«É uma ponta de lança que se destaca pelo seu jogo de costas para a baliza e que pode jogar em qualquer posição do ataque».

A definição surge no site oficial do Barcelona. O alvo das palavras chama-se Andreia Norton. Tem 18 anos, é portuguesa e o mais recente reforço da equipa feminina dos catalães.

«Quando me ligaram do Barcelona pensei que era uma brincadeira. Não queria acreditar, a sério. Fui apanhada completamente de surpresa. Ainda estou a digerir toda a informação».

Em entrevista ao Maisfutebol, Andreia faz questão de não esconder a emoção do momento. Mas refugia-se atrás da palavra mais utilizada - «surpresa» - quando lhe pedimos mais um comentário sobre o salto do Clube Albergaria para a Catalunha.

«Depois desse telefonema, o meu representante tratou de tudo. No dia 3 parto para Barcelona e vou fazer exames médicos. Ainda nem pensei no peso da camisola. É tudo tão novo para mim…»
 

Andreia Norton não larga o número 10

Se Andreia não diz, dizemos nós: nos últimos dois anos, a nova jogadora do Barcelona foi eleita a melhor jogadora do campeonato português. E brilhou com a camisola da Seleção Nacional Sub-19: 25 internacionalizações, 9 golos.

Para quem acompanha o futebol feminino com rigor, talvez esta não seja uma transferência assim tão surpreendente.

«Joguei três vezes contra a Espanha nos Sub-19 e isso teve muita influência. Esses jogos correram-me bem. Fui ponta-de-lança, enquanto no clube jogava mais a extremo».

Para Andreia Norton, a chegada a Barcelona mais não é, no fundo, do que o reflexo do «salto qualitativo do futebol feminino em Portugal».

«A FPF tem feito um excelente trabalho nos últimos anos, isso é evidente. Eu e muitas das minhas colegas estamos a aproveitar. Agora só peço também uma oportunidade na seleção A. É mais um sonho por realizar».
 

Andreia Norton, nº 10 da Seleção Nacional de Sub-19

A equipa feminina do Barcelona treina em La Masia e cruza-se regularmente com os seniores masculinos. Sim, aquele plantel treinado por Luís Enrique, onde jogam alguns dos nomes mais famosos do futebol mundial…

«Espero conhecer o Messi e o Neymar, claro. Até almoçar com eles no restaurante do clube. Vai ser magnífico, espera-me muito trabalho. O Barcelona vai exigir muito de mim»
.

Andreia é apaixonada por futebol desde que se lembra de ter consciência. Jogou na rua contra os primos e amigos, e rapidamente se inscreveu no clube da terra, o Furadouro.

«Até aos 13 anos eu era a única rapariga em plantéis de rapazes. Se me fazia confusão? Nada, nada. Depois tive de mudar para o Oliveirense e aí já joguei numa equipa feminina»
.
 

Andreia Norton em ação contra a Turquia

Depois de um ano em Oliveira de Azeméis, Andreia Norton transferiu-se para o Cesarense. Fez dois anos em Cesar e saltou para o Albergaria. E daí para Barcelona. Um conto de fadas.

E a escola? «Apesar de não me aplicar muito (risos), sei que tenho de apostar nos estudos porque há sempre tempo. Aliás, em Ovar, onde estudei, a melhor aluna da escola também é futebolista»
.

Andreia Norton adora futebol, admira Ronaldinho Gaúcho, Cristiano Ronaldo e Marta. A partir de agora passa a ser mais uma adepta do Barça. «Visca Barça!»


Futebol Feminino: dados concretos de um crescimento visível


O anúncio da mudança de Andreia para Barcelona chega num dia importante para o futebol feminino. A FPF anunciou que a partir da próxima época, as raparigas poderão integrar equipas masculinas até ao escalão de juvenis


De acordo com dados apurados pelo Maisfutebol
junto da FPF, há nesta altura 1.208.558 de jogadoras federadas na Europa (0,3 por cento da população feminina da europa), sendo que 750 mil destas têm menos de 18 anos.

Só sete países europeus têm mais de 60 mil jogadoras federadas e o número totas de futebolistas femininas cresceu cinco vezes desde 1985.

Dos 54 países filiados na UEFA, 51 têm campeonato nacional feminino e 53 têm seleção feminina. San Marino é a única exceção.

Mais números: há 7.461 árbitras e 21.164 treinadoras no conjunto das federações europeias.

7 por cento dos atletas filiados são mulheres. Este número sobe para 20 por cento em alguns países: Dinamarca, Ilhas Faroe, Islândia e Suécia.

Em Portugal há 2138 mulheres federadas, num total de 132.801 futebolistas.

Há cinco federações europeias a investir entre 4 e 15 milhões de euros por ano no futebol feminino e 15 entre 1 e 4 milhões. Portugal está neste segundo grupo.