Quando falava com os jornalistas após anunciar a convocatória provisória para o Mundial, o treinador Czeslaw Michniewicz disse: «O nosso objetivo? Brincamos que seria bom passar a Barbórka (Dia dos Mineiros) e o Dia de São Nicolau no Qatar. Esse é o nosso objetivo, porque seria sinal de que tínhamos passado a fase de grupos.»
A meta é compreensível, sendo algo que não conquistam há décadas, mas vão deixar a conversa para o campo. Tem havido muita discussão sobre aprender com erros do passado, mas desta vez os adeptos são claro no que esperam: «Ações, não palavras.»
É muito difícil prever o que esta seleção fará no Qatar, mas os jogos da Liga das Nações ofereceram algumas pistas. Basicamente não são bons o suficiente para bater a Bélgica e os Países Baixos, mas mais fortes do que um País de Gales medíocre. Todas essas seleções se qualificaram para o Mundial.
Czeslaw Michniewicz tem desenvolvido o seu plano «perfeito», mas algumas lesões e falta de minutos entre alguns dos jogadores mais experientes não têm ajudado. Tem trabalhado uma defesa a três que se pode converter facilmente em quarteto no momento ofensivo e linha de cinco a defender. É um sistema que o treinador usou com sucesso nos sub-21 quando disputou jogos contra a Itália, Bélgica ou Portugal.
Como sempre a seleção está muito dependente de Robert Lewandowski, um avançado que pode marcar contra qualquer defesa, e desta vez rodeado de jogadores em boa forma, como Sebastian Szymanski, a florescer no Feyenoord, e Piotr Zielinski que está a ter uma época fantástica na letal máquina do Nápoles.
Talvez a qualificação para as rondas a eliminar seja um desejo tornado realidade.
A federação teve um chocante «presente de Natal» em 2021, quando Paulo Sousa anunciou que estava de saída para o Flamengo. Depois de uma procura longa pelo novo selecionador, com Fabio Cannavaro ou Andryi Shevchenko cotados para o lugar, Czeslaw Michniewicz conseguiu o cargo depois de uma passagem turbulenta pelo Legia Varsóvia. A contratação foi criticada em alguns círculos, mas Czeslaw Michniewicz conseguiu qualificar a Polónia para o Mundial após bater um adversário que não venciam há 45 anos: a Suécia. Agora vem o teste mais duro da carreira do selecionador: levar a Polónia às fases a eliminar. Se o fizer, uma extensão de contrato certamente o esperará.
Esteve no centro de uma das mais longas sagas do verão, mas acabou por se transferir para o Barcelona, depois de oito anos em Munique. Na apresentação, disse: «Sinto-me como uma criança que entrou numa loja cheia de brinquedos novos». Robert precisava de um novo desafio, mas uma coisa permaneceu igual: a facilidade em marcar golos. Pela altura em que este texto é escrito leva 18 golos nos primeiros 17 jogos, descartando rapidamente as críticas de que não seria capaz de marcar fora da Bundesliga. A questão à partida para o Mundial será se o sistema de Czeslaw Michniewicz está a tirar o melhor proveito dele. Dois golos em seis jogos indicam que há margem para melhorar.
Tem ar inocente, mas é rápido, forte e habilidoso: Karol Swiderski conseguiu um papel crucial de goleador junto de Robert Lewandowski, no ataque da Polónia. Muitos tentaram e falharam antes dele, mas o jogador do Charlotte FC teve a sua oportunidade com Paulo Sousa e aproveitou. Marcou cinco golos em nove jogos de qualificação e, depois, ambos os golos da vitória frente a Gales, na Liga das Nações. Pode muito bem regressar à Europa em breve, depois de se ter mudado do PAOK para a MLS, em janeiro.
Nem a federação nem os jogadores se pronunciaram sobre o Qatar receber o Mundial, e é justo dizer que têm estado focados em dar todo o apoio aos vizinhos da Ucrânia. Os jogadores têm tido uma postura muito forte contra a guerra, recusando-se a jogar na Rússia, com Lewandowski a usar uma braçadeira da Ucrânia e a receber Shevchenko em Varsóvia. Não é uma surpresa, de resto, tendo em conta que Wojciech Szczesny e Tomasz Kedziora têm esposas ucranianas, com este último a ter mesmo de fugir de Kiev após a invasão russa. A federação polaca também tem estado ativa, liderando as tentativas para que a Rússia seja banida do futebol internacional.
Chama-se «Dąbrowski's Mazurka», que significa «A Polónia ainda não está perdida». As letras foram escritas por Józef Wybicki, em 1797, mas o compositor continua desconhecido. É um hino repleto de patriotismo e fé na recuperação da independência perdida na Terceira Partilha da Polónia, pela Rússia, Prússia e Áustria. Expressa o sentimento que «a Polónia ainda não está perdida. enquanto estiver viva». A ideia de que a nação, mesmo sem independência, não desaparecer enquanto tiver pessoas a lutar pelo seu nome.
Nos anos 80 tornou-se o primeiro polaco a assumir estatuto de estrela num grande clube europeu. Fez nome no lendário Widzew Lodz, que surpreendeu ambos os grandes de Manchester, assim como a Juventus, equipa à qual se juntou em 1982. Grande jogador, com uma forte personalidade, não tinha receio de dizer o que lhe ia na alma. Era muito apreciado por isso, mas também motivou alguns problemas. Venceu a Taça dos Campeões Europeus e a Serie A com a Juventus, e terminou em terceiro lugar no Mundial 1982. O seu bigode ficou, e depois da sua carreira de jogador foi presidente da federação polaca por nove anos, antes de se tornar vice-presidente da UEFA.
Textos de Tomasz Wlodarczyk, que escreve para o Meczyki.