Efeméride é uma rubrica que pretende fazer uma viagem no tempo por episódios marcantes ou curiosos da história do desporto, tenham acontecido há muito ou pouco tempo. Para acompanhar com regularidade, no Maisfutebol.
10 e 24 de abril de 2003, há 13 anos. O Boavista, «clube das camisolas esquisitas» [como tinha apelidado o italiano Zenga em 1991], volta a brilhar na Europa. Deixa pelo caminho equipas como PSG, Málaga, Herta de Berlim e Maccabi Telavive e fica a um passo de chegar à final da Taça UEFA [antecessora da Liga Europa]. Um sonho que parecia possível após um empate na Escócia, mas que acabou por se esfumar no Bessa.
O Boavistão europeu
Foram temporadas áureas para os homens do Bessa. Depois do título nacional, conquistado em 2000/2001, os axadrezados marcaram presença, na temporada 2001/20012, na primeira fase de grupos da Liga dos Campeões.
Num grupo com Liverpool, Borussia Dortmund e Dínamo de Kiev, o Boavista foi segundo, atrás dos ingleses, e passou para a segunda fase de grupos. Aí, encontrou os colossos Manchester United e Bayern Munique, além do Nantes. O terceiro lugar no grupo, apenas à frente dos franceses, acabaria por ditar a despedida.
Mas na época seguinte (2002/2003), graças segundo lugar no campeonato, o Boavista voltou a marcar presença na pré-eliminatória da Liga dos Campeões.
Primeiro, teve que se bater com os malteses do Hibernians, numa eliminatória em que os boavisteiros venceram por 7-3. Depois, um empate e uma derrota com o Auxerre leva os axadrezados para a Taça UEFA… e foi o melhor que lhes podia ter acontecido
A caminhada dos golos fora
Em 19 setembro de 2002 começa a caminha do Boavista na Taça UEFA com uma deslocação a casa do Maccabi Telavive. Uma derrota por 1-0 em Israel foi facilmente colmada por uma vitória por 4-1 no Bessa, deixando os israelitas pelo caminho.
O próximo adversário veio do Chipre e não trouxe grandes problemas. Uma vitória por 2-1 em casa, frente ao Anorthosis Famagusta, e uma vitória por 1-0 no Chipre, permitiram aos axadrezados continuar em frente.
Na terceira eliminatória, o nome do adversário já era mais sonante: PSG. A jogar durante quase uma hora com mais um, o Boavista foi ao Parque dos Príncipes perder por 2-1.
O golo, marcado em Paris por Luiz Cláudio acabaria por ser essencial, já que, no Bessa, os axadrezados venceram por 1-0.
Com a eliminatória empatada por 2-2, valeu o golo marcado fora para fazer o Boavista seguir em frente.
Próxima paragem: Alemanha. Pela frente, nos oitavos de final, o Boavista teve o Hertha de Berlim.
Na primeira mão, jogada na capital alemã, os axadrezados perderam por 3-2. Na segunda mão, no Bessa, o argentino Ávalos marcou aos 84 minutos o golo da vitória por 1-0. Mais uma vez, os golos marcados fora acabariam por decidir a eliminatória.
Um golo por assinalar e Ricardo a mostrar como se marcam penáltis
Nos quartos de final o sorteio ditou o Málaga na sorte axadrezada e aí já foi preciso sofrer.
O Málaga venceu por 1-0 em casa, na primeira mão. No Bessa, um golo de Luiz Cláudio, aos 83 minutos, dá a vitória por 1-0 ao Boavista no tempo regulamentar.
No prolongamento, o marcador não mexeu e a decisão acabou por ser feita através de grandes penalidades, o que teria sido escusado se o árbitro tivesse validado um golo do Boavista num lance em que o guarda-redes do Málaga defendeu já dentro da baliza.
Nos penáltis, o guarda-redes Ricardo foi o primeiro a bater e a mostrar como se faz. Alexandre Goulart, Luiz Cláudio e Elpídio Silva seguiram o exemplo e não desperdiçaram. Para o Málaga, apenas Miguel Ángel conseguiu converter. López Bravo e Ivan Leko desperdiçaram e os espanhóis ficaram pelo caminho.
O especialista em penáltis a brilhar
Chegámos assim a abril de 2003 e há apenas quatro equipas em prova. Além do Boavista, estão FC Porto, Lázio e Celtic. São os escoceses que saem na rifa dos axadrezados.
A primeira mão realizou-se em Glasgow, no dia 10 de abril, e a sorte até sorriu aos homens do Bessa. Aos 48 minutos, um passe em profundidade de Martelinho para Filipe Anunciação, este cruza para a área e Joos Valgaeren, ao tentar fazer o corte, empurra para a baliza. Henrik Larsson fez o empate no minuto seguinte, e ainda teve nos pés o 2-1.
Aos 74 minutos, o árbitro assinala grande penalidade favorável ao Celtic. Henrik Larsson, frente a Ricardo, remata e o guarda-redes boavisteiro responde com uma grande defesa.
O marcador não voltou a mexer e o empate na Escócia dava muita margem de manobra aos boavisteiros para o jogo da segunda mão em casa.
A vingança serviu-se fria
O entusiasmo era grande para os lados do Bessa e tinha um ingrediente especial: com o FC Porto a ter vencido a Lazio por 4-1 na primeira mão, antevia-se a possibilidade de uma final entre as duas equipas da cidade.
Ao Boavista até servia um empate a zero para seguir em frente, mas o Celtic não estava para aí virado e estragou os planos boavisteiros.
«Cientes de que tinham de lutar por um resultado positivo, os escoceses entraram com tudo, explorando as pretensas debilidades adversárias, devido à ausência do muito influente Paulo Turra (castigado). Do nervosismo inicial, com algumas falhas de Éder e Ávalos, bem como o medo de Martelinho, que ainda não sabia qual seria a sua disponibilidade física, o Boavista foi crescendo, desinibindo-se à medida que Ricardo ia dando tranquilidade e os contra-ataques iam saindo com cada vez mais perigo», pode ler-se na crónica do Maisfutebol publicada na altura.
As duas ocasiões de golo da primeira parte pertencera aos boavisteiros. Primeiro foi Pedro Santos, que aos 36 minutos fez a bola quase roçar o poste, depois foi Silva, que obrigou Douglas a efetuar uma excelente defesa.
Tudo estava bem encaminhado e a final de Sevilha à vista quando, aos 78 minutos, Sutton e Larsson combinaram de forma espetacular, abrindo uma brecha inédita no sector mais recuado dos axadrezados, e o sueco não falhou.
Depois de ter visto Ricardo roubar-lhe o golo ao defender a grande penalidade na primeira mão, Larsson vingou-se e fez o 1-0 que permaneceria até final.
O jogo terminou com a festa de cerca de três mil adeptos escoceses e com choro dos jogadores axadrezados. O sonho da final morreu a 12 minutos do fim, mas não tirou a glória àquela que foi a mais bem sucedida caminhada boavisteira nas competições europeias.