O talento de Yacine Brahimi fez as malas e embarcou para o Médio Oriente. No FC Porto deixou um rasto de génio, um estilo único, um artista do drible. Em cinco temporadas, o argelino fez 215 jogos oficiais e tornou-se no sétimo estrangeiro com mais presenças oficiais de dragão ao peito. Um número de respeito. 

A partir do Qatar, onde vive e joga desde julho, Brahimi atende o Maisfutebol e abre o coração numa conversa de uma hora. Fala-se do melhor golo no FC Porto, das melhores exibições, do «irmão» Marega e até de Bruno Fernandes. 

Uma entrevista dividida em quatro partes, para saborear devagar. Como se Brahimi partisse em câmara lenta para cima de mais um defesa. 


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O último jogo de Brahimi na Champions foi contra o Liverpool

Maisfutebol – Consegue escolher o melhor golo marcado de dragão ao peito?
Yacine Brahimi – É difícil escolher só um. Posso escolher os três golos que marquei ao BATE num jogo da Liga dos Campeões?

MF – Claro.
YB – Então é isso, esses três golos.

MF – E quais foram as melhores exibições do Brahimi no FC Porto?
YB – Quando cheguei ao FC Porto jogámos contra o Lille, na qualificação para a Champions. Nunca me esquecerei desse jogo. Foi o meu segundo no clube [o primeiro foi contra o Marítimo, cinco dias antes], mas representou a estreia na Liga dos Campeões e logo em França, onde nasci. Depois tenho de mencionar o meu hat-trick contra o BATE Borisov e o meu último jogo no Dragão, contra o Sporting, porque já sabia que ia sair do clube. E há mais jogos marcantes… a vitória na Luz por 1-0 com o golo do Herrera perto do fim; a vitória em casa do Marítimo por 1-0, com o jogo já a acabar e depois a receção fantástica dos adeptos no aeroporto.

MF – Já que fala dos adeptos, como foi a sua relação com eles?
YB – Intensa. É por isso que eu ficava mesmo doente quando perdia. Chegava a casa e nem falava com a minha mulher. Quando eu falhava em campo, acreditem, ficava doente por causa dos adeptos. Interiorizava muito esse sentimento de culpa. Pelo apoio que sempre recebi, sinto que os adeptos mereciam mais de mim. Sou um jogador de raça, de carácter e por isso acho que as pessoas gostaram de mim.

MF – Despediu-se do FC Porto com uma derrota na final da taça.
YB – Esse jogo ainda me está atravessado na garganta. Essa derrota provocou-me as piores sensações em cinco anos de FC Porto. Sair dessa maneira, a perder de forma tão injusta…foi duríssimo. Durante dois ou três dias nem queria acreditar.

MF – Nem as palavras do Bruno Fernandes, que lhe chamou génio, ajudaram.
YB – Não, nem isso (risos). O Bruno é um jogador subvalorizado na Europa, merece mais. Tem muita, muita qualidade e está a fazer coisas fantásticas no Sporting. Há poucos jogadores como ele, sinceramente: marca, assiste, defende, faz jogar. Dentro de pouco tempo estará num clube ainda maior.

MF – Já que falamos num bom jogador, falemos de outros. Com quem se entendeu melhor a jogar no FC Porto?
YB – Marega. Os meus passes e os movimentos dele. Ele é mais do que um amigo, é um irmão para mim, e isso torna tudo mais fácil.

MF – O Marega até ganhou há poucos dias um Dragão de Ouro.
YB – E já merecia ter ganho antes. Estou muito feliz por ele, porque nem sempre teve uma vida fácil.

MF – O Brahimi foi duas vezes com o FC Porto aos quartos-de-final da Liga dos Campeões. O que falta nesta altura para o clube derrotar os gigantes alemães e espanhóis?
YB – Sim, perdemos com o Bayern e o Liverpool nos «quartos». A diferença de orçamentos é importante, mas não significa tudo. Acredito que o Porto pode voltar a médio prazo a ser campeão da Europa e digo isto porque vejo muita qualidade nos miúdos que estão a sair da formação. Há miúdos de grande, grande nível.

MF – Quer destacar algum desses jovens do FC Porto?
YB – Gosto muito do Romário Baró, gosto do Fábio Silva… e há mais alguns que ainda estão na equipa B. É uma geração de enorme nível e o clube vai tirar benefícios disso.  

MF – Qual foi o defesa mais duro que enfrentou com a camisola do FC Porto?
YB – Hmmmm… Nos treinos foi o Alex Sandro (risos). Era um defesa fortíssimo, de grande qualidade. Nos jogos… ah, sim, o Trent Alexander-Arnold do Liverpool. Defende bem, segura a posição até ao limite, e ataca o jogo todo.