DESTINO: 90's é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's.

EMERSON: BELENENSES E F.C. PORTO, DE 1992 A 1996

Sensivelmente a meio da conversa, o Maisfutebol questiona Emerson sobre como era trabalhar com Bobby Robson. A resposta sai em jeito de correção. «Como disse? Bobby Robson? Esqueceu o «Sir»! Tem de dizer sempre «Sir»...», atira, antes de romper numa gargalhada.

O brasileiro não tem dúvidas. «Era um grande homem, um grande treinador. Tem de ser «Sir». Que Deus o tenha», continua.

Mais a sério, Emerson fala num periodo de «grande aprendizagem» não só como jogador, mas também como homem. «Foi um paizão para mim», elogia.

«Ele pegava muito no meu pé e às vezes eu ficava chateado. Depois vinha o Mourinho e dizia-me para ter calma. «Se ele implica contigo é porque gosta de ti. Só se incomoda com quem ele gosta». E a verdade é que depois quase me levou para o Barcelona», revela.

Barcelona? Naturalmente quisemos perceber o processo. «É verdade, estive quase a ser jogador do Barcelona», conta Emerson ainda entre risos.

«Estava no Middlesbrough há cerca de seis meses e o «Sir» Bobby Robson veio falar comigo. Queria levar-me para lá. Eu fiquei todo entusiasmado, disse logo que ia, mas o clube não me quis vender. Ainda lhes disse que não me estava a adaptar bem a Inglaterra para os convencer, mas não mudaram de ideias», afirma.

Acabou por ficar por Inglaterra mais ano e meio. Foi para Espanha. Seguiram-se três anos no Tenerife, onde reencontrou Domingos. Dois no Deportivo, conhecendo Hélder e Pauleta. Mais um no Atlético de Madrid, ao lado de Dani. E uma mudança para a Escócia, para o Glasgow Rangers onde também chegou Capucho.

«É isso, Portugal esteve sempre do meu lado», brinca.

«Mourinho era mais um jogador do plantel»

Durante este período, o adjunto de Bobby Robson que confortava Emerson após as duras do treinador, ganhava estatuto e direito ao nome próprio. José Mourinho palmilhava terreno e Emerson nem ficava admirado.

«Não posso dizer que já sabia que ele ia ser o que é hoje. É mentira, claro que não. Mas com a inteligência que ele tinha e a experiência que ganhou a trabalhar com Robson e Van Gaal tinha de resultado em boa coisa», define.

O Mourinho que conheceu, garante, era «um espetáculo». «Muito atencioso e nosso amigo. Até dizíamos que ele era mais um jogador do plantel. Estava sempre connosco, vinha aos nossos convívios, participava nos joguinhos dos treinos. Tínhamos um relacionamento muito bom», conta.

Emerson e Deco: uma conversa sobre o Porto

Mesmo no Brasil, o F.C. Porto é tema de conversa. Basta para isso que Emerson se junte, por exemplo com Deco. «Estive com ele na última quarta-feira», conta.

«Quis saber como ele está, agora que deixou de jogar. Pareceu-me bem, tranquilo. Curiosamente estivemos a falar do Porto, sabia?», questiona. Quisemos saber, naturalmente, o teor da conversa.

«Ele diz uma coisa que tem razão: vamos, muitas vezes, ganhar mais dinheiro para outros clubes, mas não encontrámos mais nenhuma cidade como o Porto. Para mim, é a minha segunda casa», apelida.

Emerson recorda que até viveu mais tempo em Lisboa, mas prefere o norte. «E nem sei dizer bem porquê», diz entre risos. «Não sei se é por ser menor, mas o ambiente naquela cidade é especial. Transmite-nos uma coisa fora do normal que não sei explicar», acrescenta.

Antes da despedida, uma última confidência. «Sabe o que me disse o Deco? Começou a pegar no meu pé. A perguntar-me como é que eu nem sequer estava nomeado para o melhor onze de sempre do F.C. Porto. Fizeram aí uma votação não foi?», pergunta.

Explicámos que o onze, que tem Deco, está agora no novo Museu do Clube. «Tenho de ir visitar, então. Eu disse ao Deco: já viu a concorrência? A minha posição era muito forte. Muita gente mesmo», completou.

Emerson no Belenenses e no F.C. Porto: