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Tiago Pinto: a história do «índio» do Benfica que tenta reerguer a Roma com Mourinho

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Tiago Pinto com a irmã e os pais

Desde o berço

POR DAVID MARQUES

Lá em casa, quando o Benfica jogava à noite Maria do Carmo apontava o jantar sempre para antes do jogo. Porque a hora do jogo era, claro, sagrada, mas sobretudo porque já sabia que um mau resultado fazia com que marido e filho perdessem o apetite.

«Não era e não é uma prática nesta família ver jogos de futebol enquanto se faz uma refeição: ou é antes, ou é depois. E, normalmente, jantávamos antes. Sobretudo naqueles anos em que o Benfica ganhava menos, as derrotas impactavam o apetite para a refeição. Ainda hoje, o nosso pai é assim: se o Benfica não ganhar ou se jogar menos bem, ele é capaz de não jantar», confidencia ao Maisfutebol Diana Pinto, irmã de Tiago e seis anos mais nova do que o atual diretor-geral da Roma.

Numa família de benfiquistas, José Fernando Pinto foi quem mais incutiu o benfiquismo no filho, que até podia ter pendido para outras cores, ou não fossem quase todos os amigos portistas. Mas nem houve tempo para isso. A primeira roupa que vestiu foi-lhe, como mandava a tradição, oferecida pela madrinha e a segunda foi um equipamento do Benfica.

Tiago Pinto com um dos vários equipamentos do Benfica que teve na infância (arquivo familiar)

Nascido em Vila Real a 31 de outubro de 1984 e benfiquista desde o berço, André Tiago Ferreira Pinto cresceu na Moura Morta, uma aldeia do concelho do Peso da Régua com cerca de 300 habitantes. Foi lá que fez a escolaridade até ao quarto ano, a partir do quinto passou a estudar na Régua e foi também por ali que começou a praticar futebol federado, primeiro no Real Clube Penaguião e depois no Futebol Clube de Fontelas.

Oriundo de uma família com raízes humildes, a partir dos 12 anos começou a passar os verões a ajudar na serralharia do pai, onde se transformava ferro e alumínio em portas, janelas e grades. Para aprender o valor do trabalho, defendia o patriarca.

As idas à capital, pela mão do pai para ver o Benfica jogar no antigo Estádio da Luz, eram raras e ficavam-se geralmente pelos jogos de apresentação na pré-época. Mas os dois, por vezes acompanhados por Diana, seguiam a equipa em alguns jogos no Norte.

Os três assistiram, no Estádio do Bessa na tarde/noite de 22 de maio de 2005, ao jogo com o Boavista em que os encarnados colocaram um ponto final no maior jejum do clube sem um título de campeão no futebol. Tiago, que já estudava no Porto, esteve horas numa fila para conseguir arranjar bilhetes, mas lá conseguiu, conta a irmã. «Lembro-me de no final estarmos todos abraçados e acho que foi das poucas vezes em que vi o meu pai chorar de alegria. O meu pai nasceu em 60 e viveu o Benfica numa época gloriosa, mas depois viu também o outro lado. Ali, foi o culminar de um ciclo, o iniciar de outro e ele estava a viver isso com os dois filhos no Porto. Foi muito emotivo.»

À medida que foi crescendo, Tiago tornou-se cada vez mais dedicado ao clube do coração. Quando fez 16 anos, recebeu luz verde para ser ele a gerir o dinheiro da mesada e decidiu logo tornar-se sócio. Nessa altura, no início do século, o Benfica atravessava o período mais conturbado em quase 100 anos de história: Manuel Vilarinho tinha acabado de derrotar nas eleições o então presidente Vale e Azevedo, que tinha empurrado o clube para uma crise financeira sem precedentes, e no final da época a equipa não foi além de um 6.º lugar na Liga, a sua pior classificação de sempre.

Mas Tiago continuava fiel, nas alegrias e nas tristezas. Comprava equipamentos, lia livros, não deixava passar os clássicos jogos de tabuleiro personalizados «à Benfica» que eram lançados pelos jornais desportivos, via os programas, estava atento às notícias e passava horas à frente da televisão a ver os jogos de futebol e das modalidades.

A par disso, foi-se tornando num benfiquista ideológico: muito bem informado sobre a história e a atualidade do clube, defensor do ecletismo e atento a eventuais violações de estatutos. Vigilante.

* Na foto de fundo, Tiago Pinto está com a irmã e os pais (imagem cedida por Diana Pinto)

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Benfica: as imagens do dia de eleições

A AG em que saiu do anonimato e cativou Vieira

A Assembleia-Geral de 14 de junho de 2012 prometia ser uma das mais quentes dos últimos tempos. Pela segunda época consecutiva, o Benfica deixara fugir o título para o FC Porto e a vitória da Taça da Liga e a chegada aos quartos de final da Liga dos Campeões não chegavam para que o ano fosse catalogado como satisfatório. Jorge Jesus, o treinador, era cada vez mais contestado e uma franja de sócios questionava diversos atos de gestão do presidente. Um dos insatisfeitos era Tiago Pinto, que até tinha votado em Vieira nos atos eleitorais anteriores, mas ponderava seriamente mudar o sentido de voto.

Naquele dia, pediu para sair mais cedo do trabalho na Escola de Miragaia, no Porto, pegou no carro e fez-se, sozinho, à estrada em direção a Lisboa. Chegou à Luz por volta das 18h00, duas horas e meia antes do início da AG. Nervoso, empurrou a custo o lanche/jantar e bebeu um café no 3.º Anel. Provavelmente, aquele sócio seria também o único que naquele final de tarde quente entrou no Pavilhão n.º 2 com uma camisola vermelha vestida. De lã.

Com ele levava um discurso escrito, que já sabia de cor, e queria regressar ao Norte de consciência tranquila. E esse estado de alma só seria alcançado se pudesse ir ao púlpito falar na primeira Assembleia-Geral do clube em que estaria presente.

Tiago Pinto, então com 27 anos, tinha um blogue chamado «benficadepedendente» - entretanto apagado – e frequentava outros espaços semelhantes dedicados à discussão sobre o universo encarnado. Naqueles tempos refletia sobre o rumo que o Benfica estava a seguir e era crítico do modelo de liderança de Luís Filipe Vieira.

Depois da votação do orçamento para a temporada seguinte, inscreveu-se para falar e foi chamado. Em alguns minutos de intervenção, atribuiu mérito à obra do presidente na recuperação do clube, mas depois deixou-lhe duras críticas: acusou-o de ter levado não benfiquistas para a administração, de ter afastado Nuno Gomes, esvaziado as competências de Rui Costa, de ter atraiçoado o benfiquismo e disse ter dúvidas se ainda seria a pessoa certa para o lugar que ocupava.

E dirigiu-lhe um conjunto de perguntas.

Porque é que tinha apoiado Fernando Gomes – que apelidou de «homem da fruta» - para as presidências da Liga e, depois, da FPF? Porque é que contratava jogadores que nunca vestiriam a camisola do Benfica? Qual a lógica de investir na formação para, depois, não haver aproveitamento na equipa principal? Que explicação tinha para que o Benfica, aparentemente estabilizado, ganhasse menos do que em anos mais turbulentos?

