Rafael Lopes é o mais recente reforço do Desp. Chaves, clube recém-promovido à Liga. O avançado é aposta de Jorge Simão para o ataque aos golos e à continuidade da equipa transmontana no principal campeonato português, depois de 17 anos de ausência.

Rafael Lopes tem 24 anos e passagens pelo Varzim, V. Setúbal, Moreirense, Penafiel e Académica, depois de ter dividido a formação entre o Esposende e o Varzim. A melhor época aconteceu ao serviço da equipa penafidelense, com 15 golos em 34 golos só na primeira metade de 2013/2014.

O treinador Miguel Leal foi importante para esses números, tal como agora Rafael Lopes, que esteve perto de ir para o Benfica de Jorge Jesus em 2011/2012, espera que Jorge Simão o seja.

Em entrevista ao Maisfutebol o avançado falou do novo projeto, do desafio de ser avançado português na Liga, recordou a passagem na «instável» Académica, abordou a transferência falhada para a Luz e admitiu as parecenças com Ibrahimovic... até no humor.

Mais um clube: o Desp. Chaves. O que espera deste novo desafio?

Espero ter sucesso, é para isso que vou trabalhar. Quero ajudar o Chaves a ganhar estabilidade na Liga. Queria continuar em Portugal, o projeto agradou-me e estou muito satisfeito. É um clube com história e é um orgulho representá-lo.

Sendo um clube recém-chegado à Liga, torna-se num desafio mais complicado?

Sim, mas é um clube ambicioso que tem um bom projeto e que contratou um bom grande. Por isso, acho que tem tudo para dar certo.

O que conhece de Jorge Simão, ex-técnico do Paços de Ferreira?

É um treinador que me agrada e foi um dos fatores que também pesou para escolher o Chaves. Ele conseguiu valorizar, e muito, as qualidades do Bruno Moreira. É um treinador que treina as equipas para jogarem bem à bola, com movimentos ofensivos muito virados para o ponta de lança. É um jogo que me pode beneficiar e ajudar.

Que outro treinador o ajudou a crescer, como espera agora que Jorge Simão o faça?

O Miguel Leal no Penafiel. Quando fui para o Penafiel, tinha saído do Moreirense e não tinha feito nenhum jogo a titular. Quando fui falar com ele disse-lhe que gostava de fazer 10 golos e ele disse-me que achava que eu conseguia fazer 15. E isso aconteceu em meia-época. Quando acreditam em nós é tudo diferente. Depois motivou-me para rever o objetivo, mas entretanto saí.

Acredita-se pouco no avançado português, não é?

É e é um assunto que todos os anos é debatido. Por que é que não se aposta nos avançados portugueses e, consequentemente, a nossa seleção não tem muitos avançados. Isto não tende a mudar, vai continuar a ser assim com muita pena minha.

Encontra alguma justificação para isso?

Não apostam em nós. Têm de apostar mais e dar mais oportunidades, porque os avançados não têm apenas a função de marcar. Fazem mais do que isso durante o jogo, mas claro são os golos que mais interessam. O avançado vive de estatísticas. E acontece muitas vezes que quando não se marca em dois, três ou quatro jogos seguidos, sentam-nos no banco. Isso não é apostar. Apostar é continuar após esses jogos, se cumprirmos as indicações do treinador e ajudarmos a equipa. Só assim é que se ganha confiança e ritmo e, por consequência, marca golos. O que custa é o primeiro, os restantes surgem mais naturalmente. Até ao primeiro há sempre maior ansiedade.

Muitas das vezes é também a pressão externa, dos adeptos… não?

Sim, mas quem mais sofre é o jogador. E o jogador português em Portugal, mais. Se o português fizer um jogo mau, perde logo a oportunidade; se for um estrangeiro, não. E isso acaba por influenciar também o rendimento do jogador.

Há casos assim, por exemplo, o Fredy Montero no Sporting. Chegou, marcou muito e depois esteve vários meses sem marcar…

Sim, sim, mas quem percebe de futebol sabe que ele era muito importante para a equipa e para o jogo do Sporting. Mesmo não marcando trabalhava para que outros marcassem. Se ele não saia, é porque o treinador sabia que ele era muito importante para a equipa. E não me apercebi de tantas críticas infundadas.

Marcou ao Benfica na Luz ao serviço da Académica, após a morte do avô

Por falar em Sporting, gostava de um dia chegar a um dos três grandes de Portugal?

