Adios!

Com apenas dezoito anos, Pablo saiu de casa com o sonho de ser futebolista. Deixou família, amigos, e levou consigo apenas aquilo que conseguiu, o essencial para ser alguém na vida.

Até então nunca tinha deixado Asunción. A capital do Paraguai já lhe parecia gigantesca. Que mais haveria para além daquilo?

Bem, talvez oportunidades.

E assim partiu, em busca do sonho. Um dia, pensou, ainda iria ver o seu nome entrar para a história. Já o imaginava a brilhar no ecrã de um qualquer grande estádio.

GOOOL! PABLOO ESCOBAAR

Bem, havia um pequeno problema.

Afinal tinha sido a história a entrar na vida dele.

El Patrón, mas do Bem

Com o passar dos anos foi-se habituando à ideia, mas deixa sempre aquela comichão.

Diz que partilha nome com o barão de droga mais famoso de sempre.

Chama muito a atenção, é verdade. Aqui na zona chamam o outro de Patrão do Mal, então às vezes no clube chamam-me o Patrão, mas do Bem (risos). Uma vez até fui jogar a Libertadores a Medellín (cidade do falecido traficante), e tanto a polícia local como a de emigração ficaram um pouco desconfiadas. Fizeram-me muitas perguntas. Mas bom, nada de mais grave»

Foi com naturalidade e até boa disposição que o jogador abordou o assunto, em conversa com o Maisfutebol.

Afinal de contas não havia nada a fazer, ou se habituava à ideia, ou ficaria incomodado para o resto da vida.

Vinte anos volvidos, Pablo é agora um homem de família, tem mais em que pensar. Mas volta e meia lá dá uma espreitadela à obra do homónimo.

«Nunca vi o Narcos, mas vi toda a série do ‘Pablo Escobar: o Patrão do Mal’ (risos). É bom para estar em família. Como saí de casa muito cedo, faltou-me essa ligação aos meus. Agora tenho quatro filhos e procuro estar o máximo de tempo com eles: levo-os ao colégio, leio histórias, jogo futebol, vejo TV, tudo o que possa fazer», explicou.

A sua grande paixão. Depois vem la pelota.

Pablo Escobar foi a figura da Bolívia no último jogo frente ao Equador

Dois golaços e o desejado lugar

Apesar de ter nascido no Paraguai, Pablo Escobar adquiriu nacionalidade boliviana e foi na condição de internacional que viveu um dos momentos mais marcantes da carreira.

Há dois dias, frente ao Equador, o avançado colocou os bolivianos na frente com dois golaços.

Acabaram, no entanto, por ser insuficientes, e a Bolívia complicou as contas no apuramento para o Mundial 2018, ficando agora a oito pontos do lugar de acesso ao playoff.

«Trocaria aqueles golos por uma vitória, nem que fosse por 1-0 e com outro colega a marcar. Mas o futebol é assim. Até haver esperança vamos lutar até ao fim pelo apuramento. Tem de ser assim, no futebol e na vida», frisou.

Apesar da desilusão, nem tudo foi mau para Escobar.

Por ter conseguido visar as redes adversárias, o avançado bateu o recorde de jogador mais velho a marcar numa eliminatória sul-americana para um Mundial, fruto dos 38 anos e 91 dias, batendo assim a marca de 37 anos e 275 dias, que até aqui pertencia ao colombiano Mario Yepes.

E esta? Conseguiu mesmo inscrever o nome da história.

É muito bonito ter um recorde assim. Tenho muitos cuidados comigo mesmo, só assim pude chegar a esta idade a competir assim e a marcar golos. Enche-me de orgulho e mais tarde vou recordar, até porque o meu recorde deverá manter-se por algum tempo»

E Pablo só pode mesmo estar em boa forma. Senão repare-se: é o melhor marcador de sempre do The Strongest, clube onde está há seis anos.

Escobar durante a última edição da Taça Libertadores, frente ao River Plate

E mesmo que pela seleção tenha apenas meia-dúzia de golos, cinco deles foram apontados em casa.

Normalmente isto seria um ponto a favor, mas estamos a falar de La Paz, situada a 3660 metros de altitude. No fundo é empoleirar quase duas Serras da Estrela e tentar correr lá em cima.

Um pesadelo.

Bem, depende do ponto de vista.

«Para mim é igual a jogar num sítio como muito calor ou humidade. Há menos quantidade de oxigénio, mas para nós não há problema, porque jogamos sempre aqui. É verdade que a bola rola mais rápido e que nos cansamos mais por isso, mas já estou habituado», vincou.

«Sanchéz foi despedido do Boavista? É triste…»

Pablo Escobar tinha já 30 anos quando recebeu o telefonema por que tanto aguardava. Do outro lado da linha estava alguém atento ao que o avançado andava a fazer, e concedeu-lhe a primeira chamada à seleção boliviana.

Erwin Sánchez.

O antigo treinador do Boavista era então o selecionador da Bolívia e Escobar recorda com carinho esse momento, ficando por isso surpreendido com a notícia que chegava agora de Portugal.

Foi despedido do Boavista? Fico triste, porque ele estava muito identificado com esse clube. Mas o futebol é muito dinâmico, estou certo de que em breve voltará a treinar. É um grande treinador e uma grande pessoa, uma pessoa que me diz muito, porque foi o primeiro a convocar-me para a seleção. Vou estar sempre agradecido»

Inspirado por Messi e Cristiano Ronaldo, Escobar quer agora juntar ao título boliviano a marca de melhor marcador, virando também atenções para a próxima Libertadores.

Tudo isto aos 38 anos.

O nome pode até ser uma chatice, mas a alcunha de «Patrão» até fará algum sentido.

Plata o plomo? Se for em golos…