Dani Figueira foi um dos nomes a destacar-se no bom ano do Estoril no regresso à Liga.

O jovem guarda-redes natural de Vizela, que iniciou o trajeto no Santa Eulália, e fez quase toda a formação no V. Guimarães, mudou-se do norte do país para o Estoril e não mais parou de crescer.

Agarrou a primeira oportunidade na equipa principal dos canarinhos depois de ter começado a primeira época nos sub-23 e afirmou-se como um dos bons guarda-redes da Liga logo na estreia.

E até já era de prever. Ou não estivéssemos a falar do melhor guarda-redes da II Liga no ano em que os estorilistas se sagraram campeões.

Dani Figueira descreve-se como «uma pessoa alegre» e mostra isso ao longo de uma conversa de meia-hora com o Maisfutebol.

Mas ele diz que é fácil. «Aqui à beira da praia temos tudo para ser felizes. É uma cidade de sonho», descreve o jovem de 24 anos que teve na chamada à seleção e primeira internacionalização, aos 18 anos, e no título da II Liga pelo Estoril os momentos mais especiais da ainda curta carreira.

Maisfutebol: Cresceu sempre perto de casa, entre Vizela e Guimarães. Como foi a mudança para o Estoril, aos 22 anos?

Dani Figueira: Ao início custou-me um bocado. Estava habituado ao ninho, a casa, estava na minha zona de conforto. Mas vir para o Estoril ajudou-me a crescer. Tornei-me mais homenzinho, independente e acho que precisava mesmo dessa mudança para dar o salto. Aqui foquei mais em mim e no meu trabalho e senti o que era o futebol profissional. No Vitória trabalhei com a equipa principal, até fui convocado para um jogo, mas era jogador da equipa B. E aqui senti-me um verdadeiro jogador profissional. Acho que também tive a sorte de apanhar as pessoas certas no caminho e aguentei bem a pressão e a solidão de estar aqui sozinho.

MF: Alguém em particular?

Dani Figueira: Tenho uma pessoa que foi muito importante para mim: o meu treinador de guarda-redes, o mister Pedro Miranda. É um suporte muito forte para mim. Eu cheguei ao Estoril um miúdo e ele disse-me que a idade não conta. E a verdade é que a história está a ser feita, eu tenho crescido imenso e devo-o muito a ele. E também o Marcos Valente [atualmente no Vilafranquense], com quem tinha jogado no Vitória. Vivia com ele e funcionou também como meu psicólogo em casa.

MF: Começou na equipa de sub-23, mas fez apenas dois jogos e saltou logo para a equipa principal. Era essa a ideia?

Dani Figueira: Foi engraçado porque tinha sido convocado para o jogo da equipa principal, mas não joguei e perguntaram-me se queria ir jogar aos sub-23. Eu acho que todas as oportunidades são de agarrar e foi o que fiz. Fui para os sub-23 e depois houve o azar da lesão do António Filipe, que tenho de elogiar por me ter ajudado sempre. E aqui no Estoril, sendo da equipa A ou dos sub-23, há sempre uma porta aberta para o futebol profissional.

MF: E para si foi uma porta que não se voltou a fechar.

Dani Figueira: Sim, no primeiro ano só não fiz os dois primeiros jogos. Depois joguei sempre até o campeonato parar por causa da covid. Estava a correr-me bastante bem a época. Depois o ano seguinte foi mágico. Fomos campeões, fui eleito o melhor guarda-redes da II Liga e acho que não dá para sonhar com uma época melhor.

MF: E esperava uma afirmação tão rápida?

Dani Figueira: Também devo muito à equipa, aos outros guarda-redes e ao mister Bruno Pinheiro, que me ajudou bastante no meu percurso. Foi uma época em que tudo correu bem. Foi um ano de sonho que irei recordar para sempre.

MF: E um ano depois, a estreia na Liga e a lutar pela qualificação europeia…

Dani Figueira: Sim, quando olho para trás… Se me dissesses há uns anos que eu ia estar a viver isto, diria que eras maluco. Mas as coisas têm vindo a acontecer e não é por acaso. Tem sido fruto de muito trabalho e dedicação. E graças à estrutura que o Estoril tem, que nos dá as ferramentas para atingir estes patamares. Estou muito feliz pelo resultado que conseguimos no ano passado. E agora vai arrancar uma nova época, em que esperamos conseguir fazer melhor.

MF: No ano passado a equipa teve uma quebra clara depois das notícias da possível saída do treinador Bruno Pinheiro. Isso abalou mesmo o grupo?

Dani Figueira: É um pouco difícil de dizer porque a forma de trabalhar não mudou. Encarámos todos os jogos com o objetivo de vencer. Infelizmente, as coisas não nos corriam bem e nós vínhamos de um longo período em que tudo corria bem. Não soubemos lidar com a pressão e tivemos essa quebra. Acabámos por conseguir uma boa classificação, mas é verdade que houve uma altura em que ambicionámos mais.

MF: Agora chegou Nelson Veríssimo, um treinador novo. Como está a ser trabalhar com ele?

Dani Figueira: Acho que é o treinador ideal para o projeto do Estoril. É ambicioso, gosta de jogar para ganhar, está habituado a trabalhar com jovens e o nosso plantel é muito jovem. Por isso, acho que é o treinador ideal. Temos estado a trabalhar bem, estamos confiantes e tem potencial para dar certo. Mas eu tenho contas a ajustar com ele [risos]…

MF: Então, porquê?

Dani Figueira: Foi o único treinador contra quem eu perdi a jogar contra o Benfica. Mesmo na formação, nunca tinha perdido e foi o mister Nelson Veríssimo o responsável por essa derrota com o Benfica. Está-me aqui atravessado [risos].

MF: E como vai fazer essa vingança?

Dani Figueira: [mais risos] Por acaso já pensei nisso, mas ainda não lhe falei no tema.

MF: Os pontos em que diz ter evoluído mais são o jogo de pés e o controlo da profundidade serão importantes na ideia de jogo de Nelson Veríssimo. Essa adaptação foi fácil?

Dani Figueira: Ainda estamos a perceber as ideias do mister, mas claro que ele vai querer isso de um guarda-redes. No futebol moderno, o guarda-redes não se limita a defender a baliza. Mas eu gosto que me proponham desafios para poder crescer e chegar a outros patamares.

MF: São características cada vez mais importantes na posição.

Dani Figueira: Sim, vemos o Ederson, o Neuer ou o Alisson e parecem defesas centrais. Por isso, repito: gosto de ser desafiado e sei que irei agradecer mais tarde por me terem massacrado para trabalhar aspetos em que tenho mais dificuldade.

MF: Quais são as suas ambições a curto-médio prazo?

Dani Figueira: Estou focado no Estoril, que me tem dado todas as condições para crescer. Tenho vindo sempre a responder. Olhando para o futuro, sonho com outros patamares. Sinto que estou pronto para eles, mas só quero dar tudo pelo Estoril.

MF: É internacional jovem. Voltar à seleção está no horizonte?

Dani Figueira: Sim, apesar de neste momento estarem lá guarda-redes fantásticos. Nomeadamente, o Diogo Costa que é um ano mais novo do que eu e com quem já trabalhei na seleção. É fantástico em todos os aspetos. Mas há mais: Luís Maximiano, Rui Silva, José Sá. Temos muito bons guarda-redes. Cabe-me evoluir para poder concorrer com eles.

MF: Chegar à seleção A é mais um sonho ou um objetivo?

Dani Figueira: É um objetivo a médio-longo prazo. Vou trabalhar para chegar lá.