A proposta milionária do Al-Rayyan para um final de carreira surgiu como uma daquelas oportunidades que só passam uma vez na vida e Lucho González não a quis deixar fugir. 4,5 milhões de euros por 15 meses de contrato é algo irrecusável, ainda para mais para um jogador com 33 anos e sem a vitalidade doutros dias. Ao FC Porto restou agradecer ao argentino pela entrega e qualidade oferecida ao clube ao longo de seis épocas.

A partida de Lucho pode deixar a equipa sem o seu comandante, mas no plantel existem soluções que Paulo Fonseca poderá aproveitar. Pelo menos em termos teóricos, dado que Lucho representava no balneário bem mais do que fazia em campo. Partiu o jogador influente que não estava a ser tão decisivo como na época passada, mas também deixou de haver aquele ídolo que impunha a sua opinião nos momentos certos. Este será o problema mais difícil de resolver, sendo também uma oportunidade para que outros líderes possam emergir (Maicon usou a braçadeira de capitão no último jogo).

A oferta-relâmpago do clube qatari deixou todos surpreendidos e nem deu a Lucho a oportunidade de se despedir dos adeptos, ao contrário do que aconteceu em 2009, quando foi transferido para o Marselha. Josué agradeceu no Instagram e Defour no twitter, enquanto que de Lucho pouco se sabe para além das declarações difundidas pelo Facebook do seu novo clube.

«Vou lutar com a minha equipa para que o Al-Rayyan regresse à sua posição natural, tirá-lo da situação difícil que vive atualmente e devolvê-lo à luta por troféus e títulos», disse, sem se referir ao FC Porto. O futuro próximo será o mais importante: «Muitas pessoas dizem que a liga do Qatar é fácil, mas pelo que tenho visto parece-me haver uma forte concorrência e, na minha opinião, é uma das provas mais fortes na região».



O Al-Rayyan é orientado pelo técnico espanhol Manolo Jiménez e acaba de transferir o brasileiro Nilmar devido aos maus resultados, dado que ocupa a penúltima posição do campeonato. Para além de Lucho ainda foi contratado o avançado nigeriano Yakubu, que jogou muitos anos em Inglaterra e estava há dois anos nos chineses do Guanghzou.

Ao longo do dia foram escassas as notícias sobre Lucho (do lado do FC Porto nada mais do que a confirmação de Paulo Fonseca), surgindo uma foto no twitter colocada por alguém que diz ser jogador e que afirmava ter estado com o argentino de manhã em Doha. Para a televisão do Al-Rayyan tudo passou despercebido e durante a tarde a programação foi preenchido com... corridas de camelos.


Em Portugal, um dos jogadores que se despediu de Lucho González através das redes sociais foi Steven Defour, provavelmente o médio que será mais beneficiado com a saída do argentino.


O internacional belga foi titular 15 vezes esta época em todas as competições, mas apenas seis na Liga. Não tem convencido, mas a verdade é que foi quase sempre colocado no lugar de Fernando e a posição ocupada por Lucho é aquela em que se sente melhor. Defour
já tinha manifestado a intenção de sair, mas com a saída do argentino pode ganhar um fôlego decisivo para regressar aos seus melhores momentos para não perder o comboio competitivo tendo em vista o Campeonato do Mundo. Titularíssimo da sua seleção, pode perder esse estatuto se continuar a não jogar no FC Porto. Com Carlos Eduardo a ganhar ascendente e a condição de indiscutível de Fernando, o belga deverá ser o mais provável terceiro elemento do novo meio-campo do FC Porto.

À espreita está também Josué
, o superdragão, o jogador cheio de alma que é capaz de morrer pelo clube em campo, mas que tem vindo a demonstrar alguma fragilidade emocional que o faz errar em alguns momentos. O internacional português entrou bem frente ao Marítimo e marcou o golo que deu o apuramento para a meia-final da Taça da Liga. Podemos ter a certeza que Josué vai lutar muito para conquistar o lugar, tornando difícil a escolha de Paulo Fonseca, e procurando garantir presença nas escolhas de Paulo Bento para o Campeonato do Mundo. Titular na primeira fase da época, foi perdendo espaço, mas agora pode ser um dos beneficiados pela saída de Lucho.

Finalmente, Herrera
. O mexicano tem menos um jogador pela frente na difícil subida ao monte Evereste que é a titularidade no FC Porto. O médio não tem tido vida fácil, apesar da aposta do treinador, mas também ele encaixa bem no lugar que fica agora vago no meio-campo. E, à imagem dos seus dois colegas, também ele pode vir a sonhar com a presença no Mundial caso consiga garantir uma segunda metade da época em grande estilo. De qualquer forma é o menos utilizado dos três e logo o menos influente deste lote, partindo um pouco mais atrasado para esta corrida.

Despedidas


A saída de Lucho González em 2009 foi muito diferente, desde logo porque teve oportunidade de deixar uma mensagem sentida aos adeptos.



Os quatro anos que tinha passado no Dragão tinham-no transformado numa referência a nível internacional. Foi sempre campeão, esteve nos grandes momentos do clube e saiu para França como uma estrela. Agora tudo é diferente. O argentino está em final de carreira, já não tem o vigor de outros dias e pelos vistos também não arranjou tempo para se despedir dos adeptos.

Nas redes sociais a primeira reação foi de choque, mas logo se transformou em agradecimento.


É curioso que há poucos dias Pinto da Costa disse que Lucho era «património» do clube e por isso iria respeitar qualquer decisão sobre a renovação. O argentino estava em final de contrato e poderia vir a terminar a carreira no Dragão, mas os petrodólares falaram mais alto. Ficou a faltar uma despedida a sério, mas essa terá acontecido no dia 19, quando comemorou o 33º aniversário e fez o último jogo de dragão ao peito, na vitória por 3-0 sobre o V. Setúbal. As bancadas deram-lhe os parabéns, quando ainda não sabiam que seria a última vez que iriam cantar o seu nome.