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Os dez pontos a vermelho na época do Benfica

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Jorge Jesus no Sp. Braga-Benfica (Lusa)

1. As promessas tolas de Jesus

* por Pedro Jorge da Cunha

«Se o Benfica não jogar o dobro, voltamos a não ganhar. Temos condições para fazer uma equipa muito grande. Com o elenco que teremos não vamos jogar o dobro, vamos jogar o triplo.»

A 3 de agosto de 2020, Jorge Jesus prometia mundos e fundos ao iniciar o seu segundo ciclo no Benfica. O VÍDEO da apresentação tem nove meses e foi estilhaçado ao longo do tempo.

Jesus utilizou a expressão «arrasar» e acenou com um ano perfeito aos adeptos das águias - muitos deles ainda a digerir o anúncio do regresso do treinador.

«Queremos ganhar tudo, pois estou habituado a ganhar tudo. E queremos chegar a títulos internacionais», afirmou o experiente treinador.

Jorge Jesus elevou com o seu discurso a fasquia da expetativa ao máximo possível. As palavras do treinador associaram-se ao investimento de 100 milhões em reforços. Os primeiros erros graves da temporada.

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PAOK-Benfica (twitter PAOK)

2. Cofres arrombados em Salónica

15 de setembro de 2020, o primeiro golpe profundo.

Em Salónica, casa de um acessível PAOK - acabou a liga grega a 26 pontos do Olympiakos -, o Benfica falhou o primeiro objetivo da época: a qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões.

A eliminação no Toumba teve requintes de malvadez. Primeira parte dominada pelo Benfica, segundo tempo completamente descontrolado e feito de transições. Um autogolo de Vertonghen e um golaço de Zivkovic, que saíra semanas antes do Benfica pela porta pequena, tornaram insuportável a passagem pela Grécia.

Abel Ferreira deu a volta às ideias de Jorge Jesus. O treinador do Benfica acabou o jogo a lamentar as «oportunidades perdidas na frente».

«Não vou só analisar o resultado, o mais importante é que andámos cinco semanas a trabalhar e houve coisas positivas que a equipa já fez. Isso dá-nos algum alento e esperança para os objetivos que temos. Hoje perdemos um objetivo. O objetivo não era vencer a Champions, mas era chegar e estar ao nível das equipas que estão mais alto ao nível da Champions.»

Como consequência do adeus à Champions, a direção do Benfica aceitou vender Rúben Dias ao Manchester City. Em troca receberia Nico Otamendi.

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9/10: Boavista-Benfica, 3-0 (2 NOVEMBRO, 6.ª Jornada da Liga 2019/2020): à sexta jornada, o Benfica sofreu a primeira derrota no campeonato na época de regresso de Jorge Jesus. Foi também a primeira vitória do Boavista, ainda com Vasco Seabra. Angel Gomes, Alberth Elis e Hamache rubricaram uma das derrotas mais penosas da águia em 2020.

3. Pancada no Bessa, pancada do Sp. Braga

À queda em Salónica seguiram-se sete vitórias seguidas. O mês de outubro foi perfeito, a relação entre Jesus e o Benfica pareceu melhor do que nunca, como se todos os dias fossem sempre uma primeira vez.

Não bem que sempre dure e a este período de excelentes resultados e exibições positivas seguiram-se dois socos no estômago. De Jesus, da águia, dos adeptos do Benfica.

Novembro foi o segundo sinal de alarme. No dia 2 desse mês, o Benfica tremeu as pernas e foi sovado no Bessa por um Boavista que mostrara debilidades impróprias de um grande clube nas semanas anteriores: 3-0 limpinhos, limpinhos.

Jesus queixou-se das «muitas faltas» feitas pelo Boavista.

«Apanhámos um Boavista que soube jogar com alguma falta de qualidade do nosso passe, faltas constantes e o árbitro também deixou que o jogo se prolongasse com 31 faltas do Boavista.»

