Chama-se Enoque Trindade e é porventura a pessoa mais importante na carreira de Elias. Durante um ano inteiro, quando o médio leonino caiu numa depressão que não lhe permitia sequer sair de casa, foi Enoque Trindade que o arrancava da cama para com ele trabalhar de manhã e de tarde.

A história já foi contada no Maisfutebol pelo pai do jogador, Eliseu Trindade: o jogador ficou desempregado, sem dinheiro e sem clube. Não encontrava uma saída para a carreira. Pensou até deixar o futebol. Foi tudo uma bola de neve de emoções que o levou ao lado negro da vida.

Nessa altura valeu-lhe o tio: Enoque Trindade. É professor de educação física e tem um curso de tecnologia do desporto tirado com Branco, Roque Júnior e Beletti. «Em 2007 eu tirava-o da cama para trabalhar com ele duas vezes por dia: treino físico de manhã e treino de futebol à tarde», conta o tio.

Projeto Elias: o golo da vida do craque leonino

Quem viu ontem Elias encher o campo frente ao Benfica, não suspeitava que o brasileiro já esteve tão perto de deixar a carreira. Mas foi também por aí que Elias se transformou num médio de valor. «Sempre foi avançado, vi-o jogar no Palmeiras e safava-se bem porque caía muito para a direita.»

«Depois desse ano parado, quando foi fazer um teste ao São Bento, o Rincón tornou-o médio. Na altura ele não gostou muito, mas eu até falei com ele e disse-lhe que era a melhor posição para ele. No início foi médio ofensivo, depois Mano Menezes transformou-o em número 8 no Corinthians.»

Ontem alinhou como número seis, ao lado de Schaars, e tornou-se o melhor jogador do Sporting em campo. Quase para toda a crítica. «Tenho gostado muito de o ver como trinco. Acho que aquele ano que passou sem clube, deu-lhe bases para ser um trinco ou um segundo trinco de muita qualidade.»

A explicação é fácil, adianta Enoque Trindade nesta conversa com o Maisfutebol. «Quando esteve sem clube, ele trabalhava comigo durante a semana e jogava nas quadras do bairro ao fim-de-semana. Participou até num torneio que se chamava Copa Kaiser. O futebol de salão fê-lo melhor jogador.»

«No futebol de salão todos os jogadores têm de marcar forte e sair rápido para o ataque. Ele ganhou uma intensidade forte, uma potência muito grande. É isso que se tem visto: o Elias marca bem, recupera bolas e sai rápido para o ataque. Além disso remata bem de longe. É perfeito para o lugar.»

Elias a fundo: 90 minutos bem passados

Ora notando que no derby com o Benfica, que viu pela televisão, notou «a influência do futsal no futebol dele», o tio Enoque adianda que saiu do jogo grande de Lisboa deliciado. «Podíamos ter goleado», adianta, como se fosse o sportinguista de toda uma vida. «Perdemos muitos golos.»

Elias, lá está, equilibrou o futebol leonino, dando-lhe asas para atropelar o adversário. A família festejou nas redondezas de São Paulo. «Logo no final do jogo liguei ao meu irmão, pai do Elias. Mais logo vou falar com o Elias sobre o jogo dele e vou dar-lhe os parabéns. Esteve muito bem.»

Ao contrário de outras vezes, esta semana não tem reparos a fazer ao sobrinho. «Foi um jogo fantástico. Ele teve uma intensidade muito grande, esteve sempre em jogo. E os adeptos...? Adorei os adeptos. A torcida do Sporting é fantástico, muito forte.» É um facto: o Sporting anda de sorriso.