Depois de quatro anos e meio de ligação ao FC Porto, com dois empréstimos pelo meio, Hernâni mudou-se para o Levante para jogar num dos maiores campeonatos do mundo.

O vínculo entre o extremo luso e os dragões expirou e ficaram as memórias. E dois títulos: uma Supertaça e um campeonato.

O Maisfutebol encontra-se com o português na nova casa: o estádio Cidade Valência. Hernâni aborda os primeiros meses em Espanha e passa obrigatoriamente pela ligação ao FC Porto, mas também pelas passagens por V. Guimarães e Olympiakos.

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Parte II

Maisfutebol - Como era a relação com Sérgio Conceição?

Hernâni - Tínhamos uma boa relação. Estive dois anos no FC Porto porque ele quis. Forçou para que seguíssemos juntos. Por vezes, tivemos algumas conversas, mas tudo ficou tranquilo. Não tenho nada a apontar-lhe.

MF – Na última época, és decisivo frente ao Leixões e contra o Boavista. Sentias que devias ter tido mais continuidade nessa fase?

H - O jogador, quando está no banco, é para ajudar quando entra. Senti que, quando entrei, fiz a diferença, fiz golos decisivos. Não digo que tinha de ser titularíssimo, mas as oportunidades tinham de ser mais consecutivas. Se fosse preciso resolvia e nos dois jogos seguintes estava de fora. Tornei-me inconstante. Quando estava em boa forma as coisas aconteceram, mas nunca foi seguido.

MF – Foi por culpa tua?

H - Não, não acredito. No entanto, também não culpo ninguém.

MF – Li uma declaração num jornal espanhol em que dizias que não foste feliz no FC Porto.

H - Não foi o que quis dizer. As coisas não correram tão bem como queria. Qualquer jogador do FC Porto quer ter sucesso, aparecer e ser um exemplo. Não digo que não fui feliz, tive momentos bons, ganhei o campeonato. As pessoas interpretaram mal o que quis dizer. Por outras palavras, quis dizer que não fui tão feliz no sentido… se calhar não fiz as coisas tão bem para que estas saíssem como queria.

MF - Como assim?

H - Por não jogar...

MF – A culpa não é diretamente tua. Há uma decisão.

H - Mas também pode ser. Há uma razão para cada escolha.

MF - Sentias que não correspondias ao que esperavam de si?

H – Provavelmente no primeiro ano. Estava habituado a jogar num sistema de jogo e quando chegou o Sérgio Conceição, tive de adaptar-me e alterar muita coisa no meu futebol. Houve uma altura em que foi difícil. Se estivesse bem preparado, as coisas poderiam ter corrido de forma diferente.

MF – Pensaste em sair durante os dois últimos anos?

H- Em alguns momentos sim. Houve alturas em que não jogava tanto e precisava de jogar, de ter continuidade e de sentir que podia ser mais útil do que o que era. Claro que tive essa vontade, conversei com o treinador, mas ele não quis que isso acontecesse. E fui ficando.

MF - O que mais aprendeste no FC Porto?

H – Os dois anos com o Sérgio Conceição foram uma grande lição. Trabalhei aspetos nos quais não era tão forte. Foram coisas que trabalhámos, levaram muito tempo, mas hoje tenho isso comigo. Não fico com mágoa ou com qualquer raiva de ter saído do FC Porto da maneira que saí. Tenho sempre de agradecer ao clube de levar o melhor que fiz lá para outro lugar.

MF - Se o FC Porto te oferecesse a renovação, ficavas? Ou a tua ideia era sair para jogares com regularidade?

H - Passei muitos anos no FC Porto, tenho de agradecer por tudo. No último ano precisava de algo diferente, de mudar de ares e de sentir-me muito importante, por mais que dissessem que era. Não penso nisso agora. Não me arrependo de ter assinado pelo Levante.