A Tunísia mudou de selecionador em janeiro, com Jalel Kadri a substituir Mondher Kebaier, mas joga com o mesmo sistema há anos. Apesar de tudo, chegou aos quartos de final da CAN, nos Camarões, este ano, e às meias-finais do mesmo torneio em 2019.
A maior parte dos jogadores que participaram no Mundial 2018 ainda estão na seleção, mas desde 2019 que tem sido feito um bom trabalho a atrair jogadores com dupla nacionalidade, como Hannibal Mejbri (emprestado ao Birmingham pelo Manchester United), Aïssa Laïdouni (Ferencvaros), Omar Rekik (Sparta de Roterdão, por empréstimo do Arsenal), Yan Valery (Angers), Chaïm Jbali (Lyon) e Anis Ben Slimane (Brøndby), por exemplo.
A Tunísia chega ao Mundial em boa forma. A derrota por 5-1 com o Brasil, em setembro, foi a primeira desde a chegada do novo treinador. A equipa venceu a Kirin Cup, no Japão, ao bater o Chile (2-0) e a equipa anfitriã (3-0), naquela que foi a primeira vitória sobre a seleção nipónica.
Kadri disse sobre a derrota frente ao Brasil: «Respeitámos demasiado o adversário. É uma equipa grande, com enorme potencial, mas o resultado é demasiado pesado. Fomos dignos na segunda parte, mas completamente surpreendidos no princípio do jogo. Ainda assim foi um bom teste contra uma seleção de grandes ambições no Mundial. Não devemos ter vergonha do resultado e devemos aprender com os erros.»
Uma preocupação é a forma do capitão, Youssef Msakni, de 31 anos, que se lesionou pelo Al Arabi, do Qatar. Causa naturalmente preocupação, até porque já tinha perdido o Mundial 2018 com uma lesão nos ligamentos cruzados, mas parece ter recuperado bem e vai participar no Qatar. Pode ser o seu último Mundial antes da retirada.
Kadri adota habitualmente um 4x3x3 ofensivo, mas joga num 4x5x1 contra adversários superiores. O estilo de jogo tunisino tem por base o seu meio-campo forte.
A Tunísia chegou ao Mundial 2022 como vencedora do grupo de qualificação, à frente da Guiné Equatorial, Zâmbia e Mauritânia. Depois, no play-off, venceu o Mali por 1-0, no agregado, para assegurar a sua 6.ª presença no Mundial.
Um treinador de mente aberta, de 50 anos, Jalel Kadri foi apontado selecionador depois de várias estadias em clubes da Tunísia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Líbia. Kadri também foi por duas vezes adjunto da Tunísia, em 2013 e 2021-2022.
As pessoas no país «apaixonaram-se» por ele quando liderou a equipa numa importante vitória sobre a Nigéria, na CAN, em janeiro, enquanto o selecionador de então estava ausente devido a COVID. Depois do torneio foi nomeado selecionador permanente, e desde aí perdeu apenas um jogo, registando cinco vitórias e dois empates, com sete jogos sem sofrer golos. «Se não chegarmos às fases a eliminar do Mundial, vou-me embora», disse num programa de televisão há umas semanas. «Tenho um contrato baseado em resultados e sermos eliminados na fase de grupos será um falhanço para mim.»
O capitão. Talvez as pessoas esperassem dele uma carreira melhor, mas escolheu juntar-se ao Al Duhail, do Qatar, em 2013, e só esteve seis meses na Europa, no KAS Eupen, da Bélgica. Na seleção é, contudo, um jogador-chave, oferecendo soluções em situações difíceis. Os adeptos sabem do que é capaz, e esperam dele cada vez mais. O Mundial 2022 pode ser o seu último. Msakni perdeu o anterior devido a lesão, e no Qatar será o jogador com maior responsabilidade nos ombros. É a estrela da equipa, mesmo que haja críticos.
O médio de 25 anos, do Ferencvaros, escolheu jogar pela Tunísia embora Argélia e França também fossem opções. É simplesmente uma obra-prima, calmo e muito eficiente. Com 24 internacionalizações, é um dos jogadores mais utilizados desde que se juntou à seleção, em março de 2021. Laïdounï tem potencial para ser o herói da seleção no Mundial, e o seu talento pode atrair alguns clubes europeus. Os tunisinos esperam que deixe o Ferencvaros por um clube maior depois do Mundial.
Os jogadores evitam falar de problemas fora do desporto. Além disso, mais de 30 mil tunisinos trabalham e vivem no Qatar. A Tunísia tem também muitos jogadores e técnicos a trabalhar em clubes do país e, portanto, esse tópico não foi discutido por ninguém na Tunísia. Qatar e Tunísia são ambos países muçulmanos, e têm uma forte relação entre eles. Para jogadores, staff e administrativos, falar de problemas além do desporto não é proibido, mas também não é prioritário. Estão todos focados em passar da fase de grupos.
Ḥumāt al-Ḥimá (“Defensores na Terra Natal/Terra Mãe”) é o hino nacional. Foi escrito nos anos 30 por Mostafa Saadeq Al-Rafe'ie (poeta egípcio nascido no Líbano) e por Aboul-Qacem Echebbi (poeta tunisino), que escreveu os últimos versos (1955). A música foi composta por Ahmed Keireddine. Foi adotado hino nacional em novembro de 1987 e é popular no país.
Aqui está o refrão:
Ḥumāt al-ḥimá yā ḥumāt al-ḥimá: “Defensores da Terra Natal”
Halummū halummū li-majdi iz-zaman: “Em torno da glória do nosso tempo!”
Laqad ṣarakhat fī ʿurūqinā ad-dimā: “O sangue surge-nos nas veias,”
Namūtu namūtu wa-yaḥyā al-waṭan: “Morremos pela nossa terra.”
Vários jogadores fizeram história, mas os mais conhecidos são Tarek Dhiab (jogador africano do ano em 1977) e Hamadi Agrebi. Fizeram ambos parte da seleção que participou no Mundial 1978, na Argentina, e contribuíram para a primeira vitória da Tunísia num Mundial, batendo o México por 3-1, em Rosario. Tarek Dhiab e Hamadi Agrebi ainda continuam na memória dos adeptos. Dhiab trabalha na BeIn Sports, enquanto que Hamadi Agrebi infelizmente faleceu em 2020.
Textos de Adala Ahmed, jornalista da Radio Mosaique FM.