De certa forma, o País de Gales enfrenta uma tarefa ingrata. Como conseguirão igualar o êxtase e a euforia que proporcionaram há cinco anos? O livre diabólico de Gareth Bales à Eslováquia, a batalha de Lens, a elegância de Aaron Ramsey frente à Rússia, sem esquecer a forma como Robson-Kanu rodou e finalizou, na caminhada de Gales até às meias-finais.
Aqueles que fizeram parte dessa jornada querem mais, enquanto que os novos elementos estão desejados de saborear um pouco do que foi a experiência de 2016 e escrever um novo capítulo para os adeptos.
É impossível não olhar para trás, mas se virmos para lá da superfície, para lá do brilho individual de Gareth Bale e do núcleo dessa seleção que esteve em França, existe uma nova geração de talento emergente, que inclui jogadores como Daniel James, Neco Williams e Ethan Ampadu. Esta equipa é tecnicamente dotada, rápida e ágil, mas deve também mostrar a coragem, a esperteza e o espírito de equipa de 2016.
Robert Page, o adjunto que volta a assumir o comando da equipa, na ausência de Ryan Giggs, pediu desculpa há um mês por usar os clichês habituais para responder o que seria uma boa prestação neste Europeu. «Neste momento o futebol galês está numa boa posição, e quero dar continuidade a esse momento», respondeu.
A seleção galesa estará fortalecida pela experiência do Euro2016 – o primeiro grande torneio em que participou no espaço de 58 anos -, e até parece ter maior profundidade no plantel.
Se o maior dilema de Chris Coleman, nessa altura, era escolher entre Sam Vokes ou Robson-Kanu para a frente de ataque, agora as opções são de luxo em quase todas as posições, embora no ataque continue a não ser bem assim.
O trajeto de apuramento não foi fácil, mas Gales garantiu a vaga com o «bis» de Ramsey frente à Hungria, há mais de 18 meses.
Desde então o jogador da Juventus quase não foi utilizado, e a seleção galesa andou a testar um 3x4x3 com Harry Wilson como “falso 9”, para além do 4x2x3x1 que serviu de base para a qualificação.
A ameaça do avançado Kieffer Moore pode ser significativa, numa competição em que as táticas podem ir ao ar num instante. Moore é uma presença estranha para os defesas, e provou na qualificação que é mais do que um jogador-alvo: marcou dois golos e deu uma dinâmica diferente ao ataque, permitindo que Bale jogasse a partir da direita, como tanto gosta, e James pela esquerda.
A seleção galesa está cheia de juventude, sedenta de sucesso, e ninguém está à espera que atinjam o pico de forma este verão, mas quem aposta contra eles deixarem outra marca inesquecível?