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Os protagonistas: Grupo E

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Rodri, Man City/Espanha: 80 milhões de euros

RODRI (ESPANHA)

Muitos futebolistas de qualidade perdem-se cedo, e o caminho do fracasso é sempre igual. Um potencial imenso, a ascensão até à equipa principal, e depois aquilo que acontece a todas as pessoas que são atiradas para o fundo do poço: cometem um erro. E depois outro erro, seguido por mais alguns. Até que no momento crucial, em vez de compaixão, esses jovens jogadores percebem que os treinadores, as pessoas que deviam protegê-los, acabam por abandoná-los. Começa com um erro e torna-se um trauma.

Quando Rodrigo Hernández Cascante - mais conhecido como Rodri - foi promovido à equipa principal do Villarreal, em 2015, tinha 19 anos. Um famoso olheiro que trabalhava para vários clubes da Premier League foi vê-lo ao Estádio El Madrigal e ficou espantado: «O Rodri não estava nem perto de estar preparado para jogar no principal escalão, e todos aqueles que o viam jogar, questionavam o motivo pelo qual o clube insistia num jogador que acumulava erros.»

«São jogadores que, mesmo aos 18 anos de idade, deixam claro aquilo vão ser. Nenhum olheiro que tenha observado Rodri entre 2015 e 2017 podia imaginar que ele ia ter a evolução que teve, e que se tornaria no grande médio que vemos hoje no Manchester City e na seleção espanhola», acrescentou.

Os olheiros não terão sido capazes de ver o talento que ali estava a crescer, mas no Villarreal ninguém tinha dúvidas. Desde o dia em que Rodri foi promovido à equipa principal que toda a gente concordou que era preciso protegê-lo, fosse como fosse. Tinham visto o suficiente para saberem que o rapaz tinha todos os ingredientes necessários para ser um jogador de qualidade. Como na final de 2015 da Copa Campeones Juvenil, o torneio jovem mais importante de Espanha. O Villarreal disputou a final com o Espanhol, no complexo da federação espanhola, em Las Rozas. Javier Calleja, o atual treinador do Alavés, era então o coordenador da academia do Villarreal, e descreve esse jogo como uma epifania: «O Rodri fez um jogo sublime. O Espanhol empatou a dois golos no último minuto e fomos para prolongamento. Foi então que vi nele uma autocrença, um orgulho próprio, que me convenceu que tinha o que era preciso para jogar ao mais alto nível. Ele queria mais, era ambicioso, ficava magoado com a derrota.»

Calleja sabe do que fala. Antigo médio, com passagens por Villarreal, Málaga e Osasuna, começou a treinar nas camadas jovens do Villarreal antes de assumir o comando da equipa principal em 2017/18, precisamente o período em que Rodri estava a fixar como herdeiro de Sergio Busquets.

«Aos 16 anos, a principal virtude era a visão de jogo», recorda Calleja, que destaca também a «enorme inteligência» do médio a gerir o jogo, a abrandar o ritmo quando é preciso, ou a acelerar de repente: «Ele era o coração da equipa na formação.»

O percurso de Rodri até ao topo da escadaria do futebol espanhol foi difícil. Mas para diretores e treinadores do Villarreal, um clube com uma forte cultura de formação, nunca houve qualquer preocupação. Todos sabiam como seria a subida, mesmo antes dela começar.

«Alguns jogadores nunca conseguem chegar ao escalão principal porque cometem erros e depois têm dificuldade em lidar com as repercussões. Alguns porque se sentem intimidados num contexto de elite, outros porque os treinadores não lhes dão liberdade para cometer erros. Os jogadores têm de compreender que os erros são inevitáveis, por muito bom que sejas. O mais importante é seguir em frente. O treinador tem de ajudar os jogadores a lidar com isto, transmitindo-lhes confiança. O problema é que há treinadores que pensam apenas no “aqui” e no “agora”. Não pensam na educação do jogador, pois só estão preocupados com o sucesso imediato. Quando vês um jogador com o potencial que o Rodri tinha, nenhum jogo pode mudar aquilo que pensas dele. Se acreditas nele, deves aceitar que ele vai fazer asneira algumas vezes, e que isso te vai custar pontos. Mas a longo prazo, se deres essa segurança ao jogador, vai recompensar. Sem paciência ninguém se tornaria profissional. Os jogadores devem ter a possibilidade de cometer erros», defende Calleja.

