Çaglar Soyuncu está entre os nomes mais reconhecidos da seleção turca. Menos conhecido é o impacto que ele teve no país natal.
Fugindo à tradição, Soyuncu não passou por nenhum dos principais emblemas da Liga turca, ainda que tivesse surgido essa oportunidade quando estava no Altinordu. «Foi uma decisão difícil, mas decidi ouvir o treinador [Huseyin Eroglu] e o presidente [Mehmet Seyit Ozkan], e jogar nas divisões amadoras para ganhar experiência», justificou.
Foi uma decisão que deu frutos, já que o central de queixo vincado despertou interessa na Alemanha e ganhou nome na Bundesliga, com a camisola do Friburgo, antes de uma transferência de 22 milhões de euros para o Leicester. Soyuncu não é o primeiro turco a chegar a uma Liga das top-5, mas ao consegui-lo sem passar pela elite do futebol turco marcou um novo caminho para outros jovens.
Tradicionalmente, o objetivo é chegar a um clube como Besiktas, Fenerbahçe, Galatasaray ou Trabzonspor, e com isso conseguir um bom contrato. O problema é que o mercado turco é uma bolha, e os jogadores acabam por receber acima do que rendem. E embora sejam incapazes de competir com equipas das cinco principais ligas, ou mesmo de Países Baixos, Bélgica ou Portugal, os principais emblemas turcos continuam a pagar salários mais elevados do que oferecem os clubes que estão sempre a superá-los. É o equivalente futebolístico a uma zona de conforto: os jogadores têm pouco incentivo para melhorar, mas continuam a receber acima do que seria condizente.
Soyuncu marcou o início de uma nova era, no Altinordu. O pequeno (mas valente) clube de Izmir avançou com um projeto ousado e criou um novo caminho, ao detetar uma falha no mercado: a Turquia tem um número enorme de jovens futebolistas – o maior da zona UEFA -, mas estes foram ignorados durante décadas.
Nesse sentido, o Altinordu decidiu criar uma academia que desenvolvesse jogadores com um potencial suficientemente elevado para atrair clubes das principais ligas europeias. O clube comprou terrenos na região do Egeu e Anatália Oeste, onde instalou centenas de escolas para fazer recrutamento em cidades e vilas anteriormente ignoradas. Na academia do clube são ensinadas línguas estrangeiras, é dada formação em “media”, e contam com psicologistas do desporto, para além de treinadores e analistas qualificados. Tudo isto é normal nos clubes das principais ligas europeias, mas definitivamente não é o padrão na Turquia.
Soyuncu é um central competente a jogar com ambos os pés, com uma impressionante qualidade de passe e qualidade técnica para a posição que ocupa habitualmente. Algo que talvez tenha ficado dos tempos em que era avançado. «Quando jogava no ataque o meu ídolo era o Wayne Rooney. Era pequeno, na altura, e por isso adorava ver que um avançado jovem, e não propriamente alto, se tivesse tornado uma estrela», referiu o internacional turco à revista TamSaha, em 2016.
Só depois foi transformado em central, e aí o ídolo passou a ser Carles Puyol: «Adorava a sua bravura, o carácter e a liderança.»
Ainda no Altinordu, Soyuncu foi colega de quarto de Cengiz Under. Quem diria que dois miúdos desconhecidos, provenientes de um clube do qual poucas pessoas ouviram falar, das divisões inferiores, se tornariam figuras do futebol turco.
A transferência de Soyuncu para o Firburgo, em 2016, teve um impacto muito reduzido na Turquia. Ninguém deu por isso. E mesmo depois de duas épocas a jogar na Bundesliga, o defesa continuava a ser ignorado.
Depois surgiu a transferência para o Leicester. Um jogador que nunca tinha passado pela Liga turca era contratado por um clube da Premier League, por 22 milhões de euros. Soyuncu tinha finalmente captado as atenções no país natal. Ultrapassadas as dificuldades dos primeiros tempos, é agora presença regular na equipa inglesa e visto como um dos melhores defesas de uma das melhores ligas do mundo.
