O talento de Yacine Brahimi fez as malas e embarcou para o Médio Oriente. No FC Porto deixou um rasto de génio, um estilo único, um artista do drible. Em cinco temporadas, o argelino fez 215 jogos oficiais e tornou-se no sétimo estrangeiro com mais presenças oficiais de dragão ao peito. Um número de respeito. 

A partir do Qatar, onde vive e joga desde julho, Brahimi atende o Maisfutebol e abre o coração numa conversa de uma hora. Fala-se de tudo, desde a saída do FC Porto - sem proposta para renovar -, ao olhar sobre os sucessores e aos poucos troféus ganhos em cinco anos.  

Uma entrevista dividida em quatro partes, para saborear devagar. Como se Brahimi partisse em câmara lenta para cima de mais um defesa. 


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Brahimi a celebrar um golo em Portimão

Maisfutebol – O FC Porto apresentou-lhe alguma proposta de renovação?
Yacine Brahimi– Uma proposta oficial para um novo contrato, não. Isso não, nunca. Falaram comigo, houve conversas, mas nunca oficializaram nada. Não sei porquê, talvez pensassem que eu não quisesse [ficar no FC Porto]. Mas nunca me fizeram uma proposta oficial, não.

MF – Continua a assistir aos jogos do FC Porto, mesmo à distância?
YB – Sim, vejo os jogos e falo todas as semanas com os meus colegas daí. Tenho verdadeiros amigos no plantel, como o Moussa Marega. Estou sempre atento ao FC Porto e este ano a equipa está forte. Foi pena ter falhado o acesso à Champions e isso é complicado para um clube como o nosso. Mas acho que a equipa pode fazer uma grande figura na Liga Europa e dar uma alegria aos adeptos.

MF – Em cinco anos o Brahimi ganhou um campeonato e uma Supertaça. É pouco?
YB – É muito pouco e é difícil eu aceitar isso. O futebol é assim. Só ganhei dois troféus com o FC Porto e o ano do título foi lindo, incrível. O ano passado perdemos por culpa nossa e ainda hoje me sinto mal por isso. Penso muito nos adeptos, no apoio que sempre nos deram. Mereciam mais. O FC Porto tem de ganhar regularmente no futuro, não me esqueço da festa nos Aliados. Evitámos o penta do Benfica, havia muita coisa envolvida, e foi mágico, mágico. Foram duas semanas a festejar, com o coração cheio.

MF – Para o seu lugar o FC Porto contratou o Luis Díaz e o Nakajima. Que opinião tem sobre eles?
YB – O Díaz não conhecia, mas o Nakajima sim. São dois jogadores com talento e muita qualidade. Podem oferecer coisas boas ao FC Porto. Via o Nakajima no Portimonense e já gostava muito dele, gosto de ver o que faz com a bola.

MF – O Brahimi foi o sexto jogador com mais dribles feitos na Champions 18/19 e o atleta com mais dribles na liga portuguesa. O que diz isto de si, é egoísta ou corajoso?
YB – Egoísta não, nunca (risos). Desde pequeno, desde que jogava futebol na rua, que sinto prazer em ter a bola e partir para o drible. Adoro isso, esse duelo, faz parte da minha personalidade. Quando eu driblava, algumas pessoas diziam que eu era egoísta, mas era precisamente o contrário. Eu ia para o drible já a pensar em dar algo mais à equipa, uma assistência