O erro que Rodri cometia com maior frequência era sair da posição e deixar a defesa desprotegida. «Queria fazer mais do que se esperava dele, corria mais do que devia. Aos poucos encontrou o equilíbrio, e aprendeu a estar sempre no sítio certo. Agora com Pep Guardiola, o treinador que mais exige aos médios, a nível intelectual, Rodri é o jogador que garante que todos os colegas estejam a preencher os espaços», acrescenta Calleja.

Rodri chega ao Europeu como o médio fundamental de uma seleção que, no seu período de maior sucesso, fez do meio-campo a chave das conquistas. Para funcionar como ponte entre o ataque e a defesa mais exposta do continente, Rodri tem de operar como um cirurgião. Não há margem para erro, mas essa é uma sensação que ele conhece bem.

Diego Torres escreve para o El País.

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Kristoffer Olsson (AP)

KRISTOFFER OLSSON (SUÉCIA)

Quando Kristoffer Olsson teve a sua oportunidade na seleção sueca, poucos acreditariam que conseguiria conquistar um lugar. Um “playmaker” pequeno, dotado tecnicamente, a jogar no centro do terreno da seleção sueca, uma equipa que construiu o sucesso relativo (quartos de final no Mundial 2018) com base num esforço coletivo para minimizar riscos?

Nem pensar, diziam muitos.

A Suécia tem mantido o 4x4x2, teimosamente, apesar de ficar muitas vezes em inferioridade numérica na zona intermédia, com um esquema que exige que os jogadores desse setor sejam fortes tanto física como tecnicamente. Poucos pensariam que Olsson seria capaz de se destacar.

Estavam todos errados. No jogo da Liga das Nações com a Rússia, em novembro de 2018, deixou o relvado sob uma forte ovação, ao ser substituído perto do fim. A Suécia ganhou e o médio fez uma boa exibição, pouco antes de trocar o AIK pelo Krasnodar.

Kristoffer não olhou para trás depois disso, e hoje em dia é um esteio no meio-campo sueco. Desde então foi titular em praticamente todos os jogos da Suécia para competições oficiais (qualificação para o Euro, Liga das Nações e qualificação para o Mundial).

A exceção? O encontro em Espanha, de apuramento para o Euro 2020, no qual o selecionador Janne Andersson apostou num meio-campo de características mais defensivas, em Madrid. A Suécia não teve qualquer hipótese e perdeu 3-0. Olsson regressou à equipa para o resto da qualificação e guiou a equipa à fase final do Euro.

Olsson passou pelo mesmo na fase de apuramento da seleção sub-21 para o Euro 2015. Após marcar três golos na vitória sobre a Turquia, que apurou a Suécia para o playoff, foi depois suplente frente à França. A Suécia perdeu 2-0 fora, mas Olsson jogou depois a segunda mão, em casa, e a Suécia goleou por 4-1, apurando-se para um torneio que viria a conquistar. A seleção sueca voltou a qualificar-se em 2017, e aí com Olsson como capitão.

Kristoffer cresceu em Norrköping, uma cidade com orgulho na sua herança futebolística, tendo em conta que o principal emblema local foi uma força dominante nas décadas de 40, 50 e 60 do século passado, conquistando onze títulos nacionais. Olsson até começou num emblema menos ilustre da cidade, o Sleipner, mas aos 10 anos mudou mesmo para o IFK Norrköping.

Aos 16 anos assinou pelo Arsenal, uma transferência que abordou então em «Blue and Yellow Dreams» (Sonhos azuis e amarelos), um documentário sobre os principais talentos do país, produzido pela cadeia pública STV: «Vou assinar por três anos e começar na equipa de sub-18. Vai ser duro, mas também divertido. Claro que hesitei, mas é o Arsenal, e podia não ter outra oportunidade.»

