A rivalidade é antiga. Gonçalo Paciência de azul e branco de um lado, o Benfica do outro. Com a saída do avançado para a Alemanha, julgava-se que as batalhas seriam interrompidas, mas os deuses do futebol assim não entenderam. 

O Eintracht Frankfurt, casa nova de Gonçalo, é o próximo adversário das águias na Liga Europa. Por coincidência, o avançado português é um velho adversário de Bruno Lage, oponente em vários duelos nas camadas jovens. 

Em entrevista exclusiva ao Maisfutebol, o ex-jogador do FC Porto fala da eliminatória da UEFA, dos duelos contra o Benfica e da novidade que é ter um Paciência a jogar no Estádio da Luz. Vasco, o seu irmão mais novo, foi o último da família a sair do Dragão.
  

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Maisfutebol – O Eintrach vai defrontar o Benfica na Liga Europa. Como é que o Gonçalo e o Luka Jovic reagiram ao sorteio?
Gonçalo Paciência –
Eu e o Luka já tínhamos falado sobre isso. E ambos queríamos o Benfica. O Luka por querer vingar, talvez, o insucesso que teve na Luz. O facto de não ter singrado. E eu mais pelo regresso a Portugal. É ótimo estar fora, mas este é o meu país, o país que eu amo. Não digo que estou feliz, porque isso só acontecerá se eliminarmos o Benfica, mas é ótimo poder jogar no meu país outra vez.  

MF – Em que lugar colocaria o Eintrach na liga portuguesa? Teria qualidade para lutar pelo título?
GP –
O «top 10» da Bundesliga poderia disputar a liga portuguesa. Não sei se o orçamento do Eintracht é superior ao do Benfica, mas todos esses clubes têm plantéis muito fortes e equipas muito competitivas. Acho que o Eintracht lutaria claramente pelo título português.

MF – A eliminatória será, então, equilibrada? 50-50?
GP –
Isso, vou responder com esse chavão (risos). São duas equipas a viver bons momentos. Há uma euforia enorme aqui em Frankfurt, os adeptos não nos abandonam, a envolvência é fantástica. Parece-me que no Benfica acontece um bocado isso nesta altura também. Vamos ver como as equipas vão entrar. O detalhe será decisivo, a concentração tem de ser máxima. Vão ser dois jogos muito equilibrados.

MF – Apesar de o futebol de Eintracht e Benfica ser diferente.
GP –
O Benfica tem um jogo mais trabalhado, de muita posse. Nós temos o contra-ataque como principal arma, apesar de também gostarmos de ter bola.

MF – O Bruno Lage trabalhou muitos anos na formação do Benfica. Alguma vez foi seu adversário?
GP –
Muitas vezes, sim. Em quase todas as fases finais dos campeonatos nacionais. Ele seguiu sempre aquela equipa do Bernardo Silva, João Cancelo, Hélder Costa… Infelizmente era a minha geração. Uma equipa fortíssima. É verdade que eles foram mais vezes campeões, mas já marquei vários golos ao Bruno Lage (risos).

Gonçalo contra o Benfica, ainda com a camisola do Vitória

MF – A ideia de jogo dele já era parecida com esta?
GP –
Sim, bastante. E a equipa era poderosa, estava recheada de bons jogadores. Felizmente grande parte desses jogadores estão bem. O modelo era muito parecido com o deste Benfica.

MF – O jogo é mais especial porque agora há um Paciência no Benfica.
GP –
O meu irmão Vasco (risos). Não é uma situação normal, porque há uma ligação anterior ao FC Porto, mas é natural no futebol profissional. Há uma ligação umbilical ao Porto, crescemos lá, foi uma casa para todos nós. Foi um processo natural, porque ele foi preterido no FC Porto e no Benfica viram algo nele. Fiquei muito feliz, reagi com alegria porque o Vasco merece e tem nível para jogar lá.

MF – O seu pai, Domingos, diz que o Vasco é mais parecido com ele do que o Gonçalo. Concorda?
GP –
O Vasco é mais fino, mais ágil, eu tenho uma estrutura óssea diferente. Não sei a quem saio (risos). Sou mais alto e mais forte. E temos uma técnica diferente. O meu pai tinha uma técnica em velocidade, mais como o Vasco. Fico feliz pelo meu irmão, mas temos de estar em cima dele, não pode desperdiçar o talento que tem.   

MF – O Domingos foi o último português Bola de Prata e já confessou que gostava de ver um dos filhos a suceder-lhe. O Gonçalo e o Vasco pensam nisso, vão chegar lá?
GP –
Por acaso sempre soube desse detalhe e isso entrava nos meus sonhos, era bonito. Infelizmente tive de emigrar e nos próximos anos, de minha parte, será difícil. Vamos lá ver se o Vasco consegue. Na minha melhor época na I Liga tive de sair de Setúbal em janeiro. Agora… só se for por equivalências (risos).

MF – No ataque do Eintracht a concorrência é forte, como o Gonçalo já referiu. Um dos avançados é o Luka Jovic, que ainda pertence ao Benfica. Em Portugal raramente jogou.
GP –
Aqui comparam o Jovic a um touro. É forte, é rápido e tem características muito interessantes para um avançado. É muito frio na hora de rematar, é rápido e letal na área. Seja de cabeça, pé direito ou pé esquerdo. O nosso plantel tem muita qualidade. No futuro vamos ouvir falar muito do Luka Jovic.

MF – O Jovic alguma vez lhe explicou o que se passou no Benfica para raramente jogar?
GP –
Sim, ele diz que saiu demasiado cedo de casa e que no Benfica não foi um bom profissional. Assume isso. Chegou com 17 anos e não se portou bem, segundo me diz. Aqui está comprometido, mais equilibrado e maduro. Para mim é bom que os outros avançados estejam bem. Assim fiz a minha recuperação com calma, em silêncio, e agora também estou a lucrar com esse entusiasmo que havia à volta deles. Estou na luta e a chatear o treinador.