Dois anos depois do final de carreira, Nelson Ramos conduz o Maisfutebol numa viagem pelas memórias da carreira. De Cabo Verde a Sevilha, passando por Porto, Lisboa, Palermo ou Larnaca, entre outras paragens. As curvas de um trajeto que o levaram a concretizar um sonho de infância, mas que não ficou por aí. Uma retrospetiva que encontra alguns desgostos, mas que revela sobretudo orgulho. 

Neste excerto da entrevista o internacional português recorda quando foi diagnosticado com Gripe A, e fala das semanas de isolamento social agora em Espanha, motivadas pela pandemia de covid-19.

O que é que o Nelson tem feito? Há algum tempo que não temos notícias suas…

Vai fazer dois anos que deixei de jogar. Terminei em 2018, em Chipre. Depois vim para Espanha e resolvi fechar a carreira. Desde então a minha vida é dedicar todo o tempo possível aos filhos e à família, que é o mais importante para mim. Recentemente comecei um curso de treinador. Estou a preparar-me para, no futuro, preparar jovens. É um sonho que tenho, formar jogadores.

Quando jogava dizia sempre que não ia ser treinador. É um cargo muito difícil. Senti-me um pouco desgastado psicologicamente com a carreira. Viajei muito, joguei em vários países. Isso condicionou a perspetiva de futuro, a ideia de ser treinador. Jurei que nunca mais ia separar-me dos meus filhos e da minha família, e por isso não planeei isso. A forma de continuar ligado ao futebol é trabalhar com crianças, portanto. Ensinar, educar, mas ao mesmo tempo estar ao lado da família. Juntar o útil ao agradável.

Não dava para continuar a jogar, então?

Muitas pessoas perguntam porque deixei de jogar. Terminei bem no Chipre, tive propostas do Dubai. Fisicamente sinto-me muito bem, podia jogar mais uns três anos, se não aparecesse nenhuma lesão grave. Tive de tomar uma decisão. Não foi porque queria, mas sentia-me obrigado, entre aspas. A família é muito importante, e agora a prioridade são os meus filhos. Aqui em Espanha sinto-me em casa. Criei um lar aqui em Sevilha e decidi viver aqui. E até estou perto de Lisboa, vou muitas vezes com os meus filhos, e a minha mãe também vai.

Nesta altura o mundo está em suspenso com a pandemia de covid-19. O Nelson chegou a ter Gripe A quando jogava no Betis. Há alguma semelhança com os tempos que vivemos agora?

Aqui [em Espanha] está tudo proibido. As pessoas só saem para ir à farmácia e para as compras. Passei mal, mas a circunstância é diferente. Este vírus está a assustar mais. os casos aumentam todos os dias, as pessoas estão preocupadas, e as medidas são mais severas. Praticamente não se vê ninguém na rua, a não ser por necessidade.

No Betis foi quase metade do plantel, na altura. Sentia a garganta seca, um mal-estar horrível, tinha uma febre descomunal, muito alta. Perdi peso. Voltei a jogar duas semanas depois e pensei que ia morrer na primeira parte. Foi complicado, mas pelos vistos esta pandemia está a afetar muito mais, a durar muito mais.