Depois do Adeus é uma rubrica do Maisfutebol dedicada à vida de ex-jogadores após o final das suas carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como passam os seus dias? O dinheiro ganho ao longo dos anos chega para subsistir? Confira os testemunhos, de forma regular, no Maisfutebol.

21 de junho de 1999. Edgar Caseiro é apresentado como reforço do Valência, após uma separação conturbada do Benfica. O clube encarnando instaurou um processo disciplinar ao jovem, impedindo-o de frequentar as instalações do clube. Espanha surgia no horizonte.

Edgar Caseiro, o promotor de eventos no Luxemburgo

Os adeptos do Benfica já conheciam aquele nome. A promessa tinha trabalhado várias vezes com o plantel principal, depois de ter sido campeão da Europa em sub-16. As partes viriam a afastar-se na transição para o futebol sénior.

«Cometi alguns erros, é certo. Justifico algumas coisas com a falta de amadurecimento nessa idade, entre os 17 e os 18 anos. É uma fase crucial para o futuro de um jogador e deve haver um acompanhamento mais eficaz dos clubes», começa por explicar.

Não é caso único, longe disso. «Os jogadores nessa idade ainda não estão preparados para o mediatismo e as tentações. Pensamos que sabemos tudo, ganha-se mais dinheiro, é difícil manter a humildade sem acompanhamento. Há exceções como Figo, como Ronaldo, como Simão, mas muitos outros que não apresentam a maturidade necessária.»

«Eu nessa altura ainda não estava bem acompanhado e cai nas tentações como outros, tinha a vida mais folgada, claro que se passou a sair mais à noite... As coisas eram muito fáceis...»

Edgar Caseiro deixa o aviso: os clubes portugueses devem repensar a sua forma de olhar para os jovens. «Falta mais apoio psicológico. Grande parte das pessoas nos clubes não tem formação e, mais tarde, também olham de forma diferente para os portugueses e os estrangeiros.»

«Em Espanha, onde joguei, ou em Inglaterra o estrangeiro tem de jogar mais que o jogador nacional. Os espanhóis são muito patrióticos. Em Portugal, parece acontecer o contrário. Desperdiça-se o talento, os clubes não fazem contratos extensos com jovens e parece dar mais jeito a vários dirigentes comprar jogadores lá fora», desabafa.

«Limpei a imagem mas nada mudou em Portugal»

Edgar Caseiro partiu para o Valência no verão de 1999 e garante ter amadurecido. «Em Espanha, limpei a minha imagem. Claro que tive parte da culpa naquela fase mas as pessoas nunca mais esqueceram isso.»

«Aliás, cometi um erro quando decidi voltar ao futebol português». Em 2003, o antigo médio terminara a época na equipa B do Valência e recebera um convite do F.C. Maia. Optou pelo regresso ao seu país. «Podia ter ficado, a jogar do Sp. Gijón e do Castellón.»

Seria o início do fim. «O F.C. Maia estava com graves problemas financeiros. Fiz essa época, ainda joguei mais um mas já estava a preparar o futuro. Já me andava a sentir deslocado do futebol, sobretudo em relação às pessoas que andam à volta do futebol. Tinha limpado a minha imagem mas percebi que nada mudou em Portugal. Olhavam-me da mesma forma.»

«Decidi então deixar a carreira de jogador aos 25 anos. Estava a ganhar mais fora do futebol e tive a sorte de estabilizar a minha situação financeira graças à passagem pelo Valência. Entretanto, dediquei-me ao booking, à promoção de eventos. É isso que quero explorar agora no Luxemburgo, depois de ter feito o mesmo em Portugal», remata Edgar Caseiro, em conversa com o Maisfutebol.

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