Numa época em que se aproximou dos rivais Sporting e FC Porto em termos internos, mas que voltou a não conseguir chegar ao título, o Benfica tem a possibilidade de vencer a Liga Europeia de andebol.

As águias estão na final-four da segunda competição mais importante da Europa e com o aliciante de organizar a fase final da prova, na Altice Arena.

No sábado, as águias defrontam os polacos do Wisla Plock na meia-final de uma prova na qual não são favoritos, mas que pretendem vencer.

É isso mesmo que garante Gustavo Capdeville. O guarda-redes internacional português, de 24 anos, é o porta-voz da ambição encarnada.

Em entrevista ao Maisfutebol, além de falar sobre a bonita relação que faz por manter com o malogrado Alfredo Quintana, Capdeville analisa friamente onde falhou a equipa para não vencer o título nacional, apesar de ter encurtado a distância pontual em relação a FC Porto e Sporting.

Com essa desilusão «arrumada», o guardião que fez toda a formação no Benfica encara a Liga Europeia como a hipótese de devolver o clube aos títulos e fala também sobre a possibilidade de rumar ao estrangeiro, numa altura em que é o dono da baliza da seleção nacional.

Maisfutebol: Ao contrário do que aconteceu nas últimas épocas, o Benfica lutou pelo título até muito perto do fim do campeonato. O que faltou para lá chegar?

Gustavo Capdeville: Faltou consistência. Depois da derrota em casa com o Sporting [em novembro], fomo-nos abaixo e fomos a Setúbal perder também. Isso foi fulcral para perder o campeonato. Porque depois até conseguimos vencer o FC Porto, e no [pavilhão] João Rocha tivemos aqueles últimos 20 segundos em que não fomos felizes e empatámos. É difícil ver uma época passar nos últimos 20 segundos. Mas faltou, sobretudo, sermos mais consistentes.

MF: Ainda para mais a competir com uma equipa como o FC Porto que tem sido de uma consistência impressionante nos últimos anos…

Gustavo Capdeville: Sem dúvida. Temos de ir sempre focados e dar o máximo em todos os jogos. O FC Porto tem feito isso muito bem. Sem desrespeitar os outros, as decisões resumem-se aos três grandes e nós não temos conseguido ser consistentes. Ano após ano, temos tido derrotas que ninguém espera contra adversários que ficam do quarto lugar para baixo. Isso tem dificultado o nosso trabalho e, este ano, mais uma vez isso aconteceu. Perdemos com o V. Setúbal e foi preponderante para não ganharmos o título.

MF: O percurso na Liga Europeia foi muito bom. Logo na pré-eliminatória e, sobretudo, na fase de grupos e nas fases a eliminar. Qual foi a diferença do que aconteceu na Europa para o campeonato?

Gustavo Capdeville: Nem sei responder a isso. Temos muito mais dificuldade nos jogos europeus, mas estamos mais preparados e nunca desvalorizamos. E talvez possa ter sido isso.

MF: Com as contas do título arrumadas, como está a equipa a preparar a final-four da Liga Europeia?

Gustavo Capdeville: Sabíamos que ganhar ou perder com o FC Porto [na antepenúltima jornada] não ia alterar nada. Agora estamos focados na competição europeia. Temos de esquecer tudo e focar na Liga Europeia, como temos conseguido fazer esta época. A nossa prestação europeia tem sido notável, todos têm reparado e queremos continuar esse caminho.

MF: E a fase decisiva vai jogar-se em Lisboa…

Gustavo Capdeville: Sim, o Benfica fez força para que a final-four fosse aqui, os nossos adeptos vão estar presentes e temos todas as condições. Agora é fazer o habitual: mostrar a nossa garra, o querer e a ambição. Temos de fazer algo muito grande e vencer.

MF: O Benfica pode vencer esta competição?

Gustavo Capdeville: Acho que sim. O Benfica tem demonstrado isso. Jogámos de igual para igual com todas as equipas que defrontámos: Lengo, Nantes, GOG e o Rhein-Neckar Lowen, logo na pré-eliminatória. Fizemos sempre grandes exibições e mostrámos a nossa qualidade e aquilo que queremos fazer nesta competição. Queremos ganhar a Liga Europeia. Chegando à final-four, agora vencerá quem quiser mais.

MF: Tem tido muito tempo de jogo, sente que está a viver a melhor época a nível individual?

Gustavo Capdeville: Talvez. Há quem diga que sim. As duas épocas que fiz no Madeira SAD também foram muito boas, mas não tiveram esta dimensão. E não jogava na seleção nacional. Acho que pode dizer-se que sim, mas deixo para as outras pessoas analisarem.

MF: Quão importante tem sido a concorrência do Sergey Hernández, internacional espanhol, nas duas últimas épocas no Benfica?

Gustavo Capdeville: É uma concorrência saudável. Nós damo-nos muito bem, eu fico muito feliz quando ele está bem e ele também fica muito feliz quando eu estou bem. Há fases em que vou estar melhor, noutras em que será ele a estar melhor. Por isso é que somos dois. Temos de pensar apenas que estamos aqui para ajudar a equipa. Por vezes isso não acontece, mas tem acontecido sempre com todos os meus colegas de equipa. Tenho uma ótima relação com o Sergey, e isso tem facilitado o nosso trabalho. A baliza do Benfica tem estado muito segura também devido à nossa amizade. Também pela nossa concorrência, que é uma concorrência saudável. Eu quero mais do que ele, ele quer mais do que eu, lutamos pelo mesmo e crescemos juntos.

MF: Pelas expectativas que estavam criadas, a seleção não ter passado a fase de grupos no início do ano foi o ponto baixo da época?

Gustavo Capdeville: Não. Acho que o meu ponto baixo foi ter perdido com o V. Setúbal. Com todo o respeito, mas esse foi o ponto baixo. Olhamos para o Europeu e defrontámos grandes equipas, jogadores que jogam nas melhores equipas do mundo, na Liga dos Campeões… Nós já fizemos coisas muito bonitas, e dessa vez a sorte não nos sorriu como noutras. Não foi um Europeu bem conseguido, é verdade, mas não foi o momento baixo da época.

MF: Com a visibilidade crescente que tem tido, passa-lhe pela cabeça jogar no estrangeiro?

Gustavo Capdeville: Eu já disse que gostava de ganhar a Liga dos Campeões e jogar no estrangeiro. Tive a possibilidade de ir para fora este ano a seguir ao Europeu. Tinha propostas melhores, mas o Benfica sempre me deu tudo e também temos de lembrar quem nos fez crescer e nos deu muito.

MF: Trata-se de uma questão de gratidão, portanto…

Gustavo Capdeville: Sim. Penso que é fácil sair de um clube como o Benfica e ir para um que ganhe ainda mais títulos e que nos permita ganhar mais dinheiro. Isso é fácil. Difícil é ficar e fazer do Benfica, que não ganha títulos há algum tempo, um clube vencedor outra vez. Eu pensei sair para evoluir, mas preferi ficar para ajudar a devolver o Benfica aos títulos. O FC Porto tem vencido muitos títulos e eu quero fazer o meu legado no Benfica.