O destino pode ter formas caprichosas de se cumprir. Numa perspectiva optimista, às vezes, basta estar no sítio certo no momento exacto mas há também o reverso da medalha, ou seja, estar no local errado numa altura inoportuna. Com Emídio Rafael aconteceu a segunda parte. O lateral-esquerdo da Académica nasceu para o futebol em Alvalade e cumpriu as várias etapas de formação lado a lado com alguns dos mais conhecidos jogadores da actualidade, casos de Miguel Veloso, Moutinho, Nani ou Djaló.

O auge dessa geração de 1986 aconteceu na época de 2004/05, quando, sob o comando de Paulo Bento, em ano de estreia como treinador, os leões voltaram a conquistar o título de campeões nacionais de juniores, nove anos depois da última vitória na prova. Foi também nessa altura que começou o azar para o jovem lateral-esquerdo, até então primeira opção para o lugar. «Fiz uma rotura dos ligamentos cruzado, fui operado, e, já depois de falhar os últimos jogos da temporada, passei os seis meses da seguinte em recuperação», desvenda ao Maisfutebol.
O dia em que conheceu Roberto Carlos
Seguiu-se um primeiro empréstimo, em Janeiro, ao Casa Pia e outro, na época seguinte, ao Real Massamá, sempre pela II Divisão B. Depois, com o final do contrato, Emídio Rafael preferiu tomar o seu destino em mãos e rumou ao Algarve para dois anos ao serviço do Portimonense na Liga de Honra. Numa carreira feita de pequenos passos mas sempre a subir, o último só poderia ser o salto para a Liga principal, proporcionado pela Académica, no início da época.

«Nem todos os jogadores dos juniores podem passar para o plantel principal», reconhece o jovem defesa e, afinal, também há muitos nomes dessa fornada que acabaram por ir parar aos escalões inferiores e ainda aguardaram por uma oportunidade, que poderá nunca chegar, para regressar a um primeiro plano competitivo.

Mas aquilo que Emídio Rafael não esconde, quando olha para a composição do actual plantel do Sporting, é que, se as circunstâncias tivessem sido diferentes, ainda poderia estar de leão ao peito: «Fico com essa sensação, sem dúvida. Tanto eu como as pessoas que me estão mais próximas e conhecem o meu valor pensam assim. Como em tudo na vida, também é preciso sorte nestas situações.»
Preparado para chegar à Selecção
É atrás da sua sorte que o lateral-esquerdo corre agora em Coimbra, onde garante sentir-se bem e procura evoluir cada mais. «Está a correr melhor do que eu pensava. Tenho sido opção no clube, voltei às selecções [sub-23]. Tem sido uma boa época tanto para mim como para a equipa e, claro está, quando o colectivo está bem, há mais hipóteses de sobressaírem as individualidades. Não teria chegado à selecção se não fosse a ajuda de todos no clube», reconhece.

Pela posição que ocupa e o impacto causado na sua primeira época na Liga, há quem acredite nas possibilidades de Emídio Rafael ter uma palavra a dizer num futuro não muito longínquo em termos de alternativa para a lateral-esquerda da principal equipa das quinas. O jogador não o admite directamente mais deixa clara a ambição: «Aquilo que penso sobre isso, fica para mim mas tenho a ambição de chegar o mais longe possível em tudo. O futuro o dirá. Não posso dizer que não trabalho diariamente para isso. Se chegar o mais longe possível para mim for isso, então estou mais do que preparado para lá chegar.»
O defesa dos estudantes rejeita, ainda assim, que o facto de não evoluir num dos grandes possa condicionar-lhe as hipóteses de chegar ao AA. «Há o caso do Rúben Micael, que beneficiou com a transferência para o F.C. Porto, mas ainda agora nos Sub-23 a Académica teve três jogadores, o Rio Ave dois... O próprio seleccionador referiu-se a essa equipa como a base para uma próxima competição da selecção principal, por isso não vejo qualquer limitação.»