Respirar fundo. Escolher o caminho certo e ser feliz. Pedro Pereira teve de se afastar do Estádio da Luz, e do plantel do Benfica, para voltar a sentir-se confortável num relvado de futebol. 

Em entrevista ao Maisfutebol, o lateral direito de 22 anos comunica com uma maturidade rara e aborda sem qualquer tipo de preconceito os dias de exigência insuportável de águia ao peito.

Contrato válido por cinco anos e meio assinado em janeiro de 2017 - válido até junho de 2022 - e um jogo apenas na equipa principal, suficiente para receber a medalha de campeão nacional. 

Após um regresso a Itália, Pedro ganha visibilidade e consistência com a camisola do Bristol City no Championship. Nos últimos dois jogos marcou um golo e fez uma assistência para outro. 

Uma entrevista de emoções fortes, um futebolista de enorme consciência.


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Maisfutebol – Optou pelo Bristol no passado verão aconselhado pelo Benfica?
Pedro Pereira – Na verdade, no final da época passada eu tinha tudo apalavrado com o Génova para continuar lá. Não aconteceu, eles acabaram por não acionar a cláusula da opção de compra. Mais tarde decidi que tinha, acima de tudo, de encontrar um sítio bom para jogar regularmente num bom nível competitivo. Não queria estar no banco de um clube grande. O Bristol abordou o meu agente e o projeto apresentado agradou-nos bastante, desde o início.

MF – Como é que um clube como o Benfica acompanha um atleta que está emprestado?
PP – Há uma pessoa responsável pelo acompanhamento dos atletas emprestados e os contatos são permanentes. Além disso, o Team Manager [Tiago Pinto] envia-me quase sempre mensagens a seguir aos jogos. Ainda agora me deu os parabéns pelo golo e pela assistência. Sinto que as pessoas têm interesse em mim e estão preocupadas com a minha evolução. É bom saber isso, mesmo não estando no Benfica.

MF – O Pedro tem contrato até junho de 2022 com o Benfica. Mantém o objetivo de ser titular do clube?
PP – O que me fez voltar ao Benfica em janeiro de 2017 foi esse sonho. Fiquei muito triste quando as coisas correram da forma como correram, não foi de todo isso que eu tinha imaginado. Não era assim que eu queria que as coisas corressem e não era assim que o Benfica queria que as coisas corressem. As coisas acontecem por alguma razão. Acho que reagi bem, dei a volta por cima e o meu foco é ajudar o Bristol a subir de divisão. No final da época… não sei se ficarei no Bristol, se voltarei ao Benfica ou irei para outro lado.

MF – Em janeiro de 2017 saiu da Sampdoria e aceitou voltar ao Benfica. Arrependeu-se?
PP – Eu estava bem na Sampdoria, mas mudámos de treinador e os jovens perderam espaço na equipa. Passei a jogar menos vezes. Fiquei um bocado preocupado com a minha situação na equipa, mas na segunda época voltei a jogar bastante e apareceu o interesse do Bournemouth, de Inglaterra. Umas semanas depois recebi o desafio do Benfica. Foi impossível dizer não. Esse era o meu sonho de criança, jogar na equipa principal do Benfica. Por isso assinei por cinco anos e meio, senti que acreditavam muito em mim.

MF – Qual era o projeto do Benfica para si?
PP – Disseram-me que nesses primeiros seis meses iria adaptar-me e jogaria mais nas taças. Queriam preparar-me para ser o sucessor do Nelson Semedo. Ele estava bem e o clube queria valorizá-lo para vendê-lo, como veio a acontecer. Na época seguinte, aí sim, eu seria aposta para jogar. Acabei por estar muito tempo parado e quando tive oportunidades mostrei não estar mentalmente preparado para ter essas oportunidades.

MF – Quando sentiu que o treinador Rui Vitória não estava convencido em relação a si?
PP – Na pré-época seguinte. Eu colocava muita pressão sobre mim e até já falei sobre isso com o meu mental coach. Isso prejudicava-me bastante. Queria estar sempre ao máximo e não lidava bem com falhas e erros, não conseguia lidar com isso. Estava a jogar regularmente na Sampdoria e quando cheguei ao Benfica vi aquela dimensão toda, aquela pressão toda e isso deixou-me nervoso, desconfortável. Estava sempre a lutar com a minha cabeça. Falhava? Não falhava? Depois, quando joguei na pré-época senti muito os meses que estive sem competir.

MF – Entre janeiro e julho de 2017 só fez um jogo.
PP – Isso mesmo, no Bessa. Fiz 90 minutos e fui campeão nacional. Foi o único jogo que fiz em meio ano. Senti que tinha de dar grande rendimento na pré-época e não soube lidar com a pressão. Dei demasiada atenção a tudo o que rodeava as minhas exibições, às reações de todos. Fazia um jogo mau, regressava ao hotel, pegava no telemóvel e via as críticas que faziam sobre o meu jogo… diziam que eu não estava pronto, que eu não tinha valor suficiente, tudo mexeu com a minha cabeça. Tinha só 18 anos na altura.

MF – O Rui Vitória teve o cuidado de falar consigo nessa altura?
PP – Todas as pessoas no Benfica me apoiaram. O staff do Rui Vitória, os adjuntos, falavam muito comigo e mostravam que gostavam de mim. Tentavam ajudar em tudo. Nessa altura, realmente, a culpa foi minha. Não estava pronto e não correspondi quando tive de corresponder. Melhorei muito esse lado emocional e sinto-me mais preparado para lidar com a pressão. No meio de tantos problemas, de tantos meses sem jogar, cumpri o sonho de ser campeão nacional pelo Benfica. Ainda hoje me arrepio ao ver os vídeos dos festejos no Marquês.

MF – Acredita que ainda poderá ser útil ao Benfica?
PP – Estou muito focado em ajudar o Bristol a subir à Premier League. Não crio expetativas, só me foco no meu trabalho.