Se as novelas turcas têm conquistado popularidade no estrangeiro, o percurso de Soyuncu passava bem pela tradicional narrativa de alguém que vai do lixo ao luxo, por assim dizer. Mas esta é uma história verdadeira, que inspirou uma nova geração de futebolistas turcos a acreditar nas suas capacidades e a seguir este caminho.
Quando estava nos escalões amadores, Soyuncu teve um colega que foi para a academia do Galatasaray: «Ele disse-me que eu nunca ia ser nada se ficasse ali. Na altura era fácil dizer que ele tinha razão, mas eu sempre disse a mim mesmo que ia conseguir e nunca desisti.»
Quando Soyuncu fez a estreia pela seleção, em 2016, apenas três jogadores do onze inicial tinham jogado fora da Turquia. Na vitória por 4-2 sobre os Países Baixos, em jogo de apuramento para o Mundial disputado no passado mês de março, apenas dois jogadores da equipa titular eram da Liga turca. Ozan Tufan e Ugurcan Cakir já eram a exceção, e não a regra, pelo que não seria uma surpresa se, entretanto, também saíssem.
É a versão 2.0 da Turquia. Uma colheita de jogadores jovens e confiantes, que querem provar o seu valor nos principais palcos, seguindo os passos de Soyuncu.
A maior fraqueza da seleção costumava ser a defesa, mas agora está sustentada nesse setor, com Soyuncu como pedra basilar. Na qualificação tiraram quatro pontos aos campeões mundiais, a França, e sofreram apenas três golos na fase de grupos. Nenhuma equipa sofreu menos.
Soyuncu é, por isso, o líder desta nova Turquia. No papel, uma das melhores seleções que o país já teve. E o selecionador Senol Günes sabe umas coisas sobre estes torneios, se nos lembrarmos do terceiro lugar da Turquia no Mundial 2002.
A Turquia pode correr por fora, mas se tiver sucesso, Soyuncu terá um papel fundamental. É como se costuma dizer: o ataque ganha jogos, a defesa ganha campeonatos.
Emre Sarigul escreve para o turkish-football.com.
Siga-o no twitter: @Turkish_Futbol1.
Francesco Acerbi teve de deixar de jogar pelo Sassuolo, no início de 2014, para iniciar o tratamento de quimioterapia para combater um cancro nos testículos.
A rotina diária começava com quimioterapia, de manhã, enquanto via televisão (a série "House", com Hugh Laurie, era a preferida). Depois um pouco de descanso durante a tarde, e à noite discoteca, por vezes até às sete da manhã.
Definitivamente, não era uma abordagem à vida e à carreira ao estilo de Cristiano Ronaldo.
Nesta rotina entrava também pizza com atum e cebola, pois a quimioterapia deixava Acerbi sem apetite para sabores mais delicados. «Por vezes não comida, de todo. Nem dormia», chegou a dizer.
Acerbi pronto al rientro in campo dopo la dura lotta al cancro.
— Interismi Multipli (@InterismiMultip) April 7, 2014
Aldilà dei colori, forza Francesco. pic.twitter.com/B2efyxm07c
Certo dia, aproximadamente um ano depois de diagnosticado o cancro, Francesco acordou dominado pelo terror. «De repente comecei a pensar em todas as preocupações que dei aos meus pais, em todas as oportunidades desperdiçadas, nas noites passadas na discoteca. Nessa manhã tive medo da minha própria sombra. Comecei a ver um terapeuta que me ajudou muito.»
Sete anos depois, Acerbi disputa o primeiro Europeu. Agora com 33 anos de idade, é um dos melhores centrais da Serie A, e o selecionador, Roberto Mancini, olha para ele como um pilar da linha defensiva. Esquerdino e evoluído tecnicamente, Acerbi pode jogar com Leonardo Bonucci, Giorgio Chiellini ou Alessandro Bastoni, na proteção da baliza de Gianluigi Donnarumma.
Agora está a viver a vida que imaginou, mas o trajeto tem sido uma verdadeira montanha-russa.