No final, Tiago Pinto foi muito aplaudido e Luís Filipe Vieira chamou-o. Entregou-lhe um papel com o número de telemóvel e disse-lhe que queria conhecê-lo e explicar-lhe tudo. «O que tem de fazer é explicar aqui a toda a gente», atirou-lhe o sócio 33.961 do Benfica. Aquele discurso inflamou o ambiente no pavilhão, Vieira acabou por não responder e o jovem associado terminou a noite com um misto de felicidade – pelo sentimento de missão cumprida e pelo feedback dos sócios – e de desilusão, por ter visto as perguntas caírem em saco-roto.

Tiago guardou o papel com o número do presidente, mas nem o registou no telemóvel. Achava que aquela interpelação tinha sido mais uma estratégia para o calar ou uma operação de charme do que outra coisa.

Mantém os teus amigos por perto e os teus inimigos ainda mais perto.

«Lembro-me de onde estava quando recebi o telefonema do Tiago a dizer que o presidente tinha falado com ele e lhe tinha dito que gostava de falar um bocadinho melhor com ele e conhecê-lo melhor e pensei: ‘Não sei se isto é muito normal, é estranho o que pode vir daí…’», lembra a irmã.

Uns dias depois, recebeu uma chamada: do lado de lá da linha estava Luís Filipe Vieira. Insistia que queria conhecê-lo apesar de o ter «rebentado» à frente de 350 sócios do Benfica. O encontro deu-se no dia da «negra» da final de futsal com o Sporting. Ficaram seis horas à conversa e gerou-se uma empatia entre os dois. «Ele ficou surpreendido com tanta coisa que eu sabia sobre o Benfica, e particularmente sobre as modalidades, e começámos a criar uma relação de alguma proximidade e de partilha de ideias sobre o clube e para o clube», contou numa rara entrevista, ao jornal A Bola, após a conquista do título na época 2018/19.

«Antes de ele imaginar que ia para o Benfica, lembro-me de que havia uma situação que mexia muito com ele: não conseguia compreender como é que um clube como o Benfica metia tão pouca gente nos pavilhões e, por sentir que precisava de ajudar o clube de alguma maneira, desenhou um plano e mandou-o para lá. Na altura até me disse que não lhe tinham respondido, mas que estava de consciência tranquila, porque pelo menos tinha tentado. Ele tinha um amor e uma dedicação ao Benfica que era uma coisa fora do comum. Eu até costumava dizer-lhe que ele acordava e adormecia a pensar no Benfica. E ele não negava», recorda ao Maisfutebol Eurico Mateus, amigo e colega de Tiago Pinto na Escola de Miragaia, onde trabalharam juntos de 2008 a 2012.

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Tiago Pinto com Eurico Mateus

A ida para o Porto aos 17 e os anos marcantes na Escola de Miragaia

Quando terminou o 12.º ano, Tiago Pinto candidatou-se a dois cursos – Psicologia e Ciências da Educação, ambos da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto – e acabou por ser colocado no segundo, com média de 17 valores.

Foi nesses anos que comprou um lugar cativo e começou a ir regularmente ver jogos ao Estádio da Luz na companhia de um colega com quem dividia as despesas das viagens.

Um dia, uma tia que vivia perto de Lisboa perguntou-lhe porque é que não fazia um pequeno desvio e a visitava quando ia à capital ver a bola: «Gostas mais do Benfica do que da tua família?»

«Eu cresci a saber o lugar que o Benfica ocupa na vida do Tiago. E uma das perguntas que nunca lhe podemos fazer é precisamente essa, porque já sabemos qual vai ser a resposta. O amor dele, para a família e para os amigos, é incondicional, mas sabemos perfeitamente o lugar do Benfica na vida dele. Se o Benfica perde 3-2 com o FC Porto, eu não posso estar à espera que o Tiago esteja disponível para ouvir um drama familiar», explica Diana Pinto.

Ainda durante a licenciatura, Tiago candidatou-se a um projeto apoiado por fundos europeus e que tinha por base a promoção do sucesso escolar. Desenhou um projeto que foi aprovado e foi aí que (sem contar com o trabalho na oficina do pai) teve o primeiro emprego a sério, a ganhar o salário mínimo durante seis meses na Escola de Miragaia.

Foi a essa escola que voltou em 2007, já como técnico superior de educação e a coordenar o gabinete de intervenção e promoção do sucesso educativo, ao abrigo do programa TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária), iniciativa governamental aplicada em escolas com contextos problemáticos – pobreza, indisciplina, violência, abandono precoce e insucesso – como o que se verificava em Miragaia.

«Noventa por cento dos alunos da escola eram oriundos de uma classe social muito baixa em termos económicos. Tinham uma base muito desfavorecida, sem grandes expectativas em relação à escola nem grandes competências sociais ou organização familiar. E o nosso trabalho essencial era muito focado em jovens com esse contexto familiar», explica Eurico Mateus, que fazia parte desse gabinete multidisciplinar.

«O Tiago era minucioso e conseguia fazer um acompanhamento individualizado: não preparava, entre aspas, um medicamento para todos os alunos. Era o medicamento certo para cada um, consoante as suas especificidades. Ele ia ao pormenor e tinha uma capacidade de trabalho estrondosa. Foi o melhor profissional com quem eu trabalhei», atesta.

Parte desse trabalho de acompanhamento era feito em situações mais extremas, como quando um aluno era expulso por mau comportamento ou se envolvia numa zaragata, mas outra parte acontecia no recreio, em contextos informais, onde Eurico e Tiago jogavam à bola e ténis de mesa e conversavam sobre futebol com os alunos. «Ele não era um ‘senhor doutor’ que tratava dos problemas dos miúdos no gabinete. Ia muitas vezes espontaneamente ter com eles, falando-lhes numa linguagem que eles entendiam. E essa aproximação aos miúdos, fazendo o que eles faziam e estando no mesmo ‘mundo’ deles, permitia-nos conquistá-los. Lembro-me de que o Tiago dizia muitas vezes isto: ‘Temos de perceber o que é que eles precisam.’ E, muitas vezes, só precisavam de ter ali alguém para dar uns toques na bola com eles. Podia não parecer nada no momento, mas era uma janela de entrada para ganharmos confiança e termos uma conversa mais profunda dois ou três dias depois.»

Eurico Mateus vinca que aqueles tempos foram desafiantes e com famílias em conflito permanente. Resquícios da tristemente célebre «Noite Branca». Conta a história de dois grandes amigos que viviam paredes-meias mas que, assim que saíam da escola, tinham de se separar e seguir caminhos diferentes até casa para que não fossem vistos a chegar juntos, e lembra a habilidade de Tiago para sentar famílias à volta de uma mesa e serená-las. «Houve ali situações com famílias da zona da Ribeira e de Miragaia em que as famílias iam à escola para partir aquilo tudo e depois de uma conversa mediada pelo Tiago quase que saíam de lá aos abraços.»

Já lá vão quase dez anos, mas Eurico Mateus diz ter ainda bem vivos na memória aqueles últimos dias de Tiago Pinto na Escola de Miragaia, no outono de 2012, altura em que já seria uma espécie de conselheiro do Benfica.

