Chegou ao Benfica como campeão francês e bateu a concorrência de um campeão do mundo para assumir o lugar que era de Fábio Coentrão, vendido ao Real Madrid por trinta milhões de euros. Mereceu a confiança de Jorge Jesus, mas nunca ficou a sensação de ter conquistado a Luz. Somou 39 jogos de águia ao peito, mas após uma época (2011/12) saiu pela porta dos fundos. Oito anos depois, Emerson recorda a passagem pelo Benfica, em entrevista ao Maisfutebol.

Neste excerto o defesa conta como vai a vida, aos 34 anos de idade, e recorda o início da carreira, marcado pelo salto de um modesto emblema de Curitiba para o Lille.

 

O Emerson já não joga há algum tempo (em 2018 esteve no Rio Branco-PR e no ano seguinte assinou pelo Cianorte, mas saiu sem jogar oficialmente). O que tem feito? 

Já faz um tempinho que estou sem jogar, mas continuo a correr atrás. Ainda não fechei a carreira, não. Tenho 34 anos, ainda pretendo jogar mais cinco ou seis anos. Agora sou zagueiro [central], e tenho cuidado de mim. Sinto-me bem, cada vez cuido-me mais, para manter a forma e voltar ao futebol.

E já há alguma coisa em perspetiva?

O meu empresário está a ver, mas só depois desta pandemia passar para fechar alguma coisa.

Mas vamos recuar aqui ao início de carreira: o Emerson vai muito novo para a Europa, e não saiu de nenhum dos principais emblemas brasileiros. Foi um salto ainda maior, do desconhecido J. Malucelli para o Lille. Como se proporcionou essa mudança?

Sim, a maior parte dos jogadores sai do Brasil já com algum estatuto. Eu saí de um clube da terceira divisão, aqui de Curitiba, para o Lille, e depois um salto ainda maior para o Benfica. Foi tudo muito rápido, não esperava.

O Lille foi o único clube que o descobriu nessa altura, ou tinha outros clubes europeus interessados?

Não. Na verdade foi uma descoberta do Lille. Estavam à procura de um lateral jovem, encaixava no perfil deles. Primeiro fui para ser avaliado, sem contrato assinado, mas gostaram de mim e fiquei.

Esse Lille que encontrou à chegada já estava a construir as bases do título de 2011, ou ainda estava longe disso?

Quando cheguei o Lille já tinha uma boa base, terminava sempre nos lugares cimeiros e disputava as provas europeias, mas já não era campeão há muitos anos. Em 2011 fomos campeões e conquistámos a Taça, tudo na mesma semana. Foi completamente inesperado.

Nesse Lille foi “espectador privilegiado” do aparecimento do Eden Hazard…

O Hazard foi uma descoberta do Lille, chegou para a formação. Era uma aposta do clube, e quando subiu à equipa principal foi fantástico. Era um prazer jogar do lado dele, já fazia a diferença. Ia sempre para cima dos adversários. Foi um privilégio ao lado dele. Ele tirava sempre qualquer coisa da cartola e resolvia o jogo. Já sabíamos que não ia ficar muito tempo lá. Era um jogador para outra dimensão, tinha algo a mais.

O título conquistado pelo Lille foi o ponto alto da carreira (ainda por terminar)?

Com certeza. O campeonato francês é muito físico, e tinha equipas como o PSG, Mónaco e Marselha. Foi muito gratificante. Marcou-me muito, também por ter chegado lá muito novo, e depois conquistar dois títulos na mesma semana.

Para fechar… já avisou que a carreira não acabou, mas que avaliação faz do que já está para trás? De 0 a 20, digamos…

Talvez 14. Ou 15, por aí. Fiz a carreira praticamente toda na Europa. A minha posição exige muito também. Não é fácil, até pela capacidade física, a necessidade de subir e descer no terreno, apoiar e também marcar. Acho que é um bom número. Sou muito grato a Deus pela minha carreira. Só tenho a agradecer. Não é fácil construir uma carreira profissional, não é só alegrias, e por isso sou grato.

Ficou a mágoa de algo que não se tenha concretizado, e que já seja difícil alcançar? Talvez a seleção brasileira, não?

É o sonho de qualquer jogador. Houve uma altura em que estava a ser observado, mas não se concretizou. Foi quando estava no Lille. Só soube depois, mas não fiquei muito para baixo. Era uma questão de continuar a trabalhar, à espera de uma oportunidade. Não guardo mágoas. Não guardo qualquer mágoa do Benfica. Nem do Lille, do Rennes também não. Só tenho lembranças boas dos clubes que representei.

(entrevista originalmente publicada às 23h45 de 11/05/2020)