Seis dias depois, mais uma deceção. Derrota na receção ao Sp. Braga: 2-3, depois de ter estar a perder por três golos. Em menos de uma semana, o Benfica que garantira conquistar o mundo deixava seis pontos para trás e ficava a quatro do líder Sporting.

Jesus lamentava as mudanças feitas no quarteto defensivo. «Já falámos sobre o tempo para trabalhar coletivamente e também alguns erros individuais. Mudámos a linha de quatro por completo. Só está o Vertonghen, o Grimaldo tem andado lesionado. Quando sofres golos perdes confiança coletiva.»

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FC Porto vence Supertaça frente ao Benfica (Lusa)

4. Supertaça perdida a dois dias do Natal

23 de dezembro de 2020, mais um abalo na estrutura emocional das águias. No frente a frente contra o grande adversário das últimas décadas, o Benfica voltou a ser pobre, muito pobre. Perdeu a final da Taça de Portugal em agosto e perdeu também a Supertaça, a dois dias do Natal.

Jorge Jesus só teve responsabilidade no segundo insucesso, naturalmente, mas os ingredientes foram muito parecidos: um FC Porto mais duro, mais agressivo, mais competitivo e um Benfica a gritar limitações em vários momentos do jogo.

O 2-0 final foi o retrato fiel do que se passou em Aveiro e até Luisão perdeu a paciência com a equipa.

Jesus apresentava as suas explicações: o FC Porto já tinha «um jogo mais consolidado» e o Benfica ainda não estava «no patamar pretendido». Ainda assim, o treinador não via «grandes diferenças» entre as equipas.

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Jorge Jesus conversa com Darwin no FC Porto-Benfica (Estela Silva/LUSA)

5. Covid, a desculpa mais usada por Jesus

O mês de janeiro foi duro para o Benfica. A covid-19 atingiu o plantel das águias e afetou quase todo o plantel. No levantamento feito pelo Maisfutebol, a 21 de janeiro, já havia o registo de 19 futebolistas infetados com diferentes níveis de gravidade pelo novo coronavírus.

O surto tem sido apontado por Jorge Jesus como a principal explicação para a época negativa do Benfica. Foi forte, limitou o grupo de trabalho durante algumas semanas, mas essa foi a realidade de praticamente todos os clubes da Liga.

Basta olhar para os números. Assustadores, é verdade, um pouco por todo o país. Nesse período, apenas os emblemas algarvios pareciam a salvo.

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Matheus Nunes

6. Nem Deus salva o Benfica em Alvalade

Sem Jorge Jesus no banco de suplentes, o Benfica perdeu a 1 de fevereiro em Alvalade. O golo apareceu já muito perto do fim, marcado por Matheus Nunes, e tornou tudo mais difícil de aceitar. Na perspetiva das águias, claro.

Não houve Jesus, houve João de Deus. «É um jogo que fica resolvido para lá dos 90 minutos, quando já nem esperávamos perder e nem o Sporting esperava ganhar. É triste, frustrante, mas é o que é e temos de partir para o próximo jogo para ganhar.»

O Benfica entrou a seis pontos do Sporting e saiu a nove. Estávamos a meio do campeonato, as águias exibiam uma fragilidade evidente - covid, maus resultados, deficiências no seu jogo -, mas Rui Costa não deixava ninguém desistir da Liga.

«Estamos a nove pontos do primeiro classificado, mas deixa-me já adiantar que é expressamente proibido, a uma jornada de acabar a primeira volta, alguém pensar que o campeonato está acabado. Esta mensagem não é só para dentro, mas para fora também.»

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10.º: Arsenal, 2016 pontos

7. Esta Europa não é para o Benfica

Depois do acesso vetado à Liga dos Campeões, a Liga Europa passou a ser um objetivo forte para a afirmação do Benfica no espaço da UEFA. A fase de grupos não foi brilhante, mas foi pelo menos sólida.

Ao primeiro obstáculo sério, porém, o Benfica caiu. O Arsenal - que encerrou a Premier League num desconsolado oitavo lugar - foi superior e depois de muito sofrer acabou por resolver a eliminatória a três minutos do fim da segunda-mão.