De partida para Lisboa, escreveu à mão uma carta para cada aluno da escola. «Em cada uma, ele fazia referência a coisas específicas de cada aluno. Estamos a falar de perto de 250 e ele conhecia uma especificidade de cada um. O Tiago não generalizava. Não havia os alunos do 6.º B: era o André do 6.º B, o João do 6.º B, a Maria do 6.º B. Todos diferentes uns dos outros e cada um com as características positivas e os seus problemas. Para muitos, foi duro vê-lo partir e eu sei que também não foi fácil para ele. As conversas de despedida que tinha com os miúdos, que lhe pediam muitas vezes para não ir embora, foram duras, porque ele também tinha estabelecido ligações muito fortes. Ele tem um gesto muito particular, que é o de coçar a cabeça em situações difíceis. E isso acontecia muitas vezes quando os miúdos se afastavam depois de conversarem com ele», recorda Eurico, que foi citado por Tiago nos agradecimentos da dissertação do mestrado – Incentivos não monetários: uma alternativa de compensação em tempos de crise? – em Economia e Gestão de Recursos Humanos, concluído em 2011.

* Na foto, Tiago Pinto com Eurico Mateus, colega e amigo que referenciou para o lugar dele quando deixou a Escola de Miragaia

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Tiago Pinto na Roma

As desconfianças e a chegada ao Benfica...

Depois da impactante intervenção na AG, Tiago Pinto manteve-se ativo na blogosfera e atento ao que começara a escrever-se lá sobre ele. Chegou a escrever no Novo Geração Benfica, um dos mais frequentados pelos adeptos do clube, continuou a alimentar o «benficadependente» por mais algum tempo e com o passar das semanas foi-se notando uma aproximação a Vieira.

Com isso vieram também as críticas.

«Bem sei que muitos de vós pararão a leitura do post aqui e me catalogarão como ‘vendido’ ou ‘afilhado’, como se tem dito pela blogosfera…», escreveu num texto de esclarecimento que publicou no blogue pessoal.

Tiago explicou que quando discursou na AG tinha como propósito ver esclarecidas algumas inquietudes e que se isso acontecesse voltaria a apoiar o então líder dos encarnados.

«O presidente recebeu-me, respondeu uma a uma a todas as questões e deu-me informação suficiente para eu continuar a acreditar no projeto que tem para o Benfica e, acima de tudo, demonstrou uma humildade e simpatia que não são visíveis através das câmaras de televisão. (…) A postura, simpatia, humildade e a paixão pelo Benfica que o presidente me demonstrou deixam-me mais tranquilo relativamente ao futuro, voltando a acreditar que Luís Filipe Vieira é a pessoa indicada para liderar o clube.»

E anunciou: «Nunca serei um seguidor acrítico, de ninguém, mas garanto que em outubro, como nos anteriores atos eleitorais, votarei Vieira.»

«Não foi um período muito fácil e lembro-me disso ser um tema para ele», lembra Diana Pinto.

Estávamos em agosto de 2012 e Tiago acumulava dois trabalhos no Porto – o principal, enquanto coordenador na Escola de Miragaia, e outro na Escola Superior de Enfermagem de Santa Maria, onde dava aulas de pedagogia – e por lá continuou até pouco depois das eleições no final de outubro, que Vieira venceu com 83 por cento dos votos, e ao convite recebido para trabalhar no clube do coração.

«Quando se coloca essa possibilidade, não temos dúvidas de que ele conseguiu juntar o melhor de dois mundos: a paixão da vida dele como trabalho. Claro que ele sempre sonhou trabalhar um dia no Benfica. Lembro-me de ele ter ido a um programa na Benfica TV que se chamava, salvo erro, ‘O Maior Benfiquista’, e de dizer que tinha a ambição de um dia trabalhar no Benfica», conta a irmã.

Mas o sonho, até àquela AG, não passava disso mesmo: Tiago queria servir o Benfica de alguma forma, mas não sabia como é que a formação académica e o trajeto profissional que fizera até ali podiam levá-lo aos cargos que haveria de ter.

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Tiago Pinto e Rui Vitória num Benfica-Marítimo em 2017/18

... e mais desconfianças

O dia 11 de novembro de 2012 marca definitivamente o princípio de uma nova vida de Tiago Pinto, que entra no Benfica como assessor do presidente para as modalidades, uma espécie de estágio preparatório para o cargo de diretor-geral das modalidades, que ocuparia formalmente a partir da época seguinte.

Orlando Dias, secretário do gabinete da presidência de Vieira durante 17 anos, foi uma das pessoas que mais conviveu com Tiago nos primeiros anos do Benfica. Partilhou com ele o gabinete, foi amigo, confidente e um suporte para que o agora diretor-geral da Roma seguisse em frente perante a desconfiança em relação a ele que também se fazia sentir nos corredores do Estádio da Luz.

«Luís Filipe Vieira viu-lhe enormes qualidades e apostou nele, o que causou até algum incómodo entre os seus pares. O Tiago passou por vários momentos difíceis nos primeiros meses e houve uma vez em que ele veio falar comigo desanimado e disse-me que estava a pensar em voltar para o Norte. O que é que eu lhe disse? Que ele tinha sido uma escolha estritamente do presidente e que tinha de enfrentar as dificuldades de frente, com coragem, persistência e humildade, porque caráter já ele tinha. Se ele desistisse, ia voltar a dar aulas numa escola, com todo o respeito que isso merecia, mas ele agora estava no Benfica e aquele comboio não passava duas vezes», conta ao Maisfutebol.

«Como posso continuar a confiar em si quando me pejou esta direção de pessoas não benfiquistas? (…) O senhor presidente ignora os princípios do nosso clube e foi preenchendo funções estruturantes do nosso clube com pessoas que são de outros clubes.»

Algumas das figuras a quem Tiago fizera referência na AG meses antes cruzavam-se agora quase diariamente com ele e isso era motivo de natural desconforto. Havia também quem o visse como o «miúdo» a quem o presidente tinha achado piada e que não tinha competências para o lugar que lhe estava destinado.

E a isso só podia responder de uma forma: com trabalho.

«Reconheço honestamente que eu próprio duvidei dele inicialmente. A falta de experiência anterior era para mim o busílis da questão. Era necessário apresentar trabalho sério e muito rigoroso, implementando ideias diferentes do que se praticava há anos a fio nas modalidades. Trabalho focado no acompanhamento de todas as sessões de treino que se realizavam nos pavilhões, sinalizando a performance de cada atleta e até de cada treinador. Trabalho de visionário, inclusive nas contratações de jogadores para as cinco modalidades. O foco e o trabalho árduo e intenso foram as suas maiores virtudes», recorda o senhor Orlando.

Tiago chegava ao Estádio da Luz por volta das 08h00, quando a SAD ainda estava deserta, e daí seguia para os pavilhões, onde passava todo o dia.

Gradualmente, o miúdo-a-quem-o-presidente-tinha-achado-piada foi ganhando terreno, sobretudo nos pavilhões 1 e 2 da Luz.

«Não lhe estou a fazer favor nenhum se disser que houve um antes e um depois do Tiago Pinto nas modalidades do Benfica. Ele tinha capacidade de visão, de gestão, de planeamento de ação e de operacionalização. E uma visão desportiva pouco comum entre os dirigentes», diz ao Maisfutebol Pedro Nunes, antigo treinador da equipa de hóquei em patins das águias.

