O verão de 2016 colocou o Lorient nas páginas dos jornais portugueses com a transferência do campeão europeu Raphael Guerreiro para o Borussia Dortmund. Foi no clube francês que o lateral esquerdo despontou, amadureceu e brilhou até surpreender tudo e todos.

O «gigante» alemão estava atento e levou o luso-francês, que se destacou nas três épocas que vestiu a camisola laranja do clube da região da Bretanha.

Agora, com Raphael na Bundesliga, Cafú é o representante nacional no Lorient, ele que entrou no clube pouco depois de o lateral sair. O antigo jogador do Vitória, em entrevista ao Maisfutebol, fala dos conselhos do internacional português e conta como está a ser a primeira experiência fora de portas.

«Antes de vir falei com o Raphael sobre o clube e a cidade e isso pesou na escolha. Falou-me muito bem do clube, que tinha muita margem de progressão e que era um clube para estar dois ou três anos para dar o salto. Ele é um exemplo disso. Disse que havia boas estruturas, boas condições, numa cidade tranquila e com pessoas muito boas», explicou.

Quase cinco meses volvidos, confirma: «Estou a viver isso mesmo.»

O interesse do Lorient surgiu e Cafú não hesitou. A vontade de sair de Portugal à procura do sonho da Premier League falou mais alto.

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«Partiu da minha parte sair e depois a proposta chegou ao Vitória obviamente. Tive outras abordagens, mas só esta foi concreta e analisei-a juntamente com os empresários e decidimos o que era melhor para mim. Quem dera que no fim dos quatro anos de contrato tenha sido um bom salto. França é o mercado onde Inglaterra vai buscar mais jogadores e esse é o meu sonho, penso que o de qualquer jogador. É o melhor futebol do mundo.»

A adaptação está a correr bem, refere, mas não esconde que teve dificuldades: «É a primeira experiência fora, ao início é tudo um bocado difícil. Tens que ir consciente do que vais apanhar e se estiveres preparado para isso, adaptas-te melhor, não é um choque tão grande. Claro que primeira semana, primeiro mês, foi complicado, ainda por cima não há portugueses nem espanhóis no balneário. Eles falam francês para ali, francês para acolá...»

Mas essa barreira tornou-se... benéfica.

«Posso dizer que se hoje sei mais alguma coisa de francês e consigo falar melhor com os companheiros é fruto disso, não ter portugueses nem espanhóis obrigou-me a praticar mais.»

Esse foi o único entrave na adaptação. Agora tudo corre bem e só tem elogios para o que encontrou: «Aqui sentes-te bem em ir a qualquer lado, mesmo as coisas não correndo bem como agora. A minha mulher é testemunha disso, nós muitas vezes estamos a sair a pé para ir para o estacionamento e os adeptos vem pedir autógrafos, fotos, mesmo as coisas não correndo bem. O Raphael já me tinha dito para o que vinha.»

E o momento do Lorient é mau, último do campeonato, mas as pessoas não mudam.

«Até faz confusão vindo do clube que vim, em Guimarães perdias duas ou três vezes e quase que não podias sair de casa. Não era tanto o meu caso, porque sou mesmo de Guimarães e as pessoas têm muito carinho por mim, mas é a realidade. Tenho colegas que passaram por isso.»

Fora do campo, Cafú está satisfeito, mas no relvado as coisas não estão a correr bem ao Lorient: é último e viu o treinador Sylvain Ripoll ser despedido. Apenas 17 dias depois (8 de novembro) foi encontrado o sucessor: Bernard Casoni.

O técnico chegou no início desta pausa internacional com a missão de reerguer uma equipa com apenas sete pontos em doze jogos (duas vitórias, um empate e nove derrotas), a quatro do primeiro conjunto acima da zona de despromoção: «Temos novo treinador é como se estivéssemos a começar a época, uma nova pré-temporada.»

«Nestas alturas de pausa estamos a levar mais ‘coças’. Gostámos é de jogar, mas este tempo vai ser bom», explicou.

Cafú fala de outro nível de intensidade em França, que aos poucos se vai habituando: «Nota-se uma diferença, o futebol é mais físico, mais intenso, nota-se logo isso. Tacticamente não é tão forte, tem muita correria. Apanhas um misto de físico com técnico.»

A principal diferença está... nas bancadas.

«Nota-se grande diferença. Aqui os estádios têm todos grandes capacidade. O nosso leva 20 mil e tem uma média de 15 mil. Mas a maior parte leva 30, 35, 40, 45 mil. O Velódrome, do Marselha, leva 60 mil. As pessoas aderem muito, os estádios não esgotam, mas está sempre mais de meia casa em qualquer um.»

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Em Guimarães também estava a habituado a grandes ambientes, não deixa de apontar, mas nas deslocações havia normalmente mais cadeiras que adeptos. Agora não.

«Em qualquer jogo sentes-te motivado. Todos os jogos são muito competitivos, equipas de meio da tabela têm grandes condições e as pessoas vão muito ao estádio. Isso é muito bom para um jogador.»

Cafú tem sido presença habitual no ‘onze’ e fez nove dos treze da equipa. Um falhou por lesão e outro por ter completado a série de cartões amarelos. O último com o Bordéus falhou por opção: «Toca a todos... Os resultados não estão a correr como queremos, já tinha trocado a maioria do onze e ainda não me tinha tocado a mim.»

A última partida que disputou foi a mais emocionante, o dérbi da Taça com o rival Rennes, de Afonso Figueiredo: «Ambiente espetacular. Cerca de 35 mil, 40 mil pessoas. Fantástico. Foi um bom jogo, eles estavam a ganhar 2-0, nós reduzimos a cinco minutos do fim e a um minuto do fim fizemos o 2-2. Depois íamos a prolongamento, mas o árbitro deu quatro minutos e eles marcaram aos 95 num canto. Foi infelicidade.»

Sobre os treinos e os treinadores, vai agora para o segundo em cinco meses, Cafú diz que ainda está a conhecer, mas não duvida: «Continuo a dizer que o português é um treinador conceituado a nível mundial, Mourinho, Villas Boas, Jorge Jesus, Leonardo Jardim... O treinador português está mais à frente que o francês, mas ainda estou a conhecer os novos métodos, até agora não me posso queixar.»