Acerbi cresceu perto de Milão, apaixonado por futebol: «Eu pertencia à Fossa dei Leoni, a claque do Milan». Aos 14 anos deixou o modesto Atletico Civesio para jogar de forma amadora, com os amigos, mas depois acabou por voltar. Aos 20 anos foi para a quarta divisão e aos 22 estava na Serie B. Com 23 anos estreou-se no principal escalão, com o Chievo.
«Fi-lo pelo meu pai, não por mim. Tínhamos uma relação de amor-ódio. Ele desafiava-me constantemente. Em 2011, quando assinei pelo Génova, esfreguei-lhe o contrato na cara», contou alguns anos depois.
O pai, Roberto, tinha um coração fraco. Sobreviveu a sete ataques, mas acabou por falecer em 2012, quatro meses antes de o filho assinar pelo Milan. «Senti falta da forma como ele me desafiava. Estava a usar a camisola 13, que tinha pertencido a Alessandro Nesta, mas andava mais na farra do que a treinar. Costumava beber de tudo, e pensei seriamente em deixar o futebol. O cancro salvou a minha vida. Agradeço a Deus por isso», referiu o jogador.
Em julho de 2013, nos exames de pré-época do Sassuolo, Acerbi foi diagnosticado com cancro testicular. O tumor foi removido, mas pouco depois voltou a aparecer, obrigando Acerbi a fazer quimioterapia durante três meses. «Na altura não tinha medo. Só pensava por que razão o cancro não me tinha mudado. Mas depois, durante uma sesta, numa tarde de domingo, tive um sonho estranho. Foi como se o meu pai e Deus fossem a mesma pessoa, a puxar por mim. Chorei, e percebi então que o cancro era uma oportunidade. Voltava a ter algo com que lutar.»
Começou aí uma nova vida.
As noitadas deram lugar a um estilo de vida mais apropriado, entre treinos e noites calmas em casa. Nada de álcool, apenas água, vegetais, fruta, arroz e bresaola (carne seca). Tudo melhorou. Entre outubro de 2015 e janeiro de 2019, Acerbi jogou 149 jogos consecutivos, a curta distância do recorde de Javier Zanetti, que fez uma sequência de 162 jogos. Sem descanso, sem castigos e sem qualquer lesão, durante mais de três anos.
O Leicester apareceu em cena, mas “Ace” recusou. Não havia pressa para deixar o Sassuolo, clube familiar que sempre o apoiou. Francesco começou a passar horas a ajudar pessoas com deficiência e crianças com cancro. Quase todas as quintas-feiras de manhã era possível encontra-lo de bata, a preparar material de pesca ou a moldar barro numa oficina para pessoas com necessidades especiais. «Aqui sinto-me em casa. Estes amigos abraçam-se, dizem sempre “obrigado” e não julgam os outros. Ajudam-me a ver a vida da perspetiva certa.»
Em 2018 assinou pela Lazio e chegou à Liga dos Campeões, mas as prioridades não mudaram. Continua regularmente a visitar crianças doentes e a rezar pelo pai. Admirador de Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, Acerbi abraçou uma vida inspirada nos valores católicos. A fotografia do perfil de WhatsApp é a mesma há muito tempo: uma imagem de Francesco com Elia, uma criança que não sobreviveu a um cancro. «É o meu leão. Morreu a lutar», escreveu o jogador, pouco depois de ter perdido o pequeno amigo. O leão tornou-se um símbolo para Acerbi, que tatuou este animal no peito e no braço direito, para além de ter começado a chamar «leão» a todos os amigos.
A vida continuou a desafiá-lo. Em 2016 tinha dois sonhos: marcar presença no Europeu desse ano e casar com a namorada. Antonio Conte não o convocou para a seleção e a relação com Serena chegou ao fim. Cinco anos depois está no Campeonato da Europa, e a atual companheira, Claudia, está grávida. O internacional italiano vai ser pai de uma menina, e o nome será escolhido entre Celeste, Aurora ou Vittoria. Um dia, quem sabe, talvez seja pai de um menino também. E se isso vier a suceder, por que não dar-lhe o nome de Elia?
Luca Bianchin escreve para a Gazzetta dello Sport.
Siga-o no twitter: @lucabianchin7.
Na noite em que o País de Gales garantiu a presença no Euro2020, a figura do encontro foi Aaran Ramsey, que tinha acabado de trocar o Arsenal pela Juventus e marcou dois golos. O arquiteto do primeiro tento foi Gareth Bale, o rapaz de Cardiff que se tornou “galático” no Real Madrid, mas o segundo golo resultou de um movimento inteligente de Kieffer Moore, cujo trajeto até aos grandes palcos foi um pouco mais atribulado, com passagens pelo Torquay United e pelo Truro City em part-time, enquanto trabalhava como nadador-salvador e “personal trainer”.
Apenas cinco meses depois de o País de Gales ter encantado no Euro2016, Moore estava nas divisões amadoras, dado como dispensável pelo Forest Green Rovers, que o emprestou ao Torquay, clube da terra natal. Antes disso esteve à experiência no Exeter City e no Leyton Orient, mas sem ficar.
Com cinco golos em quatro golos, Moore preparava-se para assinar em definitivo pelo Torquay, em janeiro de 2017, mas Mick McCarthy, então treinador do Ipswich Town, decidiu avançar. O negócio foi fechado por cerca de 30 mil euros, e dois dias depois Moore estava nos camarotes de Portman Road a assinar contrato, antes da vitória do Ipswich sobre o Blackburn Rovers, por 3-2. Nesse dia houve um «bis» de Tom Lawrence, que agora, curiosamente, foi excluído da lista final do País de Gales para o Europeu.
Moore é mais do que um ponta de lança fixo. O avançado de 1.96m engana, à primeira vista, pois depois revela-se rápido, ágil, com capacidade para jogar com ambos os pés e com uma presença astuta no ataque, como ficou evidente no tal lance do segundo golo de Ramsey com a Hungria, naquele que era apenas o quinto jogo pela seleção. Depois disso conseguiu marcar com regularidade, o que lhe valeu a vaga no Europeu.
«Tendo em conta a minha altura, as pessoas não acreditam que eu consigo fazer aquilo que depois mostro, mas a realidade é que me movimento bem. Consigo correr com a bola, atacar a profundidade e incomodar os defesas», referiu Moore, que na última época tornou-se o primeiro jogador a marcar (pelo menos) 20 golos na mesma época desde 2010, ano em que esse registo foi alcançado por Peter Whittingham, recentemente falecido.
Antes de saber da possibilidade de contratar Moore, o então diretor do Ipswich, Dave Bowman, preparava-se para avançar por Oli Hawkins, que na altura jogava no Dagenham & Redbridge. Curiosamente, Hawkins é outro avançado habituado a jogar como central, aqui e ali. É que no Yeovil, clube pelo qual defrontou o Manchester United, na Taça de Inglaterra, Moore também recuava para o eixo defensivo de vez em quando. «É uma posição na qual sempre o senti confortável», explicou então o técnico Gary Johnson.
Moore acabou por deixar o Yeovil, no entanto, e assinou pelo Viking, da Noruega, onde jogou ao lado de John Dadi Bodvarsson, avançado do Millwall e da seleção islandesa. Foi uma transferência intrigante, mas Moore teve pouco tempo de jogo e decidiu regressar, para o Forest Green.
24 horas antes de assinar pelo Torquay, Moore estreou-se pela Inglaterra C, uma seleção composta por jogadores de escalões inferiores, em Tallinn (Estónia). Nessa equipa estavam também Ethan Pinnock (antigo colega no Forrest Green, agora no Brentford) e Jamal Lowe (agora no Swansea).
A ascensão de Moore valeu-lhe a chamada à seleção quando estava no Barnsley, mas a dada altura o avançado até esteve para ir jogar para a China e explorar a ascendência chinesa, mas esses planos não avançaram.