Liam Brady, que era então o coordenador da academia do Arsenal, falou de Olsson a Arsène Wenger e convenceu o técnico francês a falar com o talento sueco. Kristoffer começou muito bem, e até chegou à equipa principal em 2013, tendo inclusivamente marcado de penálti no desempate com o West Bromwich Albion, para a Taça da Liga.

Mas depois disso não teve muitas oportunidades, e decidiu ir para o Midtjylland por empréstimo. Alguns meses depois o emblema dinamarquês avançou mesmo para a compra do passe, mas o início de 2015 foi duro para o médio, que fraturou a perna durante um estágio da seleção destinado apenas para jogadores a atuar nos países nórdicos.

«Foi o pior momento da minha carreira até agora. Mas não serve de nada sentir pena de mim próprio. Agora está na hora de mostrar quem sou», disse o jogador na altura, com 19 anos.

Olsson voltou mais forte e esteve muito bem na primeira época ao serviço do Midtjylland. Jogou com regularidade e deu nas vistas frente ao Southampton, na Liga Europa, prova em que a equipa dinamarquesa acabou eliminada pelo Manchester United, nos 16-avos.

No ano seguinte a situação foi diferente, com Olsson desiludido com o estatuto de suplente e a pedir para sair. A relação com o clube deteriorou-se quando o médio decidiu ir diretamente para o balneário num jogo em que foi substituído logo na primeira parte: «Dá a ideia que estou no fim da fila. O clube mostrou que não acredita em mim. Não faz sentido continuar aqui», afirmou então.

O Midtjylland tinha investido uma quantia considerável para contratá-lo ao Arsenal, e por isso queria algum retorno para o libertar. O IFK Norrköping viu-se incapaz de recuperar o jogador, mas o AIK, que tinha acabado de vender Alexander Isak por um valor-recorde, decidiu avançar.

Tobias Ackerman, diretor do departamento de prospeção do emblema de Estocolmo, conhecia Olsson desde que este tinha 15 anos e jogou pela região de Östergötland no torneio organizado pela federação em Halmstad. «Quando vi que ele não estava a jogar no Midtjylland, quis levá-lo para o AIK. Mas pagámos muito dinheiro por um jogador que era suplente.»

Os mais céticos esfregaram as mãos na primavera de 2017, uma vez que Olsson teve problemas em adaptar-se à nova equipa. Recebeu críticas tanto da imprensa como dos adeptos, e no AIK a pressão é elevada, mas o treinador, Richard Norling, soube ser paciente, e teve recompensa. Olsson esteve melhor na segunda metade da época e o AIK terminou o Campeonato no segundo lugar, atrás do Malmö.

Em 2018 tudo começou a endireitar-se, e o AIK formou uma equipa forte à volta de Olsson. Com a contratação de Sebastian Larsson, no verão, tornou-se o meio-campo mais forte da Suécia. O AIK acabou por conquistar o título e Olsson foi uma das figuras. Mal teve tempo para comemorar, contudo, já que a conquista ficou consumada a um domingo, e no dia seguinte a seleção sueca concentrava-se com vista a dois jogos decisivos na Liga das Nações. Olsson viu do banco a vitória na Turquia, mas depois foi titular no triunfo sobre a Rússia.

O médio foi depois vendido ao Krasnodar, no início de 2019. O clube não vive um momento muito positivo, apenas dois anos depois da estreia na Liga dos Campeões, e Olsson até foi para o banco algumas vezes, o que aumentou a preocupação no país natal.

A Suécia não tem ninguém que possa desempenhar o papel de Olsson da mesma forma.

Olof Lundh escreve para o fotbollskanalen.

Siga-o no Twitter: @oloflundh.

