que se apresenta muito sólida defensivamente, a primeira vitória sobre os portistas no Alfredo da Silva. Abre o ativo aos 16 minutos e assina o 2-1 final aos 88 minutos, depois de Valdir empatar para o FC Porto, que chega ao Lavradio cheio de moral escassos dias após uma goleada por 9-0 sobre o pobre Tirsense.

O avançado, que vestiu a camisola da CUF entre as décadas de 60 e 70, recorda com uma memória invejável que a equipa do Barreiro atravessava um momento delicado, culpa de uma escalada de resultados que não fazia antever nada de bom para esse jogo.

«O nosso treinador era o Joaquim Meirim, que ninguém conhecia de lado nenhum e tinha chegado para substituir o arquiteto Anselmo Fernández por causa de um acidente de carro. Nas jornadas anteriores, tínhamos perdido 2-0 em São João da Madeira, 3-0 contra a Académica do Artur Jorge e dos irmãos Campos, e depois fomos a Alvalade levar 4-0 do Sporting. A seguir, o Meirim já tinhas as malas à porta e sabíamos todos que ele ia de vela se não ganhássemos. Eu marquei os dois golos e a partir daí foi sempre a crescer: até ganhámos em casa ao Benfica (2-0) num jogo em que eu também marquei», conta ao Maisfutebol.

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Estádio Alfredo da Silva

7/05/1972: a Europa na cabeça do menino Manuel Fernandes

A partida da antepenúltima jornada do campeonato é vital para as aspirações das duas equipas, que ainda lutam pelos lugares de acesso à Taça UEFA. No dia seguinte, as crónicas falam sobre um FC Porto «descrente» e uma equipa da casa que «não arriscava muito». O duelo foi, por isso, pouco vistoso, mas a segunda parte aproximou-se mais das expectativas do público. Aos 88 minutos, Capitão-Mor, um dos padrinhos de Manuel Fernandes na CUF, serve o afilhado de apenas 20 anos: conta, peso e medida. «Quem ganhasse, tinha a certeza que ia à UEFA e nós ficámos em quarto, à frente do FC Porto. Foi um jogo mais ou menos equilibrado. O golo? É um cruzamento da direita, eu salto com um jogador do FC Porto, mas a bola chega até ao Capitão-Mor, que cruza com o pé esquerdo. E eu cabeceio para o golo: foi uma grande cabeçada e olhe que não foi muito perto da baliza.» O precioso arquivo do site da RTP prova que o testemunho de Manuel Fernandes ao Maisfutebol bate certo com a realidade.

Esta é a terceira vitória seguida da CUF sobre os portistas no Lavradio e repete-se o placard do ano anterior, num jogo decidido por… Capitão-Mor, habituado a pôr os azuis e brancos em sentido. «Ao longo da carreira marquei ao Carvalho, ao Damas (Sporting), ao José Henrique, ao Bento (Benfica) e ao Américo e ao Rui (FC Porto). Há poucos pontas de lança que tenham conseguido fazer isso», avisa-nos.

Capa do Jornal A Bola (arquivo da Hemeroteca Municipal de Lisboa)

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Estádio Alfredo da Silva

10/02/1974: a estreia do astro Cubillas

Um mês depois de ter chegado ao FC Porto a troco de 5.600 contos e com um contrato mensal de 125 contos mais prémios por objetivos, números inéditos até à data no futebol português, Cubillas tem, no Alfredo da Silva, a tão aguardada estreia oficial pelos azuis e brancos e estádio barreirense é pequeno para receber todos os que têm interesse em ver jogar e prestar tributo a uma das estrelas maiores do Mundial 1970.

Esse é um de três jogos entre CUF e FC Porto que Manuel Fernandes tem mais presentes na memória: mais pelo impacto causado pela presença do astro peruano e pela enchente registada do que pelo resultado, um desencorajador 0-0. Os outros são o 2-1 em 1972 e um FC Porto-CUF em janeiro de 1973 (1-1).

«Não foi no Alfredo da Silva, mas tenho de recordá-lo porque acabei na baliza. O Conhé, o nosso guarda-redes, levou um pontapé na cabeça a dez minutos do fim e já tínhamos feito as duas substituições permitidas. E lá fui eu, que sempre tive a mania que era guarda-redes», conta-nos. Mas como assim «sempre»? «Quando era miúdo jogava muitas vezes à baliza. O Oliveira e essa malta toda fartaram-se de chutar, mas não sofri nenhum golo e o resultado ficou 1-1. Se brilhei? Fiz uma defesa ou outra [risos].»

