Os últimos tempos levantaram algumas dúvidas relativamente às reais possibilidades de Portugal no Mundial, muito por causa de duas derrotas com golos perto do fim. Primeiro com a Sérvia (1-2), a atirar a equipa de Fernando Santos para o playoff de apuramento para o Mundial, no qual bateu Turquia e Macedónia do Norte para garantir uma vaga. E depois a derrota com a Espanha, também em casa, a impedir a presença na fase final da Liga das Nações.
Dois jogos que exemplificam a inconsistência da equipa, que alterna momentos de futebol atrativo com outros em que regride com medo de ser feliz. Uma equipa capaz de golear Suíça e Rep. Checa, mas que sente dificuldades nos dois jogos com a Irlanda.
Apesar destes sobressaltos, o otimismo de Fernando Santos parece tão ou mais elevado do que em 2016, quando anunciou que só ia regressar a casa depois da final, e fê-lo com o título europeu. «O melhor está para vir. Mais concreto não posso ser. O melhor está para vir e é este ano», promete o treinador, que ainda ganhou a Liga das Nações em 2019.
A combinação entre quantidade e qualidade é mais do que suficiente para pensar num inédito título mundial, mas Portugal chega ao Qatar com duas enormes interrogações em torno de figuras incontornáveis. Pepe, a caminho dos 40 anos, esteve em risco de falhar a prova por motivos físicos, enquanto que Cristiano Ronaldo, estrela maior, teve de lidar com uma circunstância nova na carreira, a de ser dispensável, e logo num clube onde já tinha deixado legado.
Apesar destas incógnitas, Fernando Santos deve manter a aposta no 4x3x3, que muitas vezes se transforma em 4x4x2, por força da movimentação de Bernardo Silva, da direita para o meio. A lesão de Diogo Jota pode beneficiar Rafael Leão, o melhor jogador da Serie A na época passada, e candidato mais natural ao lado esquerdo do ataque.
O título europeu conquistado em 2016 garantiu a Fernando Santos um patamar elevado na história do futebol português, mas os resultados posteriores têm desgastado parte do crédito conquistado então. É verdade que Portugal conquistou também a primeira edição da Liga das Nações, em 2019, mas no ano anterior tinha sido eliminado nos oitavos de final do Campeonato do Mundo, e pela mesma ronda ficou no Euro2020, naquela que foi a pior prestação de sempre no torneio.
As dificuldades para chegar ao Mundial aumentaram as críticas, alimentadas pela derrota com a Espanha, que ditou o afastamento da final four da Liga das Nações. «Esta derrota não me belisca nada. Sofremos um golo no fim. Tenho contrato até 2024. Mais direto não pode ser», respondeu Fernando Santos.
O técnico agarrou-se ao conforto do contrato, mas a verdade é que esse documento também provocou algum desgaste na sua imagem, recentemente, já que teve de pagar 4,5 milhões de euros ao Fisco, que descobriu que Fernando Santos estava a receber o salário através de uma empresa, e não em nome individual.
«O meu caminho ainda não terminou. Vão levar um bocadinho mais de carga do Cris. Sinto-me ainda motivado, a minha ambição está lá em cima. Estou numa selecção com muitos jogadores jovens com um futuro extraordinário. Quero continuar a fazer parte da selecção no Mundial do Qatar e no Europeu de 2024. Assumo já».
Quando recebeu um prémio da federação portuguesa de futebol, no passado mês de setembro, Cristiano já enfrentava dúvidas relativamente à sua utilidade no Manchester United. No espaço da seleção nacional, onde ainda conserva um estatuto superior, Ronaldo decidiu marcar uma posição… temporal.
Mas a situação da estrela portuguesa agravou-se rapidamente nas semanas seguintes, perante a utilização reduzida, a escassez de golos e a relação tensa com Erik ten Hag. Dos jogos em que nem chegou a entrar aos jogos em que saiu muito cedo, Ronaldo chegou a um ponto inédito da carreira: afastado da equipa e a pedir desculpa nas redes sociais. «Por vezes, o calor do momento leva a melhor», escreveu.
Vencedor do Euro2016 e da Liga das Nações em 2019, William Carvalho tem sido uma peça imprescindível para Fernando Santos, e entra na lista para o Mundial com 75 internacionalizações. O médio tem estado em destaque também no Betis, clube pelo qual venceu a Copa del Rey, mas ainda assim tem pouco reconhecimento em Portugal. É verdade que a concorrência é feroz, na Seleção, mas ‘Sir William’ sente que atravessa o momento “mais consistente” da carreira.
4x3x3
Diogo Costa; Cancelo, Rúben Dias, Pepe, Guerreiro (Nuno Mendes); Ruben Neves, William Carvalho (Vitinha), Bruno Fernandes; Bernardo Silva, Cristiano Ronaldo, Rafael Leão
Tanto Fernando Santos como os jogadores da seleção portuguesa têm evitado ao máximo falar sobre a polémica em torno da escolha do Qatar para receber o Mundial, e a questão dos direitos humanos e das condições de trabalho na construção dos estádios. «São coisas que nos ultrapassam um pouco. Como jogadores, não há muito que possamos fazer. O mais importante, para nós, é que toda a gente esteja bem e seja incluída da melhor maneira. O futebol é para todos, e queremos que o Mundial seja uma grande festa, que toda a gente possa usufruir», respondeu Bruno Fernandes.
Patriótica desde a sua origem, «A Portuguesa» foi inscrita em 1890 (Henrique Lopes de Mendonça e Alfredo Keil), e apelava ao orgulho nacional perante o «Ultimato inglês», que obrigou Portugal a retirar dos territórios africanos entre Angola e Moçambique.
Começa por falar em «heróis do mar», «nobre povo» e «nação valente», para terminar com uma mensagem mais combativa: «Pela pátria, lutar. Contra os canhões, marchar, marchar!».
Como a monarquia portuguesa tinha cedido ao «Ultimo Inglês», «A Portuguesa» só se tornou hino em 1911, um ano depois da implantação o regime republicano.
Paulo Futre jogou no Mundial de 1986, com apenas 20 anos, mas teve a infelicidade de brilhar num período em que o fado habitual de Portugal era falhar Campeonatos da Europa e do Mundo. Mas enquanto os joelhos permitiram, Futre apaixonou muitos adeptos com um pé esquerdo encantado. Dos poucos jogadores que passaram pelos três maiores clubes portugueses, mas idolatrado sobretudo no Atlético de Madrid.
Mesmo depois de pendurar as chuteiras não perdeu o carisma. Em 2011, na condição de diretor desportivo de um candidato à presidência do Sporting, disse que ia contratar «o melhor jogador chinês» para ter «voos charters provenientes da China todas as semanas», com 400 ou 500 pessoas para ver os jogos.
Nos últimos anos tornou-se também uma estrela televisiva, entre anúncios de estimulantes sexuais e participações como ator, para além de comentador de futebol. No passado mês de outubro esteve no Estádio da Luz a comentar o Benfica-PSG, da Liga dos Campeões, e decidiu que queria um autografo de Messi na nova camisola do Atlético de Madrid que lhe tinham oferecido. Ainda antes do jogo decidiu ir até ao túnel de acesso, para espanto dos seguranças e dos responsáveis da UEFA, mas lá apanhou o argentino: «Ao longo da minha vida só pedi autografo a um jogador: Maradona. E como só houve dois esquerdinos melhores do que eu, agora queria do Messi.»