3
Piotr Zielinski (AP)

PIOTR ZIELINSKI (POLÓNIA)

Pouco depois de ter sido anunciado como novo selecionador da Polónia, Paulo Sousa disse que Robert Lewandowski era a peça mais importante do puzzle. Até aqui nada de surpreendente. O técnico português está entusiasmado por trabalhar com o melhor ponta de lança do mundo, mas também aprecia bastante outro jogador: Piotr Zielinski. Um atleta excecional, com atributos que só os melhores têm. O médio do Nápoles foi muito elogiado por Paulo Sousa, mas os adeptos polacos exigem mais.

Zielinski renovou contrato com o Nápoles há um ano e ficou ligado ao clube até 2024. As negociações foram muito longas e exigentes, sendo que o contrato ficou com mais de cem páginas. Aurelio de Laurentiis, o presidente do Nápoles, queria ficar a tudo o custo com um dos seus tesouros. E a prova de que estava certo é o registo estatístico da presente temporada, a melhor da carreira de Zielinski.

Antes de assinar o novo contrato, Zielinski teve a possibilidade de ir para o Barcelona. O empresário encontrou-se com um representante do emblema catalão durante o jogo com o Borussia Dortmund, da Liga dos Campeões, mas Zielinski acabou por ficar em Itália, onde vive desde os 16 anos. É a sua segunda casa, onde vive com a mulher, Laura, com quem acaba de ter o primeiro filho, Maksymilian, sem esquecer o adorado cão. Como diz o próprio, todas as pessoas do puzzle da vida estão a encaixar.

Piotr sente-se muito feliz fora do campo, e isso reflete-se no melhor futebol da sua carreira. Mudou alguma coisa em concreto? Não. As rotinas são as mesmas. Simplesmente amadureceu. Nada de especial, garante o irmão Pawel, que joga no Miedz Legnica, da segunda divisão polaca.

Ainda assim, Zielinski continua a receber críticas pelas exibições na seleção. Os adeptos esperam o mesmo nível que apresenta na Serie A, nomeadamente que dê mais apoio a Lewandowski. Uma análise que era partilhada pelo antecessor de Paulo Sousa, Jerzy Brzeczek, que chegou a dizer que, se um dia Zielinsk acordasse e algo tivesse mudado na sua cabeça, a Polónia teria um jogador que o mundo invejaria.

Estas palavras surpreendentes podiam afetar qualquer jogador, mas o assunto ficou para trás, até porque Brzeczek foi despedido por Zbigniew Boniek, o presidente da federação polaca, ainda que tenha sido garantido o apuramento para o Europeu. Paulo Sousa tornou-se o novo selecionador e os olhos brilharam ao falar de Zielinski.

«É um jogador excecional. Recentemente ouvi Pep Guardiola a falar do Phil Foden, a dizer que ele era um génio, um talento incrível, mas para alcançar o nível máximo ele tem de saber quando mudar o ritmo do jogo. Ainda falta isso a Foden, mas o Piotr tem isso. Ele vê tudo, sente perfeitamente o espaço entre os colegas e os adversários. Tem um sentido incrível de tempo e da geometria do terreno de jogo. Pode acelerar ou baixar o ritmo do jogo com apenas um passe. É um grande jogador. Por vezes só precisa de um pouco mais de adrenalina. Vamos trabalhar para isso».

Rasgados elogios, ainda para mais deixados por Paulo Sousa, um fantástico médio que foi bicampeão europeu.

Embora seja um arquiteto no centro do terreno, Zielinski não é um líder nato. E não faz sentido esperar algo que não lhe é natural. Ele tem de falar com o seu futebol, e claramente é isso que ele está a fazer esta época, no Nápoles.

Piotr sempre foi sensível. Os pais gerem um centro de acolhimento desde 2015, mas ajudam crianças carenciadas desde 2002. Durante treze anos tomaram conta de crianças na sua própria casa, em Zabkowice Slaskie, 40 quilómetros a sul de Wroclaw.

Inicialmente, Piotr teve dificuldade em aceitar isto. Era uma criança de oito anos que tinha ciúmes de um «estranho» a viver no mesmo quarto. Ele costumava colar papéis nos móveis: «o meu armário», «a minha secretária». Até escrevia o nome nos brinquedos, para que se soubesse que eram dele. Hoje em dia o pai, Boguslaw, sorri ao recordar a reação do filho quando viu uma das raparigas a fumar um cigarro. «Ele ficou aterrorizado. Desde muito novo que é um rapaz sensível. Tínhamos receio de como iria lidar com tudo no futuro, que aquela bondade tivesse um efeito negativo na carreira.»

