André Villas-Boas concedeu uma grande entrevista à TVI e ao Maisfutebol, onde abordou vários temas relacionados com o passado, o presente e o futuro.

Durante a longa conversa, que decorreu no Jardim Botânico do Porto, o treinador aceitou recordar o seu percurso na Académica e no FC Porto, para além de falar sobre o atual futebol português.

«De mediatismo alto e falsas promessas já vivi o suficiente»

«Queremos o título russo e uma boa campanha na Liga Europa»

Que clube ambiciona treinar ainda na sua carreira?
«O clube que sempre ambicionei treinar foi o FC Porto, o meu clube, o clube da minha cidade. Tive a felicidade de o treinar e de vencer. Não havia muito mais que ambicionasse claramente para além disso.»

«Sente que vai regressar um dia à sua ‘cadeira de sonho’?»
«Quem sai prematuramente como aconteceu, por um conjunto de razões distintas, de uma forma que não foi bem recebida por todos, não pode ter direito a exigir seja o que for. Mas sinto que um dia terei um espaço reservado para mim no FC Porto, seja em que função for. Varemos, não sei que passos a minha carreira irá dar.»

«Em Portugal, só o FC Porto?
«Não quero que as minhas palavras sejam vinculativas, a vida de um treinador muda rapidamente. Não sei se posso voltar e em que funções posso um dia regressar ao futebol português. Mas, sem desrespeitar os outros clubes, como treinador principal só me sinto confortável no FC Porto e na Académica. Isto no futebol português, naturalmente.»

Como está a sua relação com Jorge Nuno Pinto da Costa?
«Penso que está tudo normal, da minha parte é a mesma relação de sempre, mas os pormenores ficam em privado.»

Ainda recente, Will Coort saiu do FC Porto para ser treinador de guarda-redes do Zenit, o que levou Pinto da Costa a lamentar não ter sido informado antecipadamente, por exemplo.
«Will Coort era um funcionário do clube, as obrigações foram cumpridas e tudo foi feito de forma clara. Penso que ficou resolvido na altura.»

E recuperando o momento da sua saída, considera que o FC Porto acabou por ser compensando devidamente pela via financeira?
«O ponto de honra, a haver um mais que outros, era o cumprimento da cláusula de rescisão e nesse aspeto foi cumprido. Não voltará a haver uma cláusula assim, um treinador a sair por 15 milhões de euros, no futebol mundial.»

Como viu o clássico entre Benfica e FC Porto? Jesus foi taticamente superior a Lopetegui?
«Os treinadores são sempre taticamente superiores no final do jogo, dependendo do resultado. O FC Porto nos primeiros 25 minutos tem uma entrada muito forte, surpreendendo um Benfica que pareceu apático e completamente distante do jogo nessa fase. Com entrada tão forte, esse domínio visível e com um pouco mais de eficácia, o resultado podia ter sido diferente, penso que foi essa a leitura do treinador do FC Porto. O Benfica marca nas mínimas chances que tem mas não se pode considerar que o resultado seja totalmente justo.»

Que análise faz do trabalho de Julen Lopetegui?
«É um treinador que marcou claramente o seu estilo, um estilo de posse, de toque, de largura máxima nas alas. Esses são os princípios que marcam o seu estilo, um estilo que tem dado mais frutos na Europa que nas competições nacionais até agora.»

Acha que a desvantagem do FC Porto na Liga é recuperável?
«6 pontos é sempre um registo negativo, num campeonato onde há campeões recentes sem derrotas. É uma distância muito difícil de abater. Por outro lado, o Benfica não está tão estável como antes, tem um onze bom mas não tem um banco bom. Devo dizer ainda que não é uma vantagem não estar na Europa, terá de haver uma boa reação nos jogos após cada semana de treinos intensos. O FC Porto não pode deslizar mais e tem de dar já uma boa resposta na próxima jornada, para depois pensar em 2015.»

As derrotas em casa frente a Sporting e Benfica são algo que pesa a um treinador do FC Porto?
«Não posso negar que isso pesa, sobretudo para o treinador, que se sente frustrado e é o principal responsabilizado. É algo que nos marca. Mas como disse em outro tema, o que nos marca faz-nos melhorar e terá de ser esse o pensamento do treinador do FC Porto.»

Acha que teremos um campeonato a dois, entre Benfica e FC Porto?
«Penso que sim. Penso que continuará assim, já que o salto qualitativo do Sporting para chegar a Benfica e FC Porto é difícil, mais a nível estrutural.»

Como vê então o atual Sporting?

«Vejo um Sporting mais à procura de equilíbrio emocional do que de outra coisa qualquer. Há dois pólos opostos, com um presidente emotivo e envolvido e um treinador que sabe o que quer, estável. São mais as disputas internas, parece-me a mim vendo de fora, que desestabilizam. De qualquer forma, a campanha na Champions, num grupo difícil, foi muito boa. O Marco deve estar orgulhoso do que tem feito e do futebol que propõe.»

Que jogadores se estão a destacar em Portugal? Já conhecia Talisca, por exemplo?
«Não, não conhecia Talisca. É um jogador que marcou o início do campeonato mas agora nem tanto, ao ponto de parecer outro jogador. Neste último período, tem sido mais marcante Jonas que Talisca no Benfica. No FC Porto, destaco a subida de rendimento de Danilo e Alex Sandro, chegando a um nível que os levou de volta à seleção brasileiro e ao nível que justificou o investimento avultado do clube neles. Isso tem mais peso face ao estilo de jogo do treinador.»

O Zenit vai contratar jogadores da Liga portuguesa?
«É quase impossível. Estamos alertas mas limitados pelo fair-play financeiro, e o campeonato português tem verbas bastante elevadas em torno dos seus jogadores.»

Gaitán não foi alvo do interesse do Zenit?
«Não, comigo pelo menos não foi hipótese.»

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