1-1 no primeiro jogo, 3-2 para os gunners no segundo. Nem Champions, nem Liga Europa, este Benfica não tinha dimensão para os grandes palcos europeus.

«Esta passagem dava à equipa emocionalmente alento, porque tem sofrido com os resultados. Poderíamos sair daqui moralizados, mas como perdemos saímos daqui pesados e castigados. Mas vai fazer-se o quê?», perguntou Jorge Jesus no final da partida em Atenas.

Para o Benfica, a Europa começou e acabou na Grécia.

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Benfica-Gil Vicente

8. Gil devolve a águia à barca do inferno

O adeus à Liga Europa espicaça o Benfica. Jorge Jesus consegue sete jogos seguidos a ganhar, recupera o ânimo e até volta a sonhar com o segundo lugar no campeonato. As declarações públicas já têm aquele tom que só Jesus consegue empregar.

«O nosso primeiro grande objetivo é somar três pontos, sabendo que não sofrendo golos estamos mais perto de ganhar. É nisso que acreditamos e vamos tentar ser perfeitos como temos vindo a ser até aqui do ponto de vista ofensivo e defensivo.»

Nada a fazer. O Benfica está longe de ser perfeito e o competente Gil Vicente devolve à águia à barca do inferno. Derrota por 2-1 na Luz e mais contestação à vista. É uma montanha de afirmações. Para cima, para baixo, umas para o árbitro e outras para o suposto «antijogo» feito pelo Gil Vicente.

«O adversário foi acreditando, com o tempo, e também fez muito antijogo. Os jogadores do Gil Vicente cansados, com cãibras, e o árbitro a parar o jogo. Isso não se faz. Só se deve parar o jogo quando há choque de cabeças. Isso também tirou o ritmo ao jogo. O Gil Vicente fez aquilo que o árbitro permitiu. Como é normal em Portugal, o guarda-redes tirou dez ou quinze minutos de jogo.»

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Pizzi e Marega

9. FC Porto sai vivo da Luz

Com quatro jornadas por disputar, o Benfica recebe o FC Porto e tem a possibilidade de ficar a um ponto dos dragões. Mas, para isso, tem de fazer o que não consegue nos cinco duelos anteriores: derrotar os azuis e brancos.

A história repete-se, porém, o FC Porto consegue um empate a uma bola e sai vivo da Luz, com os mesmos quatro pontos de avanço sobre as águias. Pizzi ainda marca depois dos 90, mas o VAR identifica um fora-de-jogo de Darwin e o lance é anulado.

Mais um soco no estômago. Jesus aguenta. «O Benfica ainda pode ganhar dois títulos, o nosso adversário não ganhará nada.»

O treinador inclui nas contas a Taça de Portugal e a consequente presença na Supertaça - sendo que, para todos efeitos, não coloca na equação a Supertaça conquistada pelo FC Porto em dezembro passado.

O clássico realiza-se a 6 de maio. 20 dias depois, a frase de Jesus parece mais despropositada do que nunca.

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Sp. Braga festeja Taça de Portugal (Lusa)

10. The End: Benfica acaba a zeros em Coimbra

Jorge Jesus procura relativizar o peso da final da Taça de Portugal. Afirma, uma e outra vez, que o objetivo maior é o campeonato. E que esse é um peso na alma, uma dor total.

Faz sentido. A final poderia, no entanto, atenuar o peso sobre a frustração no mundo da Luz. Nada melhor do que um troféu na mão e imagens de festa para as primeiras páginas.

Ocorre, precisamente, o oposto. Helton Leite é expulso logo aos 17 minutos, o Benfica sofre desde o apito inicial e o 2-0 final é tão justo quando natural. Golos de Lucas Piazon e Ricardo Horta.

Jesus coloca o acento tónico no cartão vermelho ao seu guarda-redes. Pizzi junta-se ao coro de críticas sobre a arbitragem de Nuno Almeida e fala em «vergonha».

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