A tesoura e a navalha a um canto. A prancheta e o apito do outro. José Bizarro, de 66 anos, divide-se entre o futebol e a barbearia que dirige há 44 anos. É o barbeiro mais antigo da Covilhã, mas a visita que o Maisfutebol lhe fez não tem relação com qualquer motivo capilar.

José Bizarro orgulha-se do seu curriculum como treinador de futebol. «Passei por 70% das equipas do distrito de Castelo Branco e ainda treinei algumas da Guarda. Consegui alguns feitos. Tenho um recorde de 24 jogos sem perder e fui eu que levei o Benfica da Covilhã, entretanto extinto, pela primeira vez à 3ª Divisão», conta ao nosso jornal.

E a génese de José Bizarro como treinador acontece ao lado de...Carlos Queiroz. O barbeiro da Covilhã tirou o curso de treinador na Cruz Quebrada. Depois de seis meses de formação no Porto, foi seleccionado para uma acção intensiva de 24 dias no Estádio do Jamor. Entre os professores, alguns famosos: Mário Wilson, Jesualdo Ferreira e, claro, o seleccionador nacional, que orientou o exame final.

«Foi uma experiência muito gratificante. Apliquei vários conhecimentos que aprendi no curso ao longo da minha carreira. Tenho os rascunhos todos das matérias que nos foram cedidas. Quando tinha mais algumas dificuldades, ia muitas vezes ler algumas daquelas matérias», afirma.

«Jesualdo disse que o futebol português passava por Queiroz»

O discurso em torno de Carlos Queiroz é sempre pautado pelo elogio. José Bizarro não esconde a admiração pelo técnico, a quem chama «um expert no futebol».

«Eu era um inculto na matéria, por isso, melhor que qualquer coisa que eu possa dizer, há uma frase do Jesualdo Ferreira que explica tudo. O Jesualdo disse, numa formação que, quer queiramos, quer não, o futebol português ia passar pelo prof. Queiroz. Isto há quase 30 anos», afirma.

Talvez pela relação especial com o seleccionador, José Bizarro não alinha no coro de críticas que se fizeram sentir aquando do último treino aberto ao público na Covilhã: «Era o que faltava a selecção mudar alguma coisa no programa para fazer a vontade às pessoas. Os planos estão definidos, têm de ser cumpridos.»

Até porque José Bizarro acredita que Portugal pode ir longe no Mundial. «Diz-se que falta espírito de equipa a Portugal, mas a Costa do Marfim, que vai ser o nosso grande adversário, também não me parece que funcione como equipa. Se vencermos o primeiro jogo, podemos fazer um brilharete», antevê.

«Gosto do caracolzinho do Ronaldo»

O negócio da barbearia já não é o que era. Mesmo só existindo «3 ou 4 barbeiros na Covilhã», os clientes não são tantos quantos José Bizarro desejava. «Esta zona mais velha da cidade foi prejudicada, porque os mais novos querem outras condições e fugiram para a parte mais recente», explica.

Ora, com a selecção na sua cidade, porque não um toque nos cabelos dos jogadores do grupo de Queiroz. «Gostava de fazer isso, claro. Até nem lhes levava dinheiro. Eles que apareçam cá», atira.

No entanto, José Bizarro não acha que haja algum deles a precisar urgentemente de um novo visual. «Cada um tem o seu estilo, não acho que devam mudar. O mais bem penteado? O Cristiano Ronaldo. Gosto daquele caracolzinho à frente...porreirinho», afirma, entre risos.