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Estádio Alfredo da Silva

5/01/1975: premonição lança princípio da queda do líder invencível FC Porto

O líder FC Porto, treinado por Aimoré Moreira, brasileiro campeão do Mundo em 1962, inicia a segunda volta do campeonato no Lavradio. E é também lá que começa a deixar fugir o campeonato, depois de uma primeira volta fechada com 11 vitórias, quatro empates e nenhuma derrota. As palavras antes do jogo de Fernando Oliveira, agora treinador da CUF, são premonitórias. «O FC Porto não costuma ser feliz no Lavradio. Já os defrontei inúmeras vezes e venci umas quantas em situações muito parecidas com esta», dispara. Os visitantes «transpiram» confiança na entrada em campo. Nota artística e desperdício: António Oliveira, o adolescente Fernando Gomes e o fenómeno Cubillas, numa tarde de romaria ao Alfredo da Silva: «Houve uma grande euforia após o 25 de Abril e isso tinha reflexos no futebol», lembra o senhor Vieira, hoje encarregado do Fabril e já na época ligado ao clube.

Gradualmente, o jogo começa a pender para o lado de uma estoica CUF, mas muito por culpa da equipa visitante. Gabriel é o rosto mais visível de um dia para esquecer dos azuis e brancos: aos 27 minutos comete penálti sobre Leitão (que se encarrega de bater com sucesso) e aos 75 minutos, pouco depois de António Oliveira empatar, está na origem de nova falta, da qual nasce o golo decisivo. «Eu sou substituído, para o meu lugar entra o Eduardo [Ribeiro] e é ele que faz o golo da vitória», conta Manuel Fernandes. Rezam as crónicas que o avançado, que meses depois chega a ter meio pé no FC Porto – «cheguei a acordo de verbas e até fiquei instalado no Hotel Nave, mas disse que antes de assinar tinha de falar com a minha família» – mas acaba por rumar ao Sporting, sai lesionado por ir demasiado longe na teatralização de uma queda. «Ai foi? Já nem me lembro sequer de me ter lesionado. Já foi há muito tempo [risos].»

No final do partida, Aimoré Moreira reconhece sobranceria em alguns jogadores, que diz terem jogado como se tivessem «faixa de campeão». «O FC Porto encosta quase sempre no Barreiro», dispara, radiante, Arnaldo, capitão dos fabris. O FC Porto ainda regressa à Invicta líder, mas esta será a primeira de cinco derrotas nas oito jornadas seguintes, nas quais deixa escapar irremediavelmente o campeonato para o Benfica.

Arquivo da Hemeroteca Municipal de Lisboa

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Estádio Alfredo da Silva

12/10/1975: António Oliveira brilha no último CUF-FC Porto

Este é o último jogo oficial entre CUF (sob qualquer tipo de designação) e FC Porto no Estádio Alfredo da Silva em mais de 45 anos e os azuis e brancos impõem-se de forma categórica. Aos 23 minutos, os portistas já vencem por 3-0 – Ademir (2x) e Cubillas.

O homem da tarde é, no entanto, António Oliveira, endiabrado e presente em todos os golos. Mário João, agora treinador da CUF, contesta os números da vitória do FC Porto. «Pela forma como a minha equipa se bateu, a punição é demasiado severa. O FC Porto foi feliz na obtenção dos golos, nascidos em outras tantas desatenções. Jogámos sempre taco a taco e o Porto nunca nos foi superior. Embora o FC Porto seja uma equipa que joga para o título, mostrou possuir uma defesa muito frágil. Com os avançados da época passada teríamos obtido outro resultado.»

A CUF já não tem nomes como João Leitão, Vítor Gomes, José Domingos, Capitão-Mor e Manuel Fernandes, que aproveitou o fim do contrato e da lei de opção com o 25 de abril – que permitia aos clubes manterem os jogadores – para cumprir o sonho de uma vida: jogar no Sporting.

Também por estes dias, em outubro de 1975, é formalizada a nacionalização da Companhia União Fabril (CUF), com quase 200 empresas do grupo a passarem para as mãos do Estado.

O Grupo Desportivo CUF não sai ileso da instabilidade. O desinvestimento é brutal e as consequências são praticamente imediatas: de um sólido oitavo posto em 1974/75, a CUF encerra 1975/76 no último lugar. Seguem-se descidas de divisão (sempre em patamares inferiores), mudanças de nome (GD Quimigal e GD Fabril, desde 2000) e incursões pelo futebol distrital. Hoje, o Fabril disputa a Série G do Campeonato de Portugal.

Jornal A Bola (arquivo da Hemeroteca Municipal de Lisboa)

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