O Uruguai chega ao Qatar 2022 com uma equipa em desenvolvimento e à descoberta. Tem um plantel dividido entre históricos e estreantes. Para Fernando Muslera, Diego Godín, Martín Cáceres, Luis Suárez e Edinson Cavani será o quarto Mundial. Para Sergio Rochet, Mathías Olivera, Federico Valverde, Nicolás de la Cruz, Facundo Pellistri e Darwin Núñez, todos titulares, será o primeiro. Além disso há Rodrigo Bentancur que, aos 19 anos, se estreou no Rússia 2018. Por outro lado, tem a qualidade para se apresentar no Qatar com uma equipa que pode surpreender no mundial. Contudo, falta tempo para encontrar as prestações ideais.
O selecionador diz que o Uruguai viaja para ser campeão mundial. «Os jogadores e eu queremos ser campeões mundiais. Vamos para ganhar. Se queres ganhar tens de te preparar para isso. Somos uma equipa com muita esperança e crença em nós próprios. Acredito muito nos meus jogadores. O Uruguai vai ganhar o Mundial.» Estas declarações, proferidas em maio, causaram uma expectativa singular nos adeptos. Pode o Uruguai ser campeão do mundo? Sem dúvida. Tem possibilidades de chegar à decisão. Nesta altura da época as prestações individuais das suas maiores figuram fazem sonhar alto. Contudo, Diego Alonso precisa que os jogadores trabalhem como uma equipa a sério e isso é o aspeto que gera incerteza.
Diego Alonso está há nove novos na seleção. É um período curto, mas gerou mudanças na estrutura da equipa e no seu futebol. No último jogo usou o 4-4-2, o que faz crer que faça o mesmo frente à Coreia do Sul a 24 de novembro. O maior contratempo da seleção foi a perda de Ronald Araújo por lesão, mas o defesa do Barcelona foi convocado o que abre perspetivas de utilização.
Construiu uma carreira rápida e de sucesso no México (2014-2019). Mais tarde David Beckham levou-o para o Inter Miami. O técnico sabe como passar a ideia ao jogador e é um grande motivador. Gosta que as suas equipas sejam protagonistas com bola. Varia entre o 4-4-2 e o 4-3-3. Gosta de pressionar a saída adversária e toma vantagem dos erros dos mesmos. Oferece um futebol intenso. Gosta de médios ou avançados que joguem por fora com velocidade e que são excelentes no um-contra-um. O caso mais claro é o de Facundo Pellistri: incluiu-o na sua primeira convocatória em janeiro e fez dele titular, algo que não é no Alavés.
As exibições no Real Madrid transformam-no na figura da seleção. Vai jogar o seu primeiro Mundial, mas está no nível das grandes estrelas. O Uruguai depende do seu talento e habilidade goleadora para construir um caminho de sucesso. Está num grande momento. É o líder futebolístico da seleção e um dos melhores jogadores do mundo. Entende o seu papel e está muito bem.
É a alma da seleção e líder silencioso com o carisma de um vencedor. É tudo o que está bem. Multifuncional. Todo-o-terreno. Joga como médio por dentro ou no exterior. É frequentemente utilizado por Diego Alonso como duplo ‘6’. Dá ao meio-campo da seleção uma consistência única e nesta época, no Tottenham, acrescentou os golos de cabeça às suas armas. Na seleção é o parceiro de Valverde, numa parceria que partilharam desde a juventude porque são da mesma geração.
O treinador e jogadores do Uruguai não comentaram as situações dos direitos humanos e condições dos trabalhadores migrantes no Qatar. A federação uruguaia também não se expressou sobre o assunto, nem partilhou qualquer posição oficial. Na seleção uruguaia não é costume comentar estes assuntos, como a guerra ou, neste caso, os problemas no Qatar.
O poeta uruguaio Francisco Acuña de Figueroa foi quem escreveu os versos do hino nacional. O primeiro projeto foi apresentado em 1830, no ano do juramento da constituição do país, mas foi modificado devido a violentos ataques na sua carta a Brasil, Portugal e Espanha. A primeira versão oficial foi aprovada em 1833. Finalmente, a 12 de julho de 1845, o autor aprovou a segunda e última reforma dos versos, utilizados desde aí como definitivos. As letras do hino são populares no país e um forte sinal de identidade. Os jogadores cantam-no entusiasticamente antes dos jogos, bem como os adeptos. Com o poder da voz, “Orientais, a Terra Mãe ou a campa! Liberdade ou com glória para morrer!” representa um grito de rebelião do país, neste caso por 11 jogadores em campo.
José Nasazzi, Obdulio Varela e Luis Suárez, cada um na sua geração, são heróis do futebol uruguaio. O “Marechal” Nasazzi, campeão nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928, e campeão do Mundo em Montevideu em 1930, é um símbolo da geração de ouro dos tricampeões do mundo. Obdulio Varela era a expressão de beleza na final do Mundial 1950 no Maracanã. Luis Suárez é a reencarnação de ambos. É o herdeiro a uma raça de extraordinários futebolistas e a melhor expressão da “Garra Charrúa”.
Textos de Luis Eduardo Inzaurralde, editor do El Observador.