«Há vários momentos que me marcam do período em que trabalhei com o Tiago, mas destaco dois. A organização da Liga Europeia, que o Benfica ganhou no Pavilhão da Luz em 2016, e a forma como me contratou. Nunca tinha tido o prazer de ouvir de um dirigente desportivo a apresentação de um projeto da forma como o Tiago a fez. Ainda antes de eu ser contratado, fomos tendo algumas conversas desde janeiro e ele perguntou-me o que é que eu achava que o Benfica precisava para ser campeão mais vezes e para ganhar títulos na Europa. Confesso que fiquei surpreendido: um dirigente profissional, acabado de chegar à direção das modalidades, ter a humildade de perguntar isso a um treinador que estava no Paço de Arcos é revelador de alguém que tem uma mente muito mais aberta do que normalmente encontramos num dirigente desportivo. Além disso, ele tinha uma dimensão humana enorme e também a mostrava na forma hábil, mas sempre frontal e muito genuína, com que geria conflitos que por vezes surgiam entre o treinador e os jogadores ou entre os próprios jogadores», aponta o técnico que esteve no Benfica entre o verão de 2013 e o final de 2018 e que destaca ainda a capacidade do dirigente para desbloquear contratações mais complicadas.

«Ele era um profundo conhecedor do mercado. Lembro-me que o que mais impressionou e fez com que o Carlos Nicolía assinasse pelo Benfica foi a conversa que teve com Tiago Pinto. E podemos aplicar isso a outros jogadores como o Jordi Adroher e o Guillem Trabal. Ele falava-lhes muito do que o Benfica representa na sociedade portuguesa e também a nível europeu e mundial. E, além do lado profissional, ele conseguia transmitir a paixão que tinha pelo Benfica. E isso impressionava os atletas, além de tudo o resto que lhes era mostrado, como as infraestruturas e a organização do clube. E deixe-me dizer que só por uma vez não estivemos em consonância: quando o Marc Torra saiu [2016] e ele me convenceu que íamos continuar a ganhar substituindo-o por um jogador júnior. Acabámos por não ganhar esse campeonato por causa do último jogo com o Sporting em Alverca», recorda.

Alinhado com Domingos Almeida Lima (vice-presidente do Benfica com o pelouro das modalidades), treinadores e restante staff, Tiago Pinto ajudou a remodelar profundamente a rede de sustentação das cinco principais modalidades de pavilhão: voleibol, hóquei em patins, andebol, futsal e basquetebol. Passou a haver uma aposta mais vincada na formação, a percentagem de jogadores estrangeiros caiu e deram-se passos em frente no profissionalismo, com a criação de serviços de apoio semelhantes aos que eram disponibilizados ao futebol profissional, com fisiologistas, nutricionistas, psicólogos, etc. E tudo isto com um orçamento mais reduzido.

Em 2014/15, época em que o Benfica se sagrou campeão nacional e ganhou também as quatro taças no futsal, hóquei, basquetebol e voleibol (falhou apenas o título no andebol), os resultados desse trabalho ficaram à vista. De todos.

«Para os que torceram o nariz à sua contratação, foi o reconhecimento definitivo da excelência dele», testemunha Orlando Dias.

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Tiago Pinto com Luís Filipe Vieira e Rui Costa

A ascensão ao futebol profissional do «melhor funcionário» de Vieira

Tiago Pinto ficaria mais duas épocas à frente das modalidades de pavilhão e no verão de 2017 Vieira olhou para dentro para preencher o lugar deixado vago por Lourenço Pereira Coelho, diretor-geral para o futebol durante todo o percurso rumo ao inédito tetra na história do Benfica.

«Quando ele saiu para o futebol, eu disse-lhe exatamente isto: ‘Muito feliz por si, mas muito triste pelas modalidades, que vão ficar a perder. O que é que mudou? Tanta coisa. Não tenho dúvidas nenhumas de que se deram muitos passos atrás, independentemente que houvesse da parte da direção, e em particular do Dr. Domingos Almeida Lima, vontade de que tal não se verificasse. Mas era impossível naquela altura preencher o vazio que o Tiago deixou. Às vezes, em jeito de brincadeira eu dizia que até podia haver outros ‘Tiagos Pintos’ no futebol, mas nas modalidades só havia um. E é por isso que não tenho dúvidas – e aqui até falo como sócio do Benfica – de que ele fazia mais falta às modalidades do Benfica do que ao futebol, que naquela altura tinha uma máquina em funcionamento e uma pessoa por quem eu tenho uma elevada estima, consideração e respeito pelas capacidades profissionais, que é o Lourenço Pereira Coelho», refere Pedro Nunes.

Por essa altura, o presidente dos encarnados já comentava que tinha acertado na mouche na decisão tomada em 2012. Apreciava-lhe o dinamismo, os resultados que entregava e até o facto de estar ligado ao trabalho 24 sobre 24 horas.

Mais tarde chegaria mesmo a dizer, na presença de altos quadros do Benfica, que Tiago Pinto era o melhor profissional que tinha contratado durante todos os seus anos à frente do clube.

* Na foto, Tiago Pinto abraçado por Luís Filipe Vieira no fecho de ciclo no Benfica (Tânia Paulo/SL Benfica)

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Tiago Pinto

Mudança de paradigma, o Seixal em transformação e a amizade com Rúben Dias

Mas, agora, o desafio era outro: de igual exigência, embora num mundo mais sujeito ao escrutínio, à crítica e no qual uma simples decisão podia custar milhões.

«Eu não conhecia pessoalmente o Tiago, que me diziam que era alguém com grande potencial e que tinha mostrado muita qualidade nas modalidades. Mas o futebol é um mundo completamente diferente e essas eram as minhas reservas: de alguém novo, sem experiência de futebol, substituir uma pessoa tão importante e com tanta experiência no cargo como o Lourenço Coelho, por quem fizemos força para que continuasse connosco. Mas eu já tinha trabalhado com duas/três pessoas que se tinham estreado comigo em cargos semelhantes e também por isso não fiquei alarmado. Sabia que só era preciso um bom enquadramento e boa capacidade de trabalho em conjunto. Não diria que se adaptou facilmente, porque aquilo é um barco muito grande, mas o Tiago foi sempre dando resposta aos problemas de uma forma muito imediata e ao fim de uns tempos, com ajuda e ajustes que se foram fazendo, ele já estava perfeitamente identificado», recorda Rui Vitória ao Maisfutebol.

Dois anos antes, a chegada de Vitória à Luz para o lugar de Jorge Jesus, que saíra para o Sporting envolto numa polémica que se arrastou durante quase um ano com idas a tribunal e palavras azedas de parte a parte, abriu a porta a uma mudança de paradigma.

Do Seixal já saíam fornadas de jovens talentos, mas poucos eram os que se afirmavam como apostas claras na equipa principal. Em 2015, o panorama mudou e o denominado «elevador» passou a estar mais acessível.

A chegada de Tiago Pinto à direção-geral para o futebol coincidiu também com o período em que o Benfica Campus foi ampliado e no qual foram criados, redefinidos ou reconstruídos alguns departamentos já existentes, como o de scouting. «Até tivemos reuniões para estudar a arquitetura das instalações, de forma a torná-las mais funcionais e eficientes para o futebol. Além do restante trabalho que fazíamos juntos, tivemos de resolver também esses assuntos e isso contribuiu para criarmos laços muito fortes. Suportámo-nos muito um no outro», atesta o ex-treinador do Benfica.

Foram também Rui Vitória e Tiago Pinto que desenharam e colocaram em marcha o Elite Player Group, um projeto que consistia em identificar os 11 jogadores com maior potencial numa geração e trabalhá-los de uma forma mais individualizada.

