Começou pelo futsal e tentou depois a sua sorte com apenas dez reais no bolso para prestar provas em dez minutos. Atravessou o Atlântico para representar o Marítimo em 2013 e depois de uma época a dar nas vistas, com 18 golos em 34 jogos, deu o salto para o Benfica.

Em conversa com o Maisfutebol o avançado Derley, atualmente ao serviço do Desportivo das Aves, fala da carreira e da aventura no Benfica. Está convicto de que a sua história poderia ter sido diferente caso Jorge Jesus tivesse permanecido nas águias em vez de se mudar para o Sporting.

O Benfica é o principal candidato ao título, na visão do brasileiro de 31 anos, mas em futebol tudo pode acontecer e, por isso, acredita numa luta até ao fim entre o Benfica e o FC Porto na luta pelo título nas três últimas jornadas do campoenato.

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Como começou a jogar futebol?

Comecei pelo futsal quando tinha 11 anos. Aos 15 passei para o futebol. Fiz um teste a ver se era aprovado, lá chamam a isso ‘peneira’. Foi um clube de Recife que foi fazer esses testes na minha cidade, paguei dez reais mas o que disseram era que estava tudo armado, os jogadores já estavam selecionados e era apenas uma forma de o Sport Clube de Recife ganhar algum dinheiro. Tinham oito jogadores já escolhidos, o resto era para ganhar dinheiro. Fui apenas com os dez reais que tinha dados pelo meu pai, não conhecia ninguém, e fiz o tal teste que era apenas dez minutos a jogar futebol. Nesses dez minutos fiz três golos e o treinador disse-me para esperar. No fim disse-me que fui o único selecionado e começou aí a minha trajetória. Fiquei lá três meses e depois voltei para a minha cidade, para o Americano.

Sempre foi uma ambição ser jogador de futebol ou entrou no futsal inicialmente por diversão?

Desde a escola toda a gente perguntava o que queria ser quando crescesse e o meu objetivo sempre foi este, ser jogador profissional de futebol. O meu pai, na época, era apaixonado pelo futebol e queria também isso. Já não é vivo, mas sempre dizia que eu ia ser jogador. Foi ele que me deu o maior incentivo.

O que sentiu com o primeiro contrato profissional?

O meu primeiro contrato foi com esse clube, com o Americano. Ganhava o salário mínimo, mas fiquei feliz, já era muito bom para quem ainda não tinha ganho nada com nenhum trabalho. Ganhar dinheiro com o futebol, podendo comprar as minhas coisas e ajudar a família, já era ótimo.

Jogar no futebol europeu era outro dos projetos como futebolista?

Para falar a verdade, sonhar toda a gente sonha com isso. Eu apenas queria ser jogador profissional, o meu objetivo era, quem sabe, jogar numa equipa grande no Brasil. Mas saí direto do Brasil para Portugal. Depois de chegar aqui, almejei coisas melhores, como a minha ida para o Benfica.

Chegou a Portugal com 25 anos. Acredita que se chegasse mais cedo a trajetória de que fala podia ter sido diferente?

Penso que cheguei na hora certa. Talvez, se eu tivesse chegado antes, o salto poderia acontecer aos 25 anos. Como cheguei com essa idade o salto aconteceu no mesmo ano e toda a gente ficou surpreendida. Um primeiro ano num novo país é sempre difícil, há a questão de adaptação, e para mim foi muito bom. Adaptei-me muito bem a tudo, foi às mil maravilhas.

Apontou dezoito golos em 34 jogos, segundo melhor marcador atrás do Jackson Martinez. Excedeu as expetativas?

Assim eu cheguei tinha como meta marcar dez golos. Aconteceu eu marcar 18. Foi fantástico, não sonhava fazer tantos golos. Atingi a minha meta dos dez golos, fiz quase o dobro. Foi top.

Como se deu a ida para o Benfica, numa altura em que se falou também do interesse do Sporting?

O Sporting estava interessado, sim. Mas devido à condição financeira o Benfica foi melhor para mim. Falaram muito tempo com o meu empresário, mostraram interesse muito cedo e acabou por ser a minha escolha e a minha vontade.

Marcou dois golos em 27 jogos com a camisola do Benfica.

No Benfica foi diferente. No Marítimo cheguei e fiz muitos golos, porque também joguei mais. Quando cheguei ao Benfica, um clube maior, as expetativas são maiores. Tinha jogadores de muita qualidade, então tive de lutar pelo lugar com o Lima, com o Jonas e outros. Grandes jogadores, não era fácil, mas mesmo assim era opção do Jorge Jesus e sempre que entrei joguei bem, dava o meu melhor. Mas não foi uma época bem conseguida, como eu queria em termos de objetivos individuais. Foi uma experiência muito grande, aprendi muita coisa, fui campeão e conquistámos mais dois títulos, a Taça da Liga e a Supertaça.

Como foi trabalhar com o Jorge Jesus?

Ele sempre foi assim, com aquele jeito dele. Mas de facto é um grande treinador, aprendi muito com ele. Sempre fui uma das opções dele. Aproveitei bastante.

Depois dessa primeira época esperava mais, uma segunda época em que pudesse render mais?

No meu pensamento achei que ia ter mais oportunidades na segunda época. Com o Jorge Jesus, se ele estivesse, certamente eu ia ficar porque ele gostava de mim e do meu trabalho. Certamente ia ter mais oportunidades, o Lima saiu nessa época e certamente se o Jesus estivesse eu ficaria. Como ele saiu ficou mais difícil. Tive de ser emprestado.

Como vê a luta pelo título neste momento?

Estes momentos decisivos têm muita pressão. Estive na frente no Benfica, estes momentos são muito difíceis, para não perder pontos. O FC Porto perdeu pontos com o Rio Ave, mas isto é futebol, acontece. É muito difícil o Benfica perder um jogo agora nesta fase, eu acho isso, mas tudo pode acontecer e por isso a luta vai ser até ao final.