Natural de Devon e batizado em homenagem ao ator Kiefer Sutherland, Moore é elegível para a seleção galesa por causa do avô materno, Raymond, que nasceu em Llanrug, perto de Caernarfon, cenário de muitas viagens infantis. Provar essa ascendência é que não foi assim tão fácil. «Andámos para trás e para a frente porque não conseguíamos encontrar a certidão de nascimento do meu avô. A minha mãe procurou em todo o lado, andou a vasculhar no sótão. Toda a minha família andou à procura. Depois tivemos de enviar uma cópia e arranjar mais informação. Houve muita papelada pelo meio», explicou o jogador, há dois anos.
Moore fez apenas 11 jogos pelo Ipswich, e nenhum como titular, mas essa transferência colocou-o na montra. Destacou-se durante o empréstimo ao Roterham, na League One, e depois foi vendido aos rivais do Barnsley. O bom momento de forma levou o Wigan a pagar mais de quatro milhões de euros pelo seu passe, mas depois os problemas financeiros fizeram com que fosse vendido ao Cardiff, há um ano, por metade desse valor.
Agora com 28 anos, o avançado subiu passo a passo, na carreira, e Ryan Giggs percebeu que podia tirar melhor proveito de outros jogadores se tivesse uma referência no ataque. A qualificação resultou do esforço coletivo, mas a afirmação de Moore transformou a linha atacante do País de Gales, e entre alguns adeptos já é uma figura de culto.
Mas se não tivesse sido aquela catalisadora experiência de 28 dias no Torquay, clube pelo qual marcou um hat trick, contra o Solihull Moors, e a consequente transferência para o Ipswich, provavelmente Moore não seria agora o n.º 9 da seleção galesa.
«Lentamente, fiz o meu trajeto a subir, depois lentamente andei a descer, e depois, também, lentamente, voltou a subir. Passei muito tempo em divisões amadora. O meu trajeto foi bem diferente de muitos jogadores, mas foi uma caminhada especial», referiu.
Ben Fisher escreve para o jornal The Guardian.
Siga-o no twitter: @benfisherj.
Nota: James Lawrence era, originalmente, o protagonista da seleção do País de Gales, mas saiu da lista devido a lesão, no final de maio.
Os adeptos suíços têm Breel Embolo no coração. Apesar dos deslizes e escândalos. Ou então por causa disso, precisamente.
Nenhum outro jogador suíço teve direito a uma canção.
«Oh Embolo, Oh Embolo. I de Nati, de Schwiizer Nati, isch de Breel diehi»
«Na seleção, na seleção suíça, é que Breel está em casa», diz a canção que os adeptos suíços cantam ao mundo do futebol desde o Euro 2016, ao som do original «The Lion Sleeps Tonight».
A admiração por Embolo talvez venha do desejo que ele tem de viver a vida, e que já o atirou para as manchetes dos jornais algumas vezes, nos últimos anos. E não deixa de ser irónico que o avançado do Borussia Mönchengladbach, que lida com as regras de forma muito relaxada, em tempos tenha tratado de multas a jogadores, durante um estágio na associação de futebol da região noroeste da Suíça.
«As regras são regras», disse Embolo ao "SonntagsBlick" em 2015. «Eu tratava das nomeações dos árbitros e das multas, e ao início pensava que não podia estar a suspender um atleta por cinco semanas. Foi assim que aprendi a pensar duas vezes no que digo aos árbitros.»
Embolo nasceu a 14 de fevereiro de 1994 na capital dos Camarões, Yaoundé. A mãe decidiu ir viver para a Suíça com os filhos, por falta de perspetivas de futuro para a família em África. Embolo foi naturalizado em dezembro de 2014. «Agora sou 60 ou 70 por cento suíço, provavelmente. Mais do que africano», disse recentemente ao site da Bundesliga.
Breel diz que o futebol o ajudou a adaptar-se ao estilo de vida suíço, e até o número de camisola que usa habitualmente, o 36, está associado à rota do autocarro que ele apanhava para ir treinar, quando era pequeno. Embolo começou por jogar no FC Nordstern, e depois chegou ao Basileia através do Old Boys.
«Muitos rapazes apanhavam esse autocarro. Foram bons tempos, muito especiais. Fiz muitos amigos através do futebol. Tornou-se mais fácil a minha integração, daí a escolha do número», explicou.