«Eu dei a sugestão e o Tiago suportou-a com tudo o que era a parte operacional. O objetivo era aprimorar o mais possível a excelência do jogador que estaria na iminência de entrar no futebol profissional. No fundo, com base em variantes como a parte técnica, tática e até social, olhar para ele como um estudante de faculdade e ver o que é que ele precisava para ter nota 20. E, com uma equipa que estava a trabalhar nesse projeto que tinha jogadores como João Félix, Florentino, Gedson ou Ferro, íamos tentando dar ali os últimos retoques para que chegassem à equipa principal ainda mais capazes. Isto não é muito abordado, e nem tem de o ser, mas temos a noção clara de que trabalhámos muito em prol do Benfica também através da criação de vários departamentos», conta.

Na primeira época de Tiago Pinto à frente do futebol, os encarnados falharam o pentacampeonato, caíram na fase de grupos da Taça da Liga, nos oitavos de final da Taça de Portugal e tiveram uma campanha embaraçosa na Liga dos Campeões, com zero pontos na fase de grupos e apenas um golo marcado e 14 sofridos.

Choveram críticas dirigidas à estrutura a propósito daquilo que foi visto como um desinvestimento flagrante no plantel: da equipa saíram vários titulares indiscutíveis como Ederson, Lindelof, Nélson Semedo e Mitroglou, e entre os jogadores contratados vários não ficaram no plantel e só um se assumiu como habitual titular: o guarda-redes Bruno Varela, então regressado ao clube após uma boa época no V. Setúbal.

A dar os primeiros passos na equipa principal estava Rúben Dias, que se estreou em setembro de 2017 numa visita a casa do Boavista e a partir daí agarrou um lugar no onze ao fim de quase uma década ligado ao clube. Ao Maisfutebol, o agora central do Manchester City recorda as palavras de Tiago Pinto a escassos minutos de entrar em campo num jogo no qual saltou para a titularidade devido à lesão de Jardel e à baixa de última hora de Lisandro por doença.

«Como é óbvio, eu estava com muita vontade, mas também um bocadinho de ansiedade boa. E ali antes de entrar em campo, já depois do aquecimento, o Tiago apanhou-me rapidamente numa ida à casa de banho, veio ter comigo e disse-me: ‘Olha lá, eu podia estar a dizer-te o que digo aos outros todos. Para estares tranquilo ou para não teres ansiedade, mas eu sei que tu estás mais do que pronto para isto. Tu não estiveste à espera que isto te caísse nas mãos. Tu estiveste a preparar-te para o dia em que esta oportunidade ia aparecer, porque sabias que um dia ela apareceria. Aproveita, desfruta e cumpre o teu destino.’ Foram palavras que me deram uma força especial», conta quem reconhece que o facto de ter chegado à equipa principal das águias sensivelmente ao mesmo tempo de Tiago Pinto contribuiu para terem criado uma amizade que se mantém.

«Sempre fomos muito próximos, talvez pela nossa ascensão ter coincidido em termos de timing. E ele tinha ‘esse’ toque especial de saber como falar com jogadores com personalidades diferentes e, quando tinha de ser, chamá-los à atenção de um forma cuidada e sem criar aversão. Pelo contrário, até criava uma ligação que tornava tudo mais fácil», observa.

Tal como aos alunos de Miragaia, Tiago também escreveu cartas no Benfica. Rúben Dias recebeu uma delas, mas quando foi a vez de ele ir embora para Inglaterra, já com a época 2020/21 em andamento há algumas semanas.

«Apesar de ele querer que eu ficasse no Benfica e de eu o entender perfeitamente, ele entendeu também a minha ambição de querer dar o passo seguinte e ficou muito feliz por mim. Quando eu me fui embora, ele escreveu-me uma carta que eu vou emoldurar: tenho-a guardada. Ainda não está emoldurada, mas lá estará quando fizer um museu de raiz em minha casa. É uma carta muito especial que tem um resumo com o sentimento que houve desde que nos conhecemos e também a apreciação por eu estar finalmente a dar o passo que queria dar», testemunha.

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Rui Vitória e Tiago Pinto

O primeiro grande teste

Ainda antes do arranque da pré-temporada 2017/18, o FC Porto, através do seu diretor de comunicação Francisco J. Marques, trouxe a público um alegado esquema de corrupção de árbitros em favor do Benfica: o caso dos emails.

«Para mim, é claramente um não-assunto», disse Rui Vitória no dia do arranque dos trabalhos no último dia de junho.

Cinco anos depois, o ex-técnico das águias reconhece que se tratou de um tema sensível e de um «teste enormíssimo a todo o funcionamento interno do clube», que teve um impacto que se alastrou da cúpula da SAD até ao futebol profissional.

«O Tiago entra no Benfica nessa altura complicadíssima, quando surge a questão dos emails. E ele leva com todo o impacto que isso podia ter numa equipa de futebol, tendo de dar resposta para blindar a equipa de modo a continuarmos o nosso trajeto e não perdermos o rumo enquanto se lutava contra todas as adversidades que vinham de fora. Acho que poucos treinadores e diretores-desportivos passaram pelo que nós os dois passámos durante um ano inteiro e o facto de se ter arrastado no tempo fez com que o impacto fosse inevitável. Porque tratou-se de algo que foi desmontando as peças: ao atuar sobre um elemento da direção que é importante, há reflexos no funcionamento da administração do clube, depois de quem está próximo da equipa e por aí fora», observa.

«Tentávamos gerir isso através de estratégias para a cada momento blindar ao máximo a equipa. Controlar o máximo possível a informação, não para que ela não chegasse à equipa, mas para que não chegasse com uma carga tão pesada. E nesse período difícil o Tiago teve sempre uma postura de grande capacidade. Manteve a cabeça fria e se havia teste difícil para superar, esse foi um deles. E ele conseguiu superá-lo muito bem», aponta Rui Vitória.

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Tiago Pinto celebra golo do Benfica na vitória sobre o Sporting em Alvalade por 4-2 em 2019

O «índio» que virou «bloco de cimento», por Bruno Lage

A derrota com o Portimonense no Algarve, por 2-0 com autogolos de Rúben Dias e Jardel, marcou o fim de linha de Vitória no Benfica a 2 de janeiro de 2019. No final do dia seguinte, Bruno Lage tinha acabado de chegar a casa após um dia de trabalho a preparar o jogo seguinte com o FC Porto B quando recebeu um telefonema.

«É para lhe dizer que vai mesmo deixar de poder beber o seu café descansado», disse-lhe do outro lado da linha o diretor-geral, recuperando uma observação que tinha sido feita originalmente pelo próprio Lage mais de um mês antes, quando o nome dele começou a aparecer nos jornais e noticiários televisivos como solução para o lugar de Rui Vitória.

«A minha cara ficou estampada em tudo o que é sítio e já não posso ir beber um café descansado», disse após a vitória do Benfica B sobre o Estoril, um dia depois de Vieira ter segurado Vitória alegando que lhe dera «uma luz». «Achei piada ele ter-se lembrado daquele episódio. Essa é uma das grandes características dele: o detalhe, o pormenor e o saber jogar no sítio certo. E isso faz dele um indivíduo muito especial», introduz o agora treinador do Wolverhampton em conversa com o Maisfutebol.

Apesar de a interação entre as equipas A e B ser permanente, Lage só começou a ter contacto frequente com Tiago Pinto quando foi promovido. Mais do que estarem unidos em torno do mesmo propósito, os dois convergiam nas ideias que tinham para tornar o Benfica novamente vencedor, mas também na forma de estar no trabalho e na vida. «Éramos os dois animais de trabalho, tínhamos a mesma linha de pensamento, a mesma serenidade quando era necessário e a capacidade de perceber que nada se constrói de um momento para o outro: tudo tem um princípio, um meio e um fim.»