Gradualmente, o jovem Piotr começou a ficar mais próximo dos “irmãos temporários» e a abrir-se mais. Convidava-os para jogar futebol, e até chegou a treinar no jardim com um rapaz que tinha um problema numa perna.

O jogador deu o coração às crianças, mas à sua maneira. Discretamente, sem o desejo de atrair a atenção médica. Com o seu dinheiro comprou duas casas, na área de Zabkowice, que a família renovou e transformou em orfanatos para a associação «Piotrus Pan» (Peter Pan), um nome inspirado no filho.

«A iniciativa foi dele. É um rapaz de ouro. Quando ele vem à Polónia visita as crianças, joga futebol com elas, e também dá equipamento eletrónico que já não usa, como computadores portáteis, consolas de jogos ou tablets. Quando foi a comunhão de uma das crianças, ninguém da família apareceu. O Piotr é que veio de Itália. Ele é assim», diz o pai, orgulhoso.

O receio dos pais, de que Piotr não conseguisse lidar com o vasto mundo, revelaram-se infundados. Ele mudou-se para a Udinese quando era ainda muito novo, e aos 26 anos tem mais de 200 jogos na Serie A e é um dos jogadores mais importantes da seleção polaca. Talvez seja sensível, mas não mostra isso em campo.

Em Itália não há dúvidas do talento de Zielinski. O Barcelona quis contratá-lo, e Jurgen Klopp até chegou a enviar-lhe um helicóptero para discutir uma possível mudança para o Liverpool. Zielinki é o diamante da Polónia que tem um grande coração. O país inteiro espera que ele brilhe intensamente este verão.


Tomasz Wlodarczyk escreve para o Meczyki.

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4
Peter Pekarík (AP)

PETER PEKARÍK (ESLOVÁQUIA)

Jogar em estádios cheios da Bundesliga e em grandes torneios internacionais parecia algo muito distante para Peter Pekarík, em dezembro de 2006. O lateral direito eslovaco tinha então 20 anos, jogava no MSK Zilina, e tinha acabado de fazer a estreia pela seleção, frente aos Emirados Árabes Unidos, diante de apenas mil espectadores, em Abu Dhabi.

Foi um período de transição para a Eslováquia. Um ano depois da pesada derrota com a Espanha, por 5-1, no playoff de apuramento para o Mundial, foi promovida uma mudança geracional.

Jac Kocian foi o selecionador nomeado para comandar essa nova fase, após um mau arranque na fase de qualificação para o Euro 2008.

Em vários jogos o antigo internacional checoslovaco simplesmente improvisou. Foi o que sucedeu em Abu Dhabi. Alguns dos jogadores nunca mais jogaram pela seleção, mas com Pekarík foi diferente. Apenas dois anos e meio depois desse jogo nos Emirados Árabes Unidos estava a festejar o título de campeão alemão, pelo Wolfsburgo, e hoje em dia soma uma centena de internacionalizações.

«Deram-me a missão de reconstruir a seleção. As pessoas foram pacientes, não demos muita importância aos resultados. Não é possível promover uma mudança geracional em apenas um jogo, ou correr com toda a gente do balneário de uma vez», disse Kocian, que deu uma oportunidade a muitos jogadores que se tornaram líderes da Eslováquia, como Pekarík, Adam Nemec, Tomas Hubocan e, claro, Marek Hamsik.

Foi o trampolim para uma década de sucesso no futebol eslovaco.

Kocian foi despedido ao falhar a qualificação para o Euro 2008, e o lugar de selecionador foi ocupado por Vladimir Weiss (sénior), que tinha levado o Artmedia à fase de grupos da Liga dos Campeões. Sob esta liderança, a Eslováquia conseguiu marcar presença no Mundial 2010, a primeira presença num grande torneio desde a independência de 1993.

