por PEDRO JORGE DA CUNHA
O gigante de Ibrox vivia anos dourados e nos cofres não faltava liquidez. A boa disposição dos protestantes, muito tempo antes de o clube chegar à beira da extinção, permitiu-lhes brincar com os adeptos e anunciar a contratação de um tal Yardis Alpolfo.
Ora, à primeira vista, o nome remeteria para um qualquer futebolista originário da América do Sul, certamente um jovem ainda desconhecido e com um talento enorme. Mas não.
Yardis Alpolfo mais não era do que um anagrama de April Fools' Day, a expressão anglo-saxónica para Dia das Mentiras. O craque teve até direito a aparecer em destaque no site oficial do Rangers.
Yardis Alpolfo. Jogava muito.
A rivalidade entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi terá para sempre um lugar especial nas enciclopédias que discorram sobre a história do planeta-futebol.
Durante os últimos 16/17 anos, o português e o argentino suplantaram todos os limites que julgávamos inultrapassáveis e bateram todos os recordes que julgávamos impossíveis.
Em 2018, a revista francesa France Football, até 2016 responsável pela atribuição da Bola de Ouro anual ao melhor jogador do mundo, decidiu brincar com essa rivalidade e anunciou que Cristiano devolvera o troféu relativo a 2017.
«Após perder o clássico contra o Barcelona, o português anunciou à France Football que devolveria a Bola de Ouro, dizendo que não o merece e que o mais justo seria entregá-lo a Lionel Messi.»
Raras vezes a rivalidade entre os dois melhores do planeta terá sido vivida com um sorriso do tamanho do... mundo. Neste caso teve mesmo de ser assim.
Neymar só estava há alguns meses no PSG, mas as polémicas já o acompanhavam e rumores indicavam que o brasileiro se fartara da vida na Cidade Luz. Difícil de entender, fosse qual fosse a perspetiva.
Antes do final do ano civil de 2017, jornais desportivos já o colocavam perto do Real Madrid, do Bayern Munique e até mesmo de um regresso ao Barcelona.
Foi nessa altura que o pequeno AD Mérida se lembrou de acabar com essas notícias e anunciou, com pompa e circunstância nas suas redes sociais, a contratação do internacional brasileiro.
Vale a pena lembrar que em Espanha o Dia das Mentiras se realiza a 28 de dezembro e se chama Dia dos Inocentes. Neymar, pois claro.
Em 2011, Fernando Torres vivia tempos difíceis no Chelsea. Os golos que marcara no Atlético Madrid e no Liverpool desapareceram em Londres e os mais esotéricos sugeriam que alguma bruxaria estaria por detrás desta súbita desinspiração.
Vai daí, o Mirror - um dos mais coloridos tablóides britânicos - lembrou-se que faria todo o sentido capitalizar o Dia das Mentira às custas do avançado espanhol. Escreveu o jornal que Torres, cansado dos golos falhados, aceitou o conselho de gente próxima e esteve no relvado de Stamford Bridge a extirpar maldições e azares.
Para isso, Torres teria passeado com uma cabra pela relva dos blues e o pobre animal defecara em cada uma das balizas, de forma a fazer com que «os espíritos malignos» deixassem de «bloquear os remates» do espanhol.
Lendário.
Uma das equipas mais conhecidas da liga de basquetebol espanhola decidiu que seria engraçado brincar com o próprio treinador e o capitão de equipa no Dia das Mentiras. E não poupou na hora de tecer a teia para toda a produção.
A direção simulou a apresentação oficial do novo apresentador do clube, uma suposta marca de preservativos vegan e sem glúten. O resto... bem, o melhor é mesmo ver todo o vídeo da cena, que vale bem a pena.
Inspirado pelo «meio documentário, meio reality show» The Kardashians, Gerard Piqué vai avançar com um projeto semelhante e permitir a entrada de câmaras de televisão na casa que partilha com a não menos famosa Shakira.
Mais coisa, menos coisa, foi isto que o Mundo Deportivo anunciou no passado mês aos seus leitores. O jornal escrevia no Dia das Mentiras que «The Piqués» já estava a ser preparado, ao mesmo tempo - outra mentira - que o ainda defesa central e capitão do Barcelona organizava a sua candidatura à presidência do clube.
O jornal acrescentava que Gerard Piqué é íntimo de Mark Zuckerberg, o dono do Facebook, e que contava com a ajuda do norte-americano para projetar a imagem do clube e da família por todo o planeta.
Claro que tudo não passou de uma fantasia. Pelo menos por agora, não poderemos ver Shakira no papel de fada do lar.
Rafa Benítez estava só de passagem pelo Chelsea e era contestado dia sim, dia não pelos adeptos. A ligação anterior ao Liverpool e os resultados instáveis não ajudaram nada o treinador espanhol e foi a ignição que a Talksport precisava para criar a sua mentira em 2013.
O canal britânico anunciou a saída do técnico no final da época e que o sucssor seria Roman Abramovich, o magnata russo proprietário do clube. Para tornar tudo ainda mais realista, os produtores da mentira conseguiram convencer Gianluca Vialli a alinhar no embuste e a comentar a chegada de Abramovich ao banco de suplentes.
Nada mau, como se pode ver no vídeo.
Um clube da primeira divisão espanhola de futsal andava chateado com as televisões do país. Os seus jogos nunca tinham transmissão em direto e os dirigentes do Peñiscola aproveitaram o Dia das Mentiras para fazer um protesto curioso.
Para isso, anunciaram nas redes oficiais do clube que tinham acabado de fechar um contrato exclusivo com a KCTV, o canal público de televisão da Coreia do Norte. E ilustraram a brincadeira com a imagem de um ameaçador Kim Jong-un. À atenção dos responsáveis pelas televisões espanholas.
Se Gareth Bale custou 101 milhões em 2013, Harry Kane pode muito bem valer o dobro em 2017. Terá sido essa a reflexão dos autores do programa Invictos, um podcast muito ligado aos assuntos do Real Madrid.
Se assim pensaram, melhor o fizeram ao anunciar com grande clamor a chegada de Dirty Harry ao Santiago Bernabéu a troco de um investimento imediato de 205 milhões e o envio de Karim Benzema para Londres.
Nada disto se confirmou e Gareth Bale continuou a jogar golfe em Espanha durante mais uns aninhos. Até perceber que os greens britânicos são, provavelmente, os melhores do mundo.
Diego Armando Maradona, o maior dos maiores, também se viu envolvido no Dia das Mentiras. Sem ponta de responsabilidade. Ora, corria o ano de 1989, Maradona começava a ver-se apertado em Nápoles devido aos problemas recorrentes de consumo de drogas e um jornal soviético lembrou-se de anunciar a sua mudança para a URSS, a antiga União Soviética.
O problema é que a Associated Press, uma das agências noticiosas mais conceituadas do planeta, pegou no logro lançado pelo jornal Izvestia já depois do 1 de abril e tomou a notícia como boa, difundindo-a por toda a Europa.
Ora, a repercussão foi tão forte e tão polémica que justificou um desmentido oficial do Nápoles e do próprio Maradona. «União Soviética? Net!» Sentindo-se ferida na sua fiabilidade, a AP contatou o Izvestia e exigiu um esclarecimento urgente sobre a informação que se veio a revelar falsa.
E a explicação era simples. Era o Dia das Mentiras.