E o Benfica de Lage também o teve, mas cada coisa a seu tempo.

Ao longo de um ano e meio, o ex-técnico das águias forjou uma sólida amizade com Tiago que, diz, ficará para sempre. «As pessoas podem entrar na nossa vida por acaso, mas não é por acaso que nela permanecem.»

Na memória de Bruno Lage estão bem presentes muitos momentos vividos ao lado do agora braço direito de José Mourinho na Roma. Das conquistas e das derrotas.

Mas também do Tiago que nunca dispensava uma bola de gelado depois de almoço.

Do Tiago com quem trocava ideias sobre livros.

Do Tiago que era o primeiro a chegar ao Seixal ainda antes das 07h00 e que chegava a pernoitar lá.

Do Tiago a quem ensinou uma frase de Setúbal que ele próprio também passou a usar em momentos de maré de azar: «Oh sorte, anda-me ao cu», conta com uma gargalhada. «Se ele ler isto, vai-se fartar de rir.»

Memórias também do Tiago que se transformava como dirigente e do Tiago adepto.

«A maneira como ele reagia no banco durante os jogos mostra bem como ele vivia o Benfica», constata Rúben Dias.

Em baixo, num clássico com o FC Porto no Estádio do Dragão em 2017/18: acabou expulso

«Nem sabe as vezes em que eu o ouvi dizer que ele era um ‘índio’ daqueles que estavam lá na frente e de cachecol a apoiar. Ainda bem que tivemos a felicidade de ter feito aquele campeonato e aquela reconquista da forma como foi. Vou ser honesto: quando entrei, vimos que o campeonato estava longe e estávamos focados em tentar ganhar as taças. Mas a partir do momento em que sentimos que podíamos ter uma palavra a dizer, olhámos para o campeonato. Só podemos ter um enorme orgulho do trabalho que fizemos e de termos tido sucesso no clube. Há sempre um princípio e um fim de tudo, mas não há nada melhor do que passar pelos clubes e entregar títulos. E, nos últimos quatro anos, o Benfica tem dois títulos e fomos nós, com a força do nosso trabalho, que os entregámos. E isso ninguém vai apagar», atesta Lage.

Ao lado de Bruno Lage no clássico com o FC Porto no Estádio do Dragão para a 2.ª volta da Liga 2018/19. O Benfica ganhou por 2-1 e subiu ao primeiro lugar. Foi a última vitória sobre os dragões (Gualter Fatia/Getty Images)

Entre o princípio de 2019 e os primeiros dias de fevereiro de 2020 quase tudo foi perfeito no plano desportivo para o Benfica, que se sagrou campeão nacional depois de recuperar de uma desvantagem de sete pontos para o FC Porto, iniciou a época seguinte com uma goleada por 5-0 sobre o Sporting na Supertaça e chegou a liderar o campeonato com sete pontos de vantagem já na segunda volta.

Em fevereiro, a derrota com o FC Porto no Dragão empurrou as águias para uma espiral negativa da qual não conseguiram voltar a sair. Aparentemente, até hoje.

Seguiu-se nova derrota, em casa com o Sp. Braga, e empates com Moreirense e V. Setúbal. Antes da paragem forçada devido à pandemia, o Benfica já não era líder.

Mais de dois anos depois, Lage abre um pouco a caixa de Pandora sobre o descalabro. «Tivemos um mau momento no mês de fevereiro e nós já sentíamos isso. Faltavam-nos algumas soluções que estávamos a preparar para janeiro, mas que não se concretizaram, ou porque o Benfica não conseguiu lá chegar ou porque um determinado jogador não considerava o nosso campeonato entusiasmante. Não conseguimos colmatar a saída do Conti, ficámos só com três centrais – o Rúben Dias, o Ferro e o Jardel, que estava lesionado com alguma frequência – e faltou-nos a entrada de um médio. E entrámos num mês competitivo, com jogos com o FC Porto fora, o Sp. Braga do Ruben Amorim, pelo meio um jogo com o Famalicão e dois jogos contra o Shakhtar, equipas que gostavam de ter bola e que nos iam fazer correr muito. E nós não tivemos capacidade nem competência para responder», conta.

Os pontos nos ii. Jogadores como Pizzi ou Rafa não fizeram a cama ao treinador, esclarece Lage. «Eles nunca foram um problema. Como é que seriam? O Pizzi marcava 20 golos por época e o Rafa fez a melhor época comigo, com 18 golos. Faltaram-nos, sim, alternativas para que quando o Benfica começasse a jogar consecutivamente de três em três dias pudesse ter uma capacidade de rotação de modo a que não se notassem oscilações.»

Ainda que a construção do plantel – com carências assumidas desde cedo mas não solucionadas – tivesse também o dedo de Tiago Pinto, Bruno Lage entende que o então diretor do futebol profissional das águias foi alvo de «muitas críticas injustas», sobretudo de quem lhe questionou o caráter e o profissionalismo. «Quando se pensava que eventualmente algumas coisas aconteciam por causa dele, verificou-se o contrário. Se isso mexia com ele? Não! Ele era um bloco de cimento e respondia sempre com trabalho. Era um indivíduo muito equilibrado. Quando era para rir, era o primeiro a rir. Quando era para trabalhar, a cara dele transformava-se: parecia um robot e seguia sempre em linha reta.»

No final de junho, depois da derrota fora com o Marítimo para o campeonato, Lage caiu. Minutos depois de o treinador ter dito na flash interview da Sport TV que se sentia apoiado por todos, Vieira foi à sala de imprensa dizer que ele lhe dissera que sentia que toda a gente o queria fora do Benfica e que, por isso, colocava o lugar à disposição. «O presidente tomou a decisão que achou que devia ter tomado. Eu gostava de ter feito mais aqueles jogos e a final da taça, mas infelizmente não tive essa oportunidade», lamenta Lage, que diz ter sentido «sempre apoio incondicional» de Tiago Pinto.

Até ao último dia.

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Tiago Pinto durante o Benfica-Sporting para a 1.ª mão das meias-finais da Taça de Portugal 2018/19

O princípio do fim

Por essa altura, o diretor-geral do Benfica já revelava desgaste. Vivia 24 horas para o clube, não tinha férias há três anos e a consequência de tudo isso foi o fim de uma relação de que mantinha desde os 17 e que terminou 18 anos depois.

Mais: a saída de Lage, que tentou evitar, aliada ao regresso iminente – e já perspetivado na imprensa – de Jorge Jesus à Luz colocaram a nu uma evidência: a do abandono de um projeto desportivo que Tiago ajudou a desenhar. E essa, não que as outras não fossem, seria a maior prova de todas.

«Ele deu logo a entender isso [que podia sair] pelas nossas conversas e eu até comentei com a minha equipa técnica que nós íamos sair e que o Benfica ia perder o Tiago. Mas até pensava que ia ser no imediato e não no final do ano. Porque nós acreditávamos mesmo que a solução para o Benfica passava por aquele caminho que nós estávamos a fazer. Identificávamo-nos com aquela ideia, os pilares estavam lá e o caminho tinha de ser aquele. E o tempo, infelizmente para o Benfica, veio dar-nos razão: o caminho tinha de ser aquele e não contrário», constata Bruno Lage.

O regresso de Jesus à Luz foi decisão de um homem só: Luís Filipe Vieira. Mas, na estrutura, só um outro homem se bateu frontalmente contra a escolha do então presidente: a ele, mas também a Rui Costa e a Domingos Soares de Oliveira disse que o projeto estava a caminho da destruição.