A Eslováquia garantiu o apuramento para o Mundial da África do Sul com uma vitória suada por 1-0, frente à Polónia, num campo coberto de neve, em Chorzow. Pekarík fez parte de um onze improvisado: «Entrámos nesse jogo com a ideia de que tínhamos de alcançar o sucesso, nem que fosse preciso jogar com as pernas partidas», afirmou depois.

Embora nunca tenha alcançado a fama de Hamsik, nem mesmo de Martin Skrtel, antigo central do Liverpool, toda a gente na Eslováquia reconheceu o valor de Pekarík. Em 15 anos foi o único lateral consistente que esta seleção teve. Por isso, quando Weiss assumiu o cargo de selecionador, fez sentido criar a equipa em torno de alguém como Pekarík. O rapaz de Zilina era alguém em quem os treinadores podiam confiar, e não é por acaso que, posteriormente, os adeptos do Hertha Berlim colocaram-lhe a alcunha Mr. Zuverlässig (Sr. Confiável).

Se o Mundial 2010 foi a primeira aparição da Eslováquia num palco assim, o Euro 2020 será a terceira participação num grande torneio de seleções. Pekarík foi fundamental no Mundial 2010 e no Euro 2016, e a sua capacidade de liderança será também muito importante este verão.

É um profissional completo, que encanta todos os treinadores. «Ele é um pouco discreto, mas dá sempre 100 por cento», defendeu Weiss. Mais tarde, quando Jan Kozak assumiu o cargo de selecionador e levou a equipa ao Euro 2016, não existiam dúvidas sobre quem seria o lateral direito.

O papel de Pekarík na equipa tem sido tão sólido quanto o de Marek Hamsik. Foi sempre uma influência positiva no balneário e nunca se comportou como uma estrela. Quando a seleção é criticada, por norma Pekarík escapa às palavras mais duras, tendo em conta o reconhecimento dos adeptos à forma como trabalha em campo e ao perfil sempre discreto.

Talvez isso esteja relacionado com o difícil início de carreira, na Eslováquia. Peter teve de jogar na liga local, enquanto a maior parte dos outros jovens talentos, como Vladimir Weiss (Júnior), Robert Mak e Hamsik, saíram logo para academias de clubes estrangeiros. Pekarík teve de começar por construir a reputação internamente.

Só depois de regressar de um empréstimo ao Dubnica é que conquistou um lugar no Zilina, e nunca mais olhou para trás, guiando a equipa ao título nacional em 2007. Em janeiro de 2009 assinou pelo Wolfsburgo, então orientado por Felix Magath, que previu logo um «belo futuro» na Bundesliga. Pekarík acaba de cumprir a 13.ª temporada na Liga alemã, algo que talvez nem Magath antecipasse.

«Tive épocas muito diversificadas. Fui campeão alemão no Wolfsburgo, jogámos a Liga dos Campeões e fomos aos quartos de final da Liga Europa. Tive épocas tranquilas no Hertha, clube pelo qual também fui à Liga Europa. Foi suave, mas algumas épocas foram difíceis, mas consegui ultrapassar tudo. Isso dá-me força», referiu o lateral direito ao jornal eslovaco "Denník N".

Ao perder o lugar no Wolfsburgo, Pekarík ainda esteve um ano emprestado ao Kayserispor, da Turquia, mas depois voltou à Alemanha para se tornar o Sr. Confiável do Hertha. O futuro está em aberto, aos 34 anos, mas a importância na seleção continua igual.

Como indica o fraco rendimento da Eslováquia, nos últimos, está já em curso uma nova mudança geracional. No lado esquerdo da defesa não correu muito bem, e Tomas Hubocan teve de regressar da “reforma internacional” para ajudar. Jan Durica e Martin Skrtel formaram uma dupla de centrais fiável, durante 13 anos, e também farão falta. Pekarík continua, e os adeptos sabem que será difícil alguém assumir o legado que vai deixar.

Lukas Vrablik escreve para o Denník N.

Siga-o no Twitter: @LukasVrablik.

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