Se treinar no Benfica já seria um sonho para muitas crianças portuguesas, imagine o que representaria para dois jovens futebolistas criados entre as barreiras invisíveis do continente africano. Hamis Thabit e Mbwana Samatta, duas promessas do futebol tanzaniano, andam nas nuvens há alguns meses, perante a possibilidade de ter a águia ao peito, nem que seja por alguns dias.

Uma notícia do jornal «Citizen», de Dar es Salaam, anuncia mesmo que os jogadores viajam nesta quarta-feira. Uma informação fundamentada com declarações do treinador do African Lyon, clube ao qual pertencem. «Já têm os vistos assegurados e vão estar duas semanas à experiência», garante Rahim Kangezi.

A realidade não é bem assim, ao que apurou o Maisfutebol. De facto, os dois jogadores foram sugeridos ao Benfica, que mostrou disponibilidade para os receber à experiência, quando Rui Águas era ainda o coordenador da prospecção do futebol juvenil encarnado. A questão é que o processo burocrático arrastou-se, por força do atraso na obtenção dos vistos, e o líder do recrutamento de jovens até já é outro (voltou Bruno Maruta). Samatta até já só tem seis meses para jogar no escalão júnior, enquanto que Thabit pode ainda competir um ano e meio com os sub-19.

«São jogadores acima da média»

Enquanto o processo não se resolve, a dupla tanzaniana continua de malas feitas, com a cabeça nas nuvens. «Para eles é um sonho», explica Eduardo Almeida, técnico português que orientou o African Lyon na época passada e que indicou estes jogadores ao Benfica, onde também trabalhou.

«São jogadores acima da média. Conheço bem a realidade do Benfica, pois já lá trabalhei, e têm potencial para jogar na formação. São superiores a muitos jogadores que estão lá. Para jogar nos seniores é diferente. É preciso margem de progressão e adaptação ao futebol europeu», explica Eduardo Almeida ao Maisfutebol, antes de analisar os dois jovens: «O Thabit é um médio centro, construtor de jogo, que joga atrás dos avançados. É muito bom tecnicamente e no passe longo. A fraqueza é o físico. Tem pouca formação, também, como todos os jogadores africanos. Com idade de juvenil já jogava nos seniores, quando eu lá estava. Já foi chamado à selecção principal da Tanzânia, mas ainda não jogou. O Samatta é um avançado muito rápido, e tecnicamente muito evoluído. É mais forte fisicamente que o colega. Já é internacional «AA» pela Tanzânia, e quando eu lá estava fazia os golos todos da minha equipa.»

Oriundos de um país com escassa visibilidade futebolística, Thabit e Samatta são vistos como dois exemplos do desenvolvimento que os dirigentes tanzanianos pretendem conquistar. A hipótese de treinarem no Benfica não está garantida, mas mesmo que esse sonho não se realize, estará em cima da mesa uma mudança para a Europa, sempre com o futebol português no horizonte mais próximo.