As origens humildes estão em Espinho, a paixão pelo F.C. Porto foi-lhe inculcada pelo pai. Vítor Pereira apaixonou-se pela lenda de Pavão e viu pela primeira vez Cubillas às cavalitas do progenitor. O amor transformou-se mais tarde em doença, como explica o treinador nesta entrevista ao Maisfutebol. Não larga o bloco de notas nem a dormir. Como vai ser em Jeddah?

Quem eram os ídolos de infância do Vítor Pereira?

«(risos) Nunca o vi jogar, mas o meu primeiro ídolo foi o Pavão. O meu pai falava-me muito dele, adorava-o. Depois, fiquei fascinado com o Cubillas na primeira vez que o vi jogar. A minha família era humilde, não era fácil ir muitas vezes ao Porto, mas o meu pai um dia levou-me às Antas e vi o Cubillas às cavalitas dele. Fiquei mesmo fascinado, grande jogador.

Mais tarde, como eu era lateral direito, as minhas referências eram sempre os laterais: Gabriel e João Pinto. Depois passei a admirar, pelo muito que jogavam, Futre, António Oliveira e Madjer. Sou portista desde que me conheço».

Quando decidiu ser treinador tinha algum nome que o influenciava? Algum mestre?

«Gosto de um determinado tipo de futebol, mais do que treinadores. Gosto do projeto do Guardiola para o Barcelona. Gostei também do projeto do Johan Cruyff no mesmo clube, embora do ponto de vista defensivo já me parecesse insuficiente. Admirava o AC Milan do Arrigo Sacchi, bela equipa. O primeiro ano do José Mourinho no F.C. Porto é excelente, a equipa jogava de forma fantástica. O ano da final de Sevilha».

Se não fosse treinador de futebol, o que seria hoje o Vítor Pereira?

«Não imagino a minha vida sem desporto. Sou mesmo doente por futebol, um bocadinho obsessivo. Não consigo separar o futebol da minha vida pessoal, levo os problemas da profissão para casa. Às vezes estou em casa, presente mas ausente, pois a minha cabeça está a pensar no futebol. Acredito que me tornei socialmente fechado, tenho essa consciência. Vivo num mundo completamente à parte, a pensar, a experimentar e a refletir as minhas ideias. Tornei-me fechado para os amigos, para as saídas, tornei-me dependente do futebol. Sinto necessidade de parar, mas vou de férias e levo o trabalho na cabeça. Isto é uma vida que desgasta a família. Julgo que há pessoas diferentes, colocam fronteiras nas várias vertentes da vida, mas eu não tenho essa capacidade.

Estou a dormir e sinto que não me desligo do futebol. A cabeça trabalha sistematicamente. Tenho ideias a dormir. Acordo e aponto num bloco as minhas ideias. É uma doença, é obsessivo e desgasta. Envelheci muito nos últimos três anos porque vivo as coisas desta maneira».

E na Arábia Saudita vai ser igual?

«Vou viver as coisas da mesma forma. Não é só o Porto. Eu já era assim no Santa Clara e no Sp. Espinho. É assim que sei estar no futebol».

Do que é que vai ter mesmo saudades quando estiver em Jeddah?

«O que me equilibra um pouco são os momentos que passo sozinho. Tenho necessidade disso. Isolo-me muito. Nesses momentos em que estou para tomar grandes decisões, ou em que estou stressado, vou ter saudades de me sentir no meu cafezito na Aguda e pensar futebol virado para o mar. Para mim esse é um momento mágico. Vou ter de encontrar a minha praia em Jeddah».