«O Jorge Jesus foi aprovado por toda a gente. A única pessoa que não queria o Jesus chama-se Tiago Pinto. Sim, ele saiu porque o Jesus veio e disse-me: ‘Vamos estragar tudo o que estamos a fazer’», contou Vieira numa recente entrevista à CMTV.

A mesma na qual lhe deixou rasgados elogios. «Foi, de certeza absoluta, o diretor-geral mais completo que eu tive no Benfica. Tenho a certeza de que vai ser diretor-geral de um Real Madrid, de um Manchester United ou de um Manchester City.»

As primeiras reuniões de planificação com a equipa de Jorge Jesus reforçaram a convicção de Tiago: não se identificava com aquele novo desenho que pressupunha uma mudança radical do projeto, que faria com que fossem gastos perto de 120 milhões de euros em contratações e que alguns jovens valores do clube, como Florentino, Gedson e Jota, perdessem espaço.

O Tiago diretor-geral defendia que um projeto assente no talento do Seixal, a contratação mais criteriosa de jogadores – mais caros, melhores e em menor número – e a retenção de talento durante mais tempo permitiriam que o Benfica dominasse internamente e escalasse finalmente degraus na Europa.

E o Tiago adepto nunca votaria a favor do regresso de Jorge Jesus. Nem, por exemplo, de Paulo Sousa ou Pacheco, protagonistas do verão quente de 1993. E o Tiago diretor nunca se separou do Tiago adepto. Do Tiago emocional.

Ainda no verão de 2020, Tiago Pinto comunicou a Vieira a intenção de sair. Até conseguia passar por cima do que pensava sobre Jesus, mas alinhar com uma ideologia oposta à que considerava ser a mais correta para o futuro do Benfica, não. Persuadido pelo presidente, acabou por aceitar permanecer no clube, mas o prazo-limite ficou definido: sairia no final da época.

Jesus sempre soube o que Tiago pensava dele e a relação entre os dois começou fria, mas o trabalho em conjunto acabou por atenuar um certo clima de desconfiança inevitável.

Afinal de contas, e apesar das divergências, os dois remavam para o mesmo lado: o do sucesso do Benfica. E o diretor-geral sabia que tirar o tapete a Jesus era prejudicar o clube. E isso, o Tiago adepto, fanático pelo Benfica, não permitiria que acontecesse.

«O Tiago ensinou-me a conhecê-lo. Quando cheguei ao Benfica, não o conhecia nem pessoalmente, nem profissionalmente. Reconhecem-lhe muita capacidade e se calhar é por isso que vai para a Roma. É um profissional e um administrativo de grande nível», elogiou em conferência de imprensa já em novembro, dois dias depois de confirmada a saída para o emblema da capital italiana, que aconteceria em janeiro de 2021.

A 31 de dezembro de 2020, o último dia enquanto funcionário do clube, Tiago Pinto falou sobre implementação de uma nova visão estratégica, com a qual não concordara, mas isso não o impedia de acreditar que era possível ganhar.

«Tenho poucas dúvidas de que o tempo vai permitir ver que o dinheiro que gastámos nesses jogadores é dinheiro bem gasto. O Benfica perdeu o campeonato, queria voltar a estar no topo, voltar a competir por todas as competições e ser competitivo em todas elas. E, para isso, entendeu-se que era preciso reforçar o investimento na equipa de futebol», disse em entrevista à BTV antes contornar uma outra questão.

«Esteve no processo da construção deste plantel. Revê-se completamente nesta política desportiva do Benfica para o futebol?»

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Tiago Pinto

A Roma sem saber que era a Roma

Decidido a deixar o Benfica no final da época, Tiago Pinto começou a procurar alternativas. Ainda em agosto de 2020, no mesmo mês em que a Roma foi comprada por 591 milhões de euros por um consórcio liderado pelo businessman norte-americano Dan Friedkin, recebeu um email de alguém que se identificava como Charles Gould, que lhe ligou após receber de volta o contacto telefónico do diretor dos encarnados.

Desse primeiro contacto, Tiago ficou a saber apenas que se tratava de uma oportunidade de trabalho na área da gestão desportiva. A essa conversa seguiram-se várias entrevistas nas quais foram abordados temas como a visão que tinha sobre a formação, estratégia desportiva, metodologia de trabalho, relações com empresários/intermediários, etc.

«O Tiago é uma pessoa com uma motivação extrema: alguém que faz grandes sacrifícios para ter sucesso. Não é alguém que teve uma trajetória tradicional de começar como olheiro mas ganhou uma experiência muito forte nos negócios, o que vai ajudar a Roma a ter uma abordagem desportiva mais holística. Sempre o achei muito direto e sincero, que é o que necessário para a função dele, que requer muitas conversações e negociações difíceis», retrata ao Maisfutebol Charles Gould, fundador da agência de consultoria desportiva Retexo, que colabora com clubes como Roma, Real Madrid e Flamengo e opera na área do recrutamento.

O processo de recrutamento durou largas semanas. Tiago Pinto foi superando fases, o que lhe permitiu ter acesso a mais informação. Primeiro, saber que estava a candidatar-se para um clube detido por norte-americanos. Depois, só imediatamente antes da etapa final – uma primeira de várias reuniões/entrevistas com Dan e Ryan Friedkin – ficou a saber que se tratava da Roma.

Com uma proposta «irrecusável» e um projeto muito aliciante em mãos, Tiago Pinto informou o presidente. Vieira não reagiu bem, ficou vários dias sem lhe falar, mas depois acedeu ao pedido do diretor que ele próprio tinha contratado oito anos antes.

«Numa primeira fase não concordou e queria demover-me. Tentei explicar os meus argumentos e demorámos alguns dias a conversar os dois. Chegou a uma altura em que não só como presidente mas também como ‘pai’, percebeu que com a idade que tenho e com a vontade que tenho de fazer uma carreira internacional, esta era uma oportunidade que tinha de assumir e aceitar. (…) Foram dias difíceis. As pessoas sabem da relação de proximidade que tenho com o presidente. Tudo o que tenho no futebol e no desporto foi-me dado por ele. Tenho uma gratidão eterna para com ele. Se ele não me desse a sua bênção, nunca poderia sair», disse à BTV.

* FOTO: Tânia Paulo/SL Benfica

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Tiago Pinto e José Mourinho a assistirem a um jogo da equipa sub-19 da Roma

A chegada a Roma, os «anticorpos» com a exigente imprensa e a ligação com Mourinho

Tiago Pinto aterrou em Roma 4 de janeiro de 2021 e nove dias depois deu a primeira conferência de imprensa, ainda em português.

Meio ano depois apresentou José Mourinho e respondeu às perguntas dos jornalistas já em italiano. «Ele teve aulas nos primeiros quatro ou cinco meses. Era o primeiro a chegar a Trigoria (centro de treinos da Roma), por volta das 07h45/08h00, e estudava italiano logo de manhã cedo, antes de começarem as atividades diárias. Cinco ou seis meses depois já conseguia falar italiano em conferências e agora já só comunica com os colegas italianos na nossa língua», conta ao Maisfutebol o diretor de comunicação da Roma, Luca Pietrafesa.