Claro. É um passo de cada vez. Claro que tenho o desejo de chegar a um grande, mas sei que é difícil pelo que já falámos sobre os avançados portugueses, mas tenho essa ambição, porque sou ambicioso. Era ótimo, mas sei que é difícil.

Mas já foi apontado ao Benfica em 2011/2012…

Sim e estive perto de ir para o Benfica, quando fui para o V. Setúbal, tinha quase tudo fechado, mas não se concretizou.

O que falhou?

Não vale a pena falar disso agora. São coisas que acontecem. Às vezes está tudo encaminhado e, à última hora, tudo muda. Foi o que aconteceu.

Ainda pensa nisso?

Não, já foi tempo. Houve uma altura da minha carreira em que me fui abaixo, quando saí do Moreirense. Pensava como teria sido se tivesse ido, se estava num sítio melhor, se teria tido oportunidade, mas agora já não penso nisso. Agora penso, se não fui é porque não tinha de ir. Temos de seguir em frente.

E voltar à seleção é, obviamente, um objetivo? Tem onze jogos e um golo pelos sub-20…

Claro! Gostava muito de voltar à seleção, mas também acho que é uma situação difícil de acontecer. Ainda assim, é certo, é algo pelo qual vou lutar até ao final da minha carreira.

Em 2011/2012 jogou em Setúbal, marcou quatro golos em 29 jogos

Jogou duas épocas e meia na Académica e esse ciclo fechou-se com a Briosa na II Liga. Que sensação ficou?

Essencialmente que o dever não foi cumprido, muita tristeza e muitas questões: o que poderíamos ter feito para mudar isso? Descer de divisão é sempre triste. Ninguém quer estar nessa situação. Acabei o ciclo de forma negativa, num clube que me deu a mão e apostou em mim.

Falhou só a equipa?

Não. Sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, a Académica ia passar por uma situação destas. São assuntos que não dizem respeito aos jogadores, mas são questões internas graves que depois acabam por afetar a equipa.

É um clube muito instável nos últimos anos…

Sim, é um clube muito instável. Há várias razões para a instabilidade: a gestão, a construção da equipa... Começámos a época com 35 jogadores. Uma equipa da Liga não pode começar assim. Não nos diz respeito, mas somos prejudicados. Se não fosse este ano, seria para o ano ou daqui a dois, com muita pena minha.

Mas, pelo que conheceu do clube, acredita que foi melhor assim? Às vezes estas situações acabam por fazer com que os clubes «renasçam»…

Não é bom a Académica estar nesta posição, mas acredito que isto possa ser bom. Acho que se precisava deste choque para se abrirem os olhos. Se continuasse na Liga, isto ia continuar a acontecer. O choque da descida já trouxe mudanças e acho isso positivo. Assim, acredito que para o ano ou depois a Académica regresse. Deu um passo atrás para dar dois à frente.

E que balanço faz da sua última época em Coimbra?

Não posso fazer um balanço muito positivo pelo que aconteceu, mas, quanto a mim, fui o melhor marcador. Não marquei muitos golos, é certo, mas fui o melhor e marquei mais do que na temporada anterior. É o que retiro de positivo desta época.

Os melhores avançados da Liga são Jonas e Slimani. Identifica-se com algum deles? Ao lado de qual gostava de jogar?

Sim, identifico-me bastante com o Slimani. É um jogador com raça, que não vira a cara à luta e que tem presença na área. Em Portugal é aquele com quem mais me identifico, mas a jogar seria ao lado do Jonas por sermos diferentes. O Jonas é um jogador mais requintado, tem mais classe, pode ir buscar jogo atrás, organizar mais o jogo e no 4-4-2 é perfeito. Já o Slimani é mais fixo. Os dois faziam uma dupla imbatível.

E no estrangeiro?

O Ibrahimovic. Adoro vê-lo jogar. É de longe quem gosto mais de ver jogar.

Também tem o lado bem-humorado do sueco?

Sim, mas ele abusa um bocadinho. Se fizesse em Portugal o que ele faz, já ninguém me ligava (risos). Eu sou de brincar no balneário, de andar sempre com um sorriso. Sou brincalhão e bem disposto, dentro e fora do futebol. Na Académica, às vezes, o treino estava prestes a começar e eu aparecia vestido com o fato da mascote (risos).