* por Pedro Morais

Adis Abeba, no coração do Corno de África, será a casa de Mariano Barreto nos próximos tempos. O treinador português, de origem indiana, é o novo selecionador nacional da Etiópia. Em entrevista ao Maisfutebol, o projeto é dissecado e faz-se acompanhar de histórias incríveis.

Ao longo da carreira como técnico principal, Barreto já conduziu a seleção do Gana, o Marítimo, a Naval 1º de Maio, o AEL Limassol (Chipre), o Rec. Libolo (Angola), o Al-Ahli (Bahrain), o Al Nasr (EAU) e o Al-Qadisiya (Arábia Saudita), fora os largos anos vividos enquanto preparador físico e mais uns tantos como adjunto.

Está ligado ao futebol desde 1991. 2014 é sinónimo de nova aventura.

O treinador parte, à boa maneira portuguesa, rumo ao descobrimento, rumo a uma aventura, por «mares nunca antes navegados» por treinadores lusos.

A Etiópia espera-o para assumir as rédeas de uma seleção pouco reputada a nível mundial (93ª do ranking) e que pretende, a médio-longo prazo, tornar-se numa das potências emergentes do continente africano.

«Não sei por que aceitei este desafio»


O Maisfutebol apanhou boleia na simpatia de um homem cordial e cujo baú de memórias transborda histórias riquíssimas, para perceber os motivos que o levaram a aceitar este convite da Federação etíope: as diretrizes do projeto que agora abraça e algumas curiosidades do país.

Mariano Barreto foi confirmado como treinador da Etiópia no passado dia 22 de abril, pela Federação Etíope de Futebol. O desafio é «aliciante», diz o próprio, embora não saiba ao certo por que o aceitou: «Não faço ideia, não há uma razão plausível», adiantou.

«Penso que aceitei pela mesma razão que aceitei treinar o Gana há 10 anos: pela natureza do projeto, por poder fazer o que gosto e que é treinar, por poder participar na construção de uma nova imagem da Etiópia, no seu crescimento internacional».

O contrato assinado com a Federação etíope permite ao técnico ser responsável por todo o futebol de seleções do país, desde os sub-17 até à seleção principal, algo que quer aproveitar para lançar novos talentos:

TODA A ENTREVISTA A MARIANO BARRETO


«Enquanto responsável por todo o futebol desde os sub-17 até ao maior escalão, quero poder formatar e criar um projeto para jovens talentos, que podem vir a afirmar-se a nível internacional», prosseguiu.

Uma vez encontrados os melhores jovens, estes serão enviados para centros de treino na Europa. Barreto diz que quer ajudar jovens talentos a dar o salto na carreira, à semelhança do que já faz com outros jogadores:

«É um projeto muito abrangente e que tem como intuito detetar os melhores jovens, que serão posteriormente enviados para períodos de evolução em centros de treino na Europa. Tenho no histórico alguns jogadores que foram lançados por mim: Asamoah Gyan, Suley Muntari, Michael Essien, Ricardo Carvalho, Izmaylov».

Mas formar jogadores não é o único enfoque do técnico português. Uma das grandes vertentes do trabalho de Barreto na Etiópia será, como o próprio adianta, «a formação de treinadores».

O treinador exulta a importância que os treinadores dos clubes têm no futuro das seleções, uma vez que trabalham os jogadores durante grande parte do ano, e garante que «este é um ponto muito importante e que pode ser um contributo essencial».

«Copo meio cheio ou copo meio vazio»


O objetivo maior da seleção da Etiópia é a qualificação para a CAN, depois de uma participação na CHAN (Campeonato Africano das Nações) que não correu conforme o esperado: os etíopes terminaram no último lugar do Grupo C com zero pontos e zero golos marcados.

Confrontado com este facto, Mariano Barreto desvalorizou-o:

«Isso é aquela velha história do copo meio cheio ou o copo meio vazio. Se olharmos para esses dados, então o copo está meio vazio», adiantou. «Mas a verdade é que a Etiópia só não se qualificou para o Mundial porque perdeu com a Nigéria, a seleção número um das africanas, e aí o copo está meio cheio», concluiu.

Festa na seleção da Etiópia:




Perdido o Mundial 2014, no Brasil, Mariano Barreto aponta setas para o futuro, mais propriamente para o Mundial da Rússia, em 2018, garantido que esse é um dos objetivos futuros:

«A longo prazo pretendemos criar bases para alcançar o Mundial da Rússia. Queremos começar já a construir um futuro para em 2018 não voltarmos a falhar», declarou.

Sobre se este é o maior desafio da carreira, o técnico garante que «todos os desafios tiveram dificuldades e contrariedades diferentes».

Mariano Barreto assinou um contrato válido por duas temporadas e o primeiro grande desafio é passar o grupo de qualificação da CAN, com o Mali e a Argélia como adversários. O quarto elemento do grupo está ainda por definir.