Qual é a primeira imagem que nos vem à cabeça quando pensamos na seleção dos Camarões? 

1. A dança tribal de Roger Milla a celebrar golos na bandeirola de canto
2. Roger Milla a roubar a bola ao pobre do Higuita e a marcar à Colômbia
3. O jogo eterno contra Inglaterra no Itália-90

As respostas não andarão muito longe destas hipóteses, mas há um português determinado a adicionar uma alínea nesta contrato com a memória: António Conceição, português da freguesia de Maximinos, 58 anos. 

'Toni', como era conhecido nos tempos de lateral direito do Sp. Braga - e mais tarde da Seleção Nacional e do FC Porto - é o selecionador nacional desta potência africana desde setembro. 


O Maisfutebol convida António Conceição para o balanço destes primeiros seis meses e a olhar para uma carreira que conheceu os maiores dias de glória na Roménia.

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Maisfutebol – Na Roménia já ganhou tudo o que podia ter ganho como treinador.
António Conceição – Dois campeonatos, três taças e uma supertaça, é verdade. É um país onde gostei de estar, apesar de a mentalidade nem sempre ser a mais correta. Isso dá azo a situações bizarras.

MF – Refere-se à saída recente do CFR Cluj?
AC – Por exemplo, sim. A minha equipa técnica foi demitida quando estávamos no primeiro lugar do campeonato. Há coisas assim, anómalas. Posso confessar que uma semana antes desse despedimento, o presidente chamou-nos e disse que queria ficar connosco por mais cinco anos.

MF – O que diz um presidente quando quer despedir um treinador que lidera a liga?
AC – Inventa qualquer coisa, certamente. Uns tempos mais tarde, o presidente do Cluj telefonou-me para dizer que cometeu um erro e que se enganou ao despedir-me. As pessoas conhecem-me como treinador, creio que a minha carreira já é longa e fala por si. Não posso admitir que haja intromissões no trabalho da equipa técnica, defendo a independência e a liberdade. Não me vergo a decisões com as quais discordo. Nunca o fiz e nunca o farei.

MF – Tem uma longa ligação ao Sp. Braga, como atleta e técnico. Só lhe falta ser treinador principal da equipa A.
AC – Nem isso me falta. Em 2002/03, quando saiu o espanhol Fernando Castro Santos, eu fui o treinador responsável pelo jogo contra o Beira-Mar. Empatámos 2-2, quando a equipa atravessava uma fase muito difícil. Por curiosidade, nesse ano o Sp. Braga não desceu por um ponto. Quando aceitei pegar na equipa, estava em cima da mesa a possibilidade de ficar até ao final da época. O presidente António Salvador tinha chegado ao clube há pouco tempo. Certo é que passadas duas semanas chegou o Jesualdo Ferreira e voltei à função de adjunto. No final da época falei com o presidente e disse-lhe que estava na hora de abraçar outro projeto. Fui para a Naval 1º Maio, na II Liga.

MF – Mas ainda voltou ao Sp. Braga em 2012.
AC – Para treinar a equipa B. Não fazia parte dos meus planos de carreira, mas o presidente falou-me ao coração. Havia no ar a possibilidade de eu ser uma opção a meio prazo, no caso de haver uma mudança na equipa técnica da formação principal. Mas nunca foi esse o entender do António Salvador. Curiosamente, já muito recentemente, essa passou quase a ser a política oficial do clube: promover o treinador da equipa B.

MF – Abel, Rúben Amorim…
AC – Exatamente. O que faz todo o sentido, partindo do princípio que existe uma simbiose de ideias entre as duas formações principais, estilo de jogo, metodologia de treino. O presidente Salvador apostou com sucesso nesses dois nomes, mas quando subiram à equipa principal não tinham metade da minha experiência quando estive na equipa B.

MF – E o Custódio muito menos.
AC – É verdade. Mas conheço bem o Custódio e gosto muito dele. Espero que tenha o maior sucesso possível no Sp. Braga.