O Campo Santo André, em Morais, Macedo de Cavaleiros, e o Campo Domingos Patalino, em Elvas, estão longe do requinte do Estádio do Dragão. Mas as realidades tão distintas tocam-se num ponto: todos eles abrigam equipas imbatíveis. Com uma menção extra: o Morais FC e o Elvas somam por vitórias todos os jogos que efectuaram. Em Portugal, quando se fala de equipas seniores federadas, mais ninguém o conseguiu.

As realidades podem não ser comparáveis, mas os feitos têm essa afinidade. O Elvas, líder da I Divisão da Associação de Futebol de Portalegre, está a realizar um campeonato de sonho. Venceu os 16 jogos já realizados do campeonato e mais um na Taça. Só no campeonato, já são 50 os golos marcados. «Há a ambição de manter esta série pelo máximo de tempo possível, porque estamos a contribuir para o nosso objectivo que é subir de divisão», afirma Jorge Almeida, treinador do emblema alentejano, em conversa com o Maisfutebol.

Mais a norte, no campeonato de Bragança, é o Morais a brilhar. Menos jogos, «apenas» 9, mas a mesma percentagem de sucesso: 100 por cento. E a melhor defesa da série, com dois golos consentidos. «Nota-se que os jogadores gostam de ganhar e, com as vitórias a aparecerem, aplicam-se ainda mais. Querem-se mostrar. Querem ir mais longe», sublinha o treinador do Morais, Marcelo. Ou melhor, um dos treinadores...

Morais: uma equipa, dois treinadores

A equipa de Trás-os-Montes é dirigida por dois homens: Marcelo e João Genésio. Nenhum é superior ao outro na hierarquia. «Os dois somos um. Planeamos os treinos os dois, definimos quem joga os dois, falamos à vez. Já trabalhamos assim há vários anos, quase desde o início da carreira e sempre correu bem», garante Marcelo.

Em Elvas, é apenas um homem a comandar o barco. Mas o clube não está entregue a qualquer um. «O futebol para mim não tem novidades. Ando cá há muitos anos. Sou bem mais velho que eles, mas até me chamam o Mourinho do Alentejo, ou o Villas-Boas do Alentejo. Com todo o respeito para com eles, porque as realidades não se podem comparar», frisa Jorge Almeida.

Ao contrário do Morais, de pecúlio mais modesto, o Elvas está longe de ser um desconhecido do futebol português. De 1986 a 1988, o emblema alentejano esteve no principal escalão do futebol português, com uma equipa que integrava nomes como Basaúla, Ulisses Morais, Vítor Pontes ou Soeiro. Actualmente a equipa é formada «por homens da terra». «Já não era assim há mais de 30 anos», lembra Jorge Almeida. O grupo actual integra mais dois membros da família Vidigal, Bruno e Tozé, e o brasileiro Glaedson, que passou pelo Santa Clara e Olhanense.

Elvas: «Somos o F.C. Porto dos distritais»

Em Morais a experiência é menor. «Temos um grupo jovem, com alguns nomes rodados nos clubes mais importantes cá da zona. Mas temos cá valores que podem dar o salto. Não digo para um nível profissional, mas, se calhar, semi-profissional», afirma Marcelo.

Para já, em ambos os clubes há a ideia de manter o estado de graça. «Cá em Bragança quase toda a gente se conhece e somos muito respeitados», diz o técnico do Morais. «Jogar contra o Elvas dá uma dupla motivação. Primeiro porque é uma equipa que tem tradição e depois porque temos estado a ganhar», frisa o responsável do clube alentejano.

Em ambos os casos há uma certeza: «Um dia vamos ter que perder». Até lá é aguentar a onda. E em Elvas não há pejo em comentar: «Pode-se dizer que somos o F.C. Porto dos distritais.»

Veja um golo de Glaedson pelo Elvas, em 2008: