Não é difícil entender o plano sérvio: é marcar golo. E depois disso? Bem... marcar mais golos. Se há algo inquestionável nesta seleção, por estes dias, é o enorme potencial no ataque. As oportunidades que criam frequentemente vêm do meio-campo. Sergej Milinkovic-Savic e Dusan Tadic são capazes de pautar a maior parte dos jogos, são o coração do meio-campo e oferecem perceção à equipa de Stojkovic. E à frente deles há Aleksandar Mitrovic e Dusan Vlahovic, duas máquinas goleadoras que atravessam momentos de forma letais.
Além disso, a Sérvia tem extremos rápidos, capazes de cruzamentos de grande qualidade, pelo que é fácil perceber porque são uma equipa ofensiva. Os adversários têm de lidar com bolas vindas do meio-campo ou dos flancos para os avançados, com uma terceira alternativa a serem bolas longas para os jogadores-alvo, famintos por conquistar qualquer segunda bola. «A Sérvia está no auge do seu futebol», disse Veljko Paunovic, o treinador que venceu o Mundial sub-20 em 2015 e, entre outros, treinou o Reading. «Vão certamente apontar alto, e isso está a despontar o melhor de cada um».
Contra seleções mais fortes é esperado que a Sérvia jogue em 5x3x2, com os alas a terem importantes tarefas defensivas. Se Stojkovic esperar um jogo mais fácil – ou equilibrado – então provavelmente será um 3x4x3, com Tadic atrás de Vlahovic e Mitrovic.
Durante anos, algumas pessoas na Sérvia queriam que a seleção jogasse com uma defesa a três, mas foi apenas quando os antigos capitães Aleksandar Kolarov e Branislav Ivanovic penduraram as chuteiras que isso começou a ganhar força. Parece dar mais segurança que um bloco de quatro defesas, e é agora o modelo defensivo habitual.
Antes do crucial jogo com Portugal, em Lisboa, um jornalista sérvio perguntou a Dragan Stojkovic se sentia que a Sérvia festejaria a presença no Qatar, no fim das contas. O treinador respondeu: «O que queres dizer com ‘no fim’? Não há pontos de interrogação. Vamos ao Mundial», respondeu. Stojkovic respira confiança e isso está relacionado com resulta da grande carreira enquanto jogador. Os jogadores confiam a 100 por cento nas suas ideias. Depois do primeiro treino, um deles brincou: «Onde estiveste toda a minha vida?». Stojkovic resume a sua filosofia como treinador: «Não é suficiente ganhar – como ganhamos é também importante. Queremos jogar bem, jogar futebol ofensivo e marcar muitos golos.»
Podia ser qualquer um do quarteto Sergej Milinkovic-Savic, Dusan Tadic, Dusan Vlahovic ou Aleksandar Mitrovic. E nenhum estaria errado. 'SMS' é muito cobiçado no mercado, Vlahovic uma estrela ascendente na Juventus, e Mitrovic uma certificada máquina de golos na Premier League. Mas o líder da equipa ainda é Tadic, capitão do Ajax. Passou de ausente a figura instrumental. O jogador que compreende exatamente o que Stojkovic quer da equipa. É um exemplo para todos os outros jogadores.
É difícil encontrar um nome, já que a maior parte dos jogadores têm sido elogiados pela imprensa, mas Filip Kostic é, talvez, a melhor opção. O seu nome nunca é mencionado quando se discute o melhor jogador sérvio, mas depois de uma fantástica época em Frankfurt, mudou-se para a Juventus, para servir Dusan Vlahovic. Mas ainda mais impressionante é a telepatia que liga o canhoto a Aleksandar Mitrovic na seleção da Sérvia. Kostic corre muito e é totalmente dedicado à equipa. «É muito sério e focado», disse o selecionador. «Quando está em campo sabes que vão chegar bons cruzamentos à área. É como a Frecciarossa (o comboio italiano de alta velocidade).»
3x4x1x2)
V. Milinković-Savić; Milenković, S. Mitrović, Pavlović; Živković, Lukić, S. Milinković-Savić, Kostić; Tadić; A. Mitrović, Vlahović.
Os jogadores sérvios não se pronunciaram sobre a situação dos direitos humanos no Qatar, e as condições dos trabalhadores migrantes. A federação sérvia também não tem uma posição oficial. A opinião geral na Sérvia é que «o futebol é o foco, e o foco não deve sair do futebol», para falar de outros assuntos, seja a guerra na Ucrânia ou os problemas no Qatar. Dusan Tadic, o capitão, não vai usar a braçadeira com as cores do arco-íris no Mundial.
O hino nacional «Bože pravde» («Deus da Justiça«) foi escrito em 1872, como parte do teatro «Markova sablja» («O Sabre de Mark»). Pouco depois tornou-se o hino do Reino da Sérvia. Depois da II Guerra Mundial, quando a Jugoslávia se tornou numa república, o hino era «Hey Slavs», ainda popular em algumas partes da sociedade sérvia, hoje em dia. «Deus da Justiça» voltou como hino oficial em 2006, quando Montenegro se desanexou da Sérvia, mas as letras foram alteradas. Em vez de «Deus salva, Deus protege, o rei sérvio, o povo sérvio», é agora «Deus salva, Deus protege, a terra sérvia, a raça sérvia.»
«É uma lenda», disse Arsène Wenger quando lhe perguntaram sobre Dragan Stojkovic. E qualquer cidadão da Sérvia diria o mesmo. 'Piksi', como era carinhosamente conhecido, é um objeto de adoração. No Mundial 1990, o último da Jugoslávia como nação, marcou dois golos fantásticos nos ‘oitavos’, contra a Espanha, e foi o melhor em campo nos 'quartos', contra a Argentina de Diego Maradona. Após o fim da Jugoslávia continuou a ser o líder e capitão da seleção. «Piksi não estava abaixo de Cruyff, Maradona ou Pelé», disse recentemente Batistuta, enquanto Dejan Savicevic acrescentou: «Ele até era melhor que eu.»
Textos de Uros Jovicic, que escreve para o The Nedeljnik.