A ideia partiu de Ana Ferreira, 23 anos, assistente de comunicação e imagem. «Um amigo nosso que trabalha na mesma empresa participou na primeira comitiva portuguesa a entrar no rally. Ele fez-me crescer o bichinho e este ano decidi eu aventurar-me». Depois disso falou com Carla Coutinho, 26 anos, engenheira informática. Formou-se a equipa. A René¿s Kitchen Girls. «Porquê? Porque gostamos do Allô Allô e porque somos miúdas corajosas».
Inicialmente eram três, mas a Andreia foi riscada. «Não se mexia, não arranjava dinheiro, ficou de fora». Este rally tem essa particularidade, aliás. Ao contrário do Lisboa-Dakar, a organização não se responsabiliza por coisa nenhuma para além de estabelecer as regras e oferecer uma ou outra noite de estadia em hotéis no fim de certas etapas. O resto tem de ser tudo custeado pelos participantes. Mas mesmo tudo.
Até agora gastaram cada uma cerca 1800 euros. «É difícil conseguir patrocínios», conta Ana. «Arranjámos um mecânico que nos fez 200 euros de desconto no arranjo e nos deu peças para o carro, arranjámos uma esteticista que nos ofereceu protectores solares, shampoos, sabonetes e produtos de beleza, a Lipton ofereceu-nos Ice Tea e a empresa onde trabalhamos, a Multicert, pagou-nos as passagens de avião de regresso».
Um Renault 19 que, ainda por cima, anda...
A procura do carro foi porém a maior preocupação. Desde Maio, quando souberam que tinham sido aceites na prova, que as duas iniciaram a busca incessante de um carro. Três meses depois, em Agosto, encontraram o menino dos seus olhos: um Renault 19, de 1989. Com pouco mais de 17 anos, portanto. O dono pedia cerca de 500 euros, mas acabou por negociá-lo por 275. A melhor notícia, porém, é que já nessa altura andava.
Depois foi tempo de o fazer rejuvenescer. Entregaram a tarefa ao sr. Serafim, mecânico em Leça do Balio. Mudou-se-lhe os pneus, as escovas limpa-vidros, o óleo do motor, o filtro do óleo, o filtro do ar, o jogo de velas, as lâmpadas, as cintas traseiras, a correia do alternador, a bombite traseira, alinhou-se a direcção e um pequeno milagre aconteceu. «Passou na revisão», sorriem. «Depois foi só comprar o selo».
Enfim, o que pode correr mal?