Rúben Amorim ficou e essa é a garantia maior de estabilidade no ataque a um objetivo que foge ao Sporting há 70 anos, a revalidação do título nacional. Desde o tetracampeonato, em 1954, o leão não voltou a ser campeão em dois anos consecutivos. Parte para a nova época em cima do bom trabalho feito nos últimos anos, o que vale muito. Mas parte para a defesa da Liga depois do golpe duro que foi a Supertaça, quando esteve a vencer o FC Porto por 3-0 mas acabou derrotado. Na véspera do arranque da Liga, Rúben Amorim admitiu que a equipa viveu esta semana os dias mais difíceis sob o seu comando.
No defeso o Sporting viu sair vários jogadores que foram importantes nesta caminhada, dentro e fora do campo. A despedida do capitão Coates, a decidir terminar uma ligação de nove anos ao clube para voltar ao Uruguai, é a baixa mais pesada numa lista que conta ainda com Paulinho, Adán e Luís Neto. São ciclos que terminam, sim, mas são também referências que já não estão, como notou Rúben Amorim. «É difícil olhar à mesa de refeição e ver que perdemos tantas referências.»
Eram os quatro jogadores mais velhos de um plantel que é, agora, quase exclusivamente sub-30 – a exceção é Ricardo Esgaio, que pelo menos para já continua em Alvalade. Muita juventude, agora com Hjulmand a envergar a braçadeira, que pode olhar para o contexto como uma oportunidade para crescer, como diz também Amorim.
O Sporting reforçou-se para já na baliza, para onde chegou o bósnio Vladan Kovacevic, com o estatuto de número 1, e no centro da defesa, com uma aposta forte no jovem internacional belga Zeno Debast. Para o centro do ataque há uma lacuna óbvia, com a saída de Paulinho. E há um alvo identificado, o grego Fotis Ioannidis, mas a contratação do jogador ao Panathinaikos não aconteceu a tempo do arranque oficial da época.
Além disso, Rúben Amorim olhou para dentro, no talento para potenciar. Ao longo da pré-temporada, condicionada também pelos diferentes ritmos de integração dos jogadores internacionais, trabalhou com vários jovens da formação, com um calendário intenso de jogos de preparação que serviu também para observar alternativas.
Mateus Fernandes e Rodrigo Ribeiro, regressados de empréstimo, marcaram pontos, tal como Giovanni Quenda ou Rafael Nel. Além deles, os jogadores da formação apresentados no Troféu Cinco Violinos como parte dos 29 elementos do plantel foram Afonso Moreira, mais os guarda-redes Diego Callai e Diogo Pinto e os defesas João Muniz e Diogo Travassos.
Apesar das saídas dos vários veteranos, o Sporting mantém a base da equipa das últimas temporadas. A equipa conhece cada vez melhor os processos e as ideias do treinador, que aproveitou também as semanas de preparação para aprofundar esse trabalho tático, acrescentando versatilidade e a capacidade de mudar dinâmicas em diferentes momentos do jogo.
O treinador espera não perder mais jogadores, algo que ninguém pode prometer, mas mesmo com essa incerteza, que pode prolongar-se até ao fecho do mercado no final de agosto, a pré-época confirmou que o leão sabe o que quer. A forma como o Sporting perdeu a Supertaça foi um golpe na confiança, resta saber a que ponto irá afetar a equipa.
Classificação da época passada: Campeão
Melhor classificação: 20 vezes campeão nacional
Presenças na I Divisão: 90
Objetivo: Ser bicampeão nacional
Chegou em março de 2020, quando a aposta num treinador jovem e com poucas provas dadas podia ser vista como um risco. «E se corre bem?», perguntou na apresentação. Correu mesmo. Rúben Amorim mudou a história. Na primeira época completa levou a equipa a quebrar o longo jejum de 19 anos sem que o Sporting fosse campeão. Na temporada passada, tornou-se o primeiro treinador em 70 anos com dois títulos nacionais pelos «leões». Aos 39 anos, soma cinco troféus no Sporting – duas Ligas, duas Taças da Liga e uma Supertaça, e é já o segundo treinador com mais jogos no banco na história do clube. Nem sempre correu bem e houve momentos de desgaste. Também de dúvida sobre a sua continuidade, desde logo no final da época passada, quando se tornou um dos nomes mais citados como hipótese para vários bancos dos grandes da Europa e chegou a viajar para Inglaterra na semana antes de selar formalmente o título. Admitiu que errou e a confirmação de que ficaria mesmo em Alvalade para a sexta temporada chegou na festa do Marquês.
Entradas: Vladan Kovacevic (Rakow), Zeno Debast (Anderlecht)
Saídas: Luís Neto (final de contrato), Adán (final de contrato), Paulinho (Toluca), Sebastian Coates (Nacional), Rafael Pontelo (empréstimo ao Pafos), Fatawu (Leicester em definitivo)
Foram as conversas com Rúben Amorim e o facto de o Sporting o ter seguido durante meses que convenceram Debast a rumar a Alvalade. O leão apostou forte, 15.5 milhões mais 5.5 em objetivos que fazem desta a quinta contratação mais cara do clube, para garantir um alvo de peso, um central de apenas 20 anos que é uma revelação precoce. Defesa moderno, confortável com bola, Debast somou mais de 100 jogos pelo Anderlecht, o clube onde cresceu, e tem uma dezena de internacionalizações pela Bélgica. Roberto Martínez convocou-o quando tinha acabado de completar 19 anos e levou-o ao Mundial 2022, onde não chegou a jogar. O sucessor do agora selecionador nacional manteve a aposta. Debast estava a preparar-se para o Euro 2024, onde começou a titular mas perdeu o lugar, quando confirmou a ida para o Sporting. A estreia, na Supertaça, não foi feliz, e coloca Debast sob pressão numa fase muito precoce da época.