A 13 de janeiro, dia em que se apresentou aos jornalistas, Tiago explicou qual seria o seu papel enquanto diretor-geral – no fundo, não muito diferente do que ocupara no Benfica, onde tratava de assuntos relacionados com o mercado e monitorizava o trabalho de todos os departamentos que suportavam direta ou indiretamente o futebol profissional e que convergiam entre si: scouting, jurídicos, comunicação, médico, logística – apontou os pilares em que a Roma iria assentar daí para a frente e, ao ser confrontado com várias questões relacionadas com o mercado, comprometeu-se a dar uma conferência de imprensa logo após o fecho de cada mercado.

Tiago percebeu cedo que em Itália seria inevitável ter uma abordagem mediática diferente da que foi mantendo no Benfica onde, salvo raríssimas exceções relacionadas com entrevistas para os canais próprios do clube e uma ao jornal A Bola, não contactava diretamente com jornalistas nem falava em conferências de imprensa.

«Em Roma há muita pressão por parte da imprensa. A nossa envolvência é composta por mais ou menos oito ou nove jornais que fazem cobertura diária. Para ter uma ideia, quando um jogador tira uma fotografia à saída do centro de treinos, temos lá três ou quatro jornalistas à volta dele para tentar obter alguma declaração. E há ainda muitas rádios e dez blogues – que são uma nova realidade de proximidade ao clube – a cobrir a Roma, isto além de páginas nas redes sociais. A pressão é incrível», explica o diretor de comunicação da Roma.

Num compromisso para uma televisão (NES Images/Getty Images)

Luca Pietrafesa conta que foi necessário encontrar um meio-termo: fazer com que Tiago Pinto fosse mais comunicativo sem ser obrigado a mudar a sua «natureza». «Manteve basicamente a mesma abordagem que tinha nos tempos do Benfica. Normalmente, ele não responde a mensagens de jornalistas e não fala todos os dias com eles, que é algo muito habitual nos diretores-desportivos em Itália. Mas ele explicou logo na apresentação que no fim de cada janela de mercado faria uma conferência de imprensa para responder a todas as questões.»

Mas isso não bastou. Nos primeiros tempos em Roma, a parca colaboração com os jornalistas e até o secretismo com que foi tratada a sua contratação até bem perto do anúncio criaram-lhe problemas junto de alguns jornalistas, habituados à maior abertura de outros diretores-desportivos dos Giallorossi (Tiago foi o primeiro diretor-geral).

«O Tiago Pinto é um diretor que não gosta muito de falar com a imprensa e que prefere trabalhar sem revelar o que está a fazer. A imprensa aqui em Itália é muito insistente e quer ter uma relação próxima com os líderes dos clubes. Ele fala pouco e isso pode ser irritante», assume ao Maisfutebol Flavio Tassotti, jornalista da Teleradio que faz cobertura diária sobre a Roma.

Numa conferência de imprensa (Luciano Rossi/AS Roma/Getty Images)

Além da presença nas conferências de balanço de mercado, Tiago dá também a cara nas apresentações de reforços (uma declaração introdutória sem direito a perguntas) e é também o porta-voz da equipa nos dias de jogos da Serie A e das competições europeias, estando obrigado pelos regulamentos a prestar declarações às televisões detentoras dos direitos. «Ele não gosta de falar com tanta frequência, mas tem de fazê-lo e tem melhorado na comunicação com os media, embora num ano e meio ele não tenha dado uma única entrevista – exceto uma à Sky para falar sobre árbitros – e prefere manter-se assim», nota Luca Pietrafesa.

Há dias numa iniciativa da Roma:

O responsável pela comunicação da Roma confirma que os antecessores de Tiago Pinto, à semelhança da maioria dos diretores-desportivos de outras equipas, tinham e têm, quase todos, abordagens diferentes. «Ele não é tão focado no seu ego, é focado apenas no trabalho. A abordagem dele aproxima-se da de Frederic Massara», aponta, referindo-se ao diretor-desportivo do Milan que exerceu também esta função na Roma. «Não gosta de aparecer, de estar na linha da frente, mas ao mesmo tempo tem consciência de que com um treinador como o José Mourinho ele tem de o proteger. Por isso, por vezes tem de falar e tomar uma decisão. Como quando falou sobre os árbitros à Sky. Não gosta de aparecer, mas está mais estratégico do que no passado», explica.

Tiago protege Mourinho e Mourinho também já saiu em defesa dele quando sentiu essa necessidade, como em fevereiro passado, quando o diretor da Roma não garantiu perentoriamente que Nicolò Zaniolo continuaria no clube e andou debaixo de fogo durante vários dias.

«As declarações do Tiago são absolutamente normais. É difícil para um diretor honesto, que não vende banha da cobra, conseguir dizer com 100 por cento de certezas que um jogador vai cá estar na próxima época. Maturidade é uma palavra importante, é importante para nós e também para vocês [jornalistas]. Nós estamos a demonstrá-la no nosso projeto e na nossa forma de comunicar. Os nossos adeptos também têm mostrado maturidade no apoio e é esperada e necessária mais maturidade da vossa parte», disparou.

FOTO: Fabio Rosy/AS Roma/Getty Images

Há pouco mais de um mês, após a conquista da Liga Conferência – o primeiro título da Roma em quase década e meia e o primeiro europeu desde a extinta Taça das Cidades com Feiras em 1960/61 – Mourinho elogiou Tiago Pinto (confesso admirador do técnico há 20 anos) numa entrevista ao Record. «É o meu parceiro de cada dia, um grande diretor e, hoje, um grande amigo. Sobre ele digo-lhe apenas que percebo agora melhor por que razão o Benfica não tem ganho», disse sem concretizar.

«Porque é que uma equipa está mais próxima de ganhar com alguém como o Tiago? Porque ele tem uma visão global das coisas e uma capacidade para antecipar e resolver problemas, alguns deles que nem nos passam pela cabeça mas que têm de ser resolvidos. E, depois, é alguém que mantém as pessoas ligadas umas às outras: independentemente do departamento em que estejam, todas sentem que estão a trabalhar por um objetivo comum», aponta Bruno Lage.

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Tiago Pinto

Talvez não tenha sido por acaso...

Num dia, Tiago sonhou ser jogador do Benfica.

Noutro, já mais crescido e há muito consciente de que as limitações técnicas nunca lho permitiria, chegou a conversar com amigos sobre a possibilidade de tentarem a sorte no mundo do scout.

A mudança de vida chegou, mas talvez sob a forma de uma enorme improbabilidade. Porque, após um discurso corrosivo numa AG não esperaria menos do que uma reação hostil de um presidente e porque a formação académica – licenciatura em Ciências da Educação e mestrado em Economia e Gestão de Recursos Humanos – parecia levá-lo por outros caminhos. «Penso que isso deu-lhe habilidade para conseguir conectar-se com pessoas diferentes e com as novas gerações, o que é importante neste mundo em mudança», reflete Charles Gould.

Diana Pinto converge na linha de pensamento.

«É muito engraçado, porque é normal que as pessoas pensem: ‘Mas então, ele tirou Ciências da Educação e agora está no mundo do futebol?’ Se calhar, a facilidade que ele tem para comunicar com as pessoas e lê-las muito bem vem daí e de certeza que a experiência que teve na escola de Miragaia também foi muito importante para ele, tal como o mestrado em gestão, que lhe deu noções importantes para o cargo de diretor-geral. O Tiago não nasceu neste mundo, mas conseguiu construir uma carreira de sucesso depois de um dia ter ido a uma assembleia do clube dele e abdicando de muitas coisas a nível familiar. Muitas pessoas podem não acreditar na história dele, mas ela é mesmo esta: uma história muito bonita e de superação.»

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