64 golos, dois títulos de campeão nacional, uma Taça de Portugal, uma Supertaça: Tiquinho Soares foi ao longo das últimas três épocas e meia uma das referências ofensivas do FC Porto, mas acabou por se transferir para o Tianjin Teda no início deste mês.

Na primeira entrevista desde a sua saída [superando por escrito uma distância de quase 10 mil quilómetros], o avançado brasileiro de 29 anos revela em exclusivo ao Maisfutebol como passou os primeiros dias em quarentena na China, a necessidade de deixar o FC Porto e o facto de nunca ter sido abordado para prolongar o seu vínculo, que expirava no final desta época.

Soares salientou também o papel de Sérgio Conceição na conquista dos títulos e destacou as boas memórias que tem das passagens por Nacional, Vitória de Guimarães e em particular FC Porto: como a estreia com um bis num clássico frente ao Sporting.

Tudo em vésperas de o FC Porto voltar a Alvalade, onde curiosamente Soares foi o autor do último golo dos campeões nacionais no estádio leonino [a 5 de janeiro].

MAISFUTEBOL – Chegou à China e esteve 14 dias em quarentena no hotel. Como ocupou o seu tempo até poder integrar o plantel do Tianjin Teda?

SOARES - Treinei muito no hotel durante a quarentena e vi também alguns jogos do clube. O clube passou-me um cronograma de treino e fazia sozinho no quarto alguns exercícios, outros fui fazendo por chamada de vídeo com a ajuda de um amigo. Nunca tinha passado por isso antes, mas estou bem de saúde e falo todos os dias com meus familiares, o que ajuda a matar as saudades. Agora, já integrei os trabalhos da equipa [estreou-se esta sexta-feira] e finalmente vou poder ajudar os companheiros no dia a dia, pelo que estou feliz por esta nova etapa.

Soares a treinar durante o período de quarentena no quarto de hotel / BM Press

O que o convenceu a rumar à China? Entendeu que o seu ciclo no FC Porto estava terminado e precisava de um novo desafio?

O meu ciclo com o FC Porto nunca vai acabar. Mesmo sem jogar, continuo a ser adepto do clube. Acho que profissionalmente eu precisava sair. Porém, foram três anos magníficos e agradeço ao FC Porto por isso.

Houve a oportunidade de renovar e ficar no FC Porto?

Nunca ninguém me chamou para renovar em três anos de clube, mas mesmo assim estou grato por tudo.

Nestes primeiros dias na China já é possível estabelecer diferenças com o quotidiano em Portugal?

Estava na Europa há alguns anos e acabamo-nos por acostumar a determinada forma de jogar. A diferença é sobretudo adaptarmo-nos a novos métodos de trabalho. Quanto ao resto, pelo que vi, acho a China um país muito bonito. As pessoas são muito atenciosas, mas ainda não tive oportunidade de conhecer muita coisa.

Quais as melhores memórias do seu percurso em Portugal?

A melhor memória foram os títulos conquistados com a camisola do FC Porto, sem dúvida. Em Portugal, vivi muita coisa boa. Em Guimarães tive seis meses de felicidade no Vitória, que para mim é um clube com muita força. Sou grato ao Vitória por ter feito parte do grande clube que é. No Nacional também passei um ano e meio de aprendizagem com um treinador, o Manuel Machado, que me ajudou a perceber o que é jogar o futebol português.

E em termos de jogos, houve algum que o tivesse marcado mais?

O meu jogo preferido foi o primeiro com a camisola do FC Porto: estreei-me no clássico no Dragão frente ao Sporting e fiz os dois golos da vitória [2-1, a 4 de fevereiro de 2017, na 20.ª jornada da Liga 2016/17].

O bis de Soares no clássico frente ao Sporting, na estreia pelo FC Porto

Em três épocas e meia, o Soares sagrou-se duas vezes campeão no FC Porto. Como caracteriza essas equipas e a exigência do treinador Sérgio Conceição?

A equipa tem um alto nível competitivo aliada a muita humildade no trabalho e o Sérgio Conceição é um homem com uma missão: ajudar-nos a dar tudo o que temos. Essa atitude e a exigência dele foram fundamentais para a conquista dos títulos pelo FC Porto.

Que memórias tem daqueles tempos em que você era um menino do bairro de Felipe Camarão, em Natal? Nesses tempos sonhava em ter a carreira que teve?

Não imaginava ser futebolista profissional. Sobretudo, por tantas dificuldades que passei com os meus pais e a minha irmã. Mas fui-me superando com a ajuda da minha família, que é tudo para mim. Eles são o meu alicerce. Olhando para trás, nunca imaginei chegar a um nível tão elevado.

Olhando para o futuro: tem projetos para onde vai viver e sobre o que vai fazer quando deixar o futebol?

O futuro a Deus pertence. O meu projeto é morar em Portugal com minha família e trazer todos para morar comigo nesse país tão maravilhoso.

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