Não é difícil concluir que é agora ou nunca para a Inglaterra de Gareth Southgate. Estiveram agonizantemente perto com este selecionador de 52 anos, chegando às meias-finais do último Mundial, e perdendo em penáltis com a Itália, na final do Euro 2020. E se esses falhanços forem vistos de forma otimista, é possível pensar que a glória está ao seu alcance, se as peças caírem todas no sítio certo.
Afinal de contas, apesar da forma recente não convencer, este continua a ser um grupo extremamente talentoso. As opções criativas são invejáveis, e Declan Rice e Jude Bellingham são dois dos melhores médios que por aí andam. Harry Kane é dos melhores pontas-de-lança do mundo.
Ainda assim persiste o sentimento de que o ciclo está a acabar. Os problemas têm aumentado este ano – a prestação na Liga das Nações, as dificuldades de Harry Maguire, lesões para Kyle Walker e Reece James, com potenciais dores de cabeça para a lateral direita – e pode ser o tempo de Southgate abandonar a seleção, apesar do seu contrato ser vigente até final de 2024. «Sei que vou ser julgado pelo que acontecer no Mundial», diz o treinador. «Não sou arrogante ao ponto de achar que o meu contrato me vai proteger».
Southgate aceita que o momento definitivo está a aproximar-se. A Inglaterra está sob pressão para atacar. Haverá fúria se forem eliminados de forma precoce.
Mas não descartem já este grupo. Houve sinais de vida no empate recente (3-3) com a Alemanha e um grupo com Irão, País de Gales e EUA deverá ser gerido com relativa facilidade. Na ótica de Southgate, algum do pânico é exagerado. Já provou que é inteligente em torneios e, dada a oportunidade, Inglaterra tem potencial de ir até ao fim.
Será Southgate demasiado negativo? Qual é o seu problema com Trent Alexander-Arnold? Será ele… uma fraude revelada? Ou será ele realmente o treinador que levantou a Inglaterra do chão, colocou o colete na moda, ofereceu autoridade moral perante questões difíceis, e quase acabou com uma dor de 55 anos? Como sempre, há nuances. Southgate não é perfeito e pode ser demasiado cauteloso, e muitos adeptos viraram-lhe as costas. Mas, no geral, tem feito um bom trabalho e ainda impõe respeito no balneário. Até quem vaia deve admitir que Southgate ainda pode ser 'O Tal'.
Muito vai depender do nível de Kane. O capitão desfruta de um período longo sem lesões, e está em forma goleadora pelo Tottenham, esta época. A Inglaterra vai esperar que Kane esteja num pique de forma. Revelou que trabalhar com um novo fisioterapeuta ajudou a fortalecer o seu corpo, e ganhou motivação ao ver aproximar-se o recorde de golos de Wayne Rooney (53 golos). Será uma surpresa se não atingir essa marca no Qatar.
É a escolha obrigatória. O capitão do West Ham deixa outros jogar e tem a propensão de estar no sítio certo à hora certa, algo que é inestimável para a Inglaterra. Esta defesa não se pode dar ao luxo de ficar sem a proteção de Rice. A sua capacidade de recuperar a bola não são inferiores a ninguém, enquanto que a sua disciplina posicional deve permitir a Bellingham levar o jogo para a frente. Juntem a isto a qualidade de passe e é fácil perceber porque é que Southgate confia em Rice.
A Federação inglesa prometeu pressionar a FIFA sobre a criação de novas leis trabalhistas no Qatar, pedindo que qualquer morte seja compensada, assim como pela criação de um Centro de Trabalhadores Migrantes no Qatar. Ainda assim, não houve declarações condenatórias de Southgate ou Kane. Jordan Henderson chamou à atenção para o histórico de direitos humanos do Qatar, que classificou de «chocante, dececionante e horrendo», após um briefing detalhado sobre a situação. Mas qualquer protesto visível durante o torneio provavelmente limitar-se-à a Kane usar uma braçadeira de capitão 'OneLove', com as cores do arco-íris.
As origens da letra e da melodia são desconhecidas, e datam do século XVII, mas todos sabem o seu significado. A única coisa a estar ciente desta vez é um pequeno ajuste nas palavras: após a morte da rainha, em setembro, os jogadores terão de se lembrar de cantar “God Save The King”. É a melhor maneira de garantir que o Rei Carlos os envie vitoriosos.
Já se passaram 32 anos desde que Paul Gascoigne se esvaiu em lágrimas, em Turim. O médio despertou a atenção durante o Itália’90 e não conseguiu esconder a sua devastação quando viu o cartão amarelo nas meias-finais, contra a Alemanha. O cartão retiraria Gazza da hipotética final, e a sua inconsolável reação mereceu a simpatia das pessoas. Ele era algo raro, um talento único que se tornou realmente uma força inglesa, e nada mostrou mais a sua qualidade do que aquele volley contra a Escócia no Euro’96. Se, ao menos, os pitons fossem maiores quando a Inglaterra voltou a encontrar a Alemanha nas meias-finais...
Textos de Jacob Steinberg, que escreve para o jornal The Guardian.