Têm sido anos difíceis para “El Tri”. Gerard Martino está debaixo de fogo e a sua equipa parece regredir à medida que o Mundial se aproxima. As dúvidas sobre a sua competitividade têm crescido mais e mais desde a derrota na final da Liga das Nações da CONCACAF, frente aos EUA, em junho de 2021. O técnico argentino, contudo, encontra forma de ver o copo meio-cheio. «Estou feliz e entusiasmado. Tenho um bom pressentimento sobre a equipa em todos os sentidos», disse em setembro, depois de bater o Peru. Três dias depois o México perdeu frente à Colômbia, depois de ter estado a vencer por dois golos ao intervalo.
A verdade é que, ao contrário do que sucedeu noutros Mundiais, os adeptos não se identificam com a equipa de Martino. A presença de «El Tri» no Mundial costumava ser um grande evento num país apaixonado pela seleção, mas já não é assim. Quando se qualificaram para o Qatar não houve uma grande festa no Estádio Azteca. Mesmo assim 40 mil adeptos mexicanos devem rumar a Doha. Como diz o escritor mexicano Juan Villoro: “No México não estamos certos de que o futuro exista. Cada felicidade pode ser a última, e é por isso que milhares de mexicanos vão ao Mundial.»
Na teoria, a tática do México pode ser atrativas: uma equipa que pressiona alto, de forma agressiva, com jogo direto nos flancos. Martino gosta de controlar o jogo, ter posse com combinações rápidas. Extremos como Alexis Veja, Hirving Lozano, Uriel Antuna e Roberto Alvarado são importantes para implementar estas ideias. O principal problema para o treinador é a incapacidade para jogar bem a tempo inteiro. De facto, a única consistência parece ser a inconsistência.
É um treinador aclamado mundialmente que chegou ao México em janeiro de 2019, com a tarefa de quebrar a «tradição do quarto jogo». 'El Tri' chegou à fase a eliminar de todos os Mundiais desde 1994, mas nunca foi mais além. Depois de um começo promissor para Martino – vencer a Gold Cup 2019 e bater os poderosos Países Baixos – o ímpeto parece ter desvanecido. Perderam três jogos consecutivos frente aos EUA, em 2021, o que levou o projeto de Martino a uma crise. A qualificação para o Mundial foi uma tortura, com vitórias tiradas de exibições pouco positivas. 'Tata' decidiu autodenominar-se «inimigo público número 1 no México», e não está totalmente errado.
'Chucky' é uma força da natureza, e por vezes parece que a única forma de o travar é ilegalmente. Um extremo explosivo, transformado numa espécie de “falso 9”: é rápido e tem um grande remate. Bateu o recorde de transferências do Nápoles – foi mais caro até do que Diego Maradona – e depois do período de adaptação está a ter uma época fantástica em 2022/2023.
Nenhum jogador é mais importante no sistema de Martino. Embora o foco esteja em Lozano, Guilhermo Ochoa ou Veja, Álvarez é o mestre na sombra. Começou a jogar como central, no América, mas evoluiu para um importante e elegante médio defensivo que dá coesão entrelinhas à equipa. É tão bom com a bola nos pés que alguns adeptos o chamam de 'Edsonbauer', por sentirem que o seu estilo faz lembrar Franz Beckenbauer. Seja como for, Álvarez é essencial nos planos de Martino.
Os futebolistas mexicanos não estão habituados a falar de política ou de direitos humanos. Na verdade, o futebol mexicano é, historicamente, uma bolha não-política. Internamente, os jogadores nem foram capazes de formar sindicatos para lutar pelos seus próprios diretos. Para além, a questão dos direitos humanos no Qatar não foi muito debatida no México. Mesmo na comunicação social, o que ajuda a explica o silêncio dos jogadores. Paradoxalmente, há quem defenda que os jogadores deviam ter uma voz mais ativa e envolverem-se mais na comunidade, nomeadamente sobre os cartéis de droga que proliferam pelo país.
O hino mexicano é um grito de guerra. Foi usado pela primeira vez em 1854, escrito pelo poeta Francisco González Bocanegra no ano anterior, e composto pelo espanhol Jaime Nuno. As letras chamam os mexicanos para defender a sua terra, com Bocanegro a tentar representar os ideais patrióticos que Antonio López de Santa Ana, então presidente, procurava quando lançou um concurso federal para criar o hino. Com uma melodia belicosa, encaixa perfeitamente no contexto futebolístico para 'El Tri'.
É a personificação da alma mexicana. Nascido em Acapulco, em 1966, tornou-se num símbolo da cultura mexicana nos anos 90. Guarda-redes colorido, extravagante e pouco ortodoxo, tornou-se num herói nacional devido ao seu estilo de jogo arriscado e caótico. O facto de também jogar como avançado – marcou 35 golos na carreira – e os seus equipamentos desenhados pelo próprio, icónicos e coloridos, fizeram dele único. A sua popularidade não desvanece, sendo que agora é um adorado comentador. É puro folclore mexicano e, justamente, tem o apelido de 'O Imortal'.
Textos de Eduardo López, que escreve para o AS México.