No Basileia foi tudo muito rápido: estreou-se pela equipa principal em março de 2014, e foi o jogador mais jovem da seleção suíça no Euro 2016, prova em que recebeu elogios de Paul Pogba após o empate com a França. Nesse ano foi contratado pelo Schalke, mas algumas lesões graves condicionaram a evolução: primeiro fraturou a fíbula, depois lesionou-se no tornozelo, teve um edema ósseo e ainda fraturou um pé. Contas feitas o possante avançado, sempre tão combativo, esteve 604 dias lesionado.
Mas isso não o impediu de recuperar o interesse do Borussia Mönchengladbach. Representado pelo irmão mais velho de Xherdan Shaqiri, colega de seleção, Embolo assinou em 2019 pela equipa onde estavam outros quatro compatriotas: Yann Sommer, Nico Elvedi, Michael Lang e Denis Zakaria.
Já no Gladbach, Embolo atraiu a atenção da imprensa dentro e fora do campo. No que diz respeito ao rendimento, o avançado é elogiado pela capacidade nos duelos e pela forma como encaixou no estilo pressionante de Marco Rose, ainda que o técnico defenda que pode melhorar: «Tem enormes qualidades, mas claro que ainda pode melhorar certos aspetos. Tem de tentar colocar constantemente em campo os seus incríveis atributos. Tem trabalho pela frente, mas Breel está a assimilar tudo e quer evoluir.»
Fora do campo, Embolo foi notícia em janeiro deste ano, depois de ter sido apanhado numa festa ilegal perto de Essen, depois de um jogo. O jogador negou ter estado presente no espaço onde a polícia encontrou 23 pessoas, sem máscara, garantindo que apenas estava a ver basquetebol num bar próximo, com dois amigos. Fontes policiais disseram ao jornal «Frankfurter Allgemeine» que o jogador escapou pelo telhado e escondeu-se num apartamento próximo, mais concretamente na banheira, com o intuito de evitar a detenção.
Mesmo a versão mais suave da história deu origem a uma multa de 200 mil euros e um jogo de suspensão. Embolo nem sequer recorreu da multa de 8.400 euros que lhe foi aplicada pelo município de Essen, por participar no referido evento e violar a obrigatoriedade de uso de máscara.
Já antes, em dezembro de 2019, Embolo ficou sem carta por ser apanhado várias vezes pelos radares e apanhado a falar ao telemóvel enquanto conduzia. A faceta rebelde de Breel remonta aos tempos em que jogava no FC Nordstern, clube do qual esteve quase a ser expulso: durante um treino decidiu baixar as calças e mostrar o rabo. «Já não dava para aceitar mais a situação. Ele ficou proibido de jogar durante três semanas, mas eu teria-o expulsado», assumiu Karl Müller, o treinador de então. «Depois ele tirou essas ideias da cabeça. No Basileia não podia armar a confusão que armava connosco», acrescentou.
Urs Fischer, treinador do Basileia em 2015, viu em Breel Embolo um talento raro: «Treinei o Josip Drmic e o Admir Mehmedi, e no caso do Ricardo Rodríguez já se via nos sub-15 que ia ter uma carreira incrível. O Ricci também tinha uma certa despreocupação, esta calma, mas o Breel parece estar num patamar superior. E tem feito o trajeto de uma forma que tenho de dizer que é muito forte.»
Para lá das asneiras, existe também um jovem carinhoso. Com apenas 18 anos decidiu canalizar o sucesso para uma boa causa, e criou uma fundação. A missão da mesma é ajudar crianças refugiadas na Suíça, e também apoiar crianças com deficiência nos Camarões e no Peru.
«Fazemos várias coisas, como ajudar crianças a estudar ou apoiar grávidas muito jovens, que não sabem o que fazer. Temos missões muito diferentes, e sinto-me grato por esta ideia e o apoio para conseguir fazer isto
«Oh Embolo, oh Embolo!»
Max Kern escreve para o Blick.
Siga-o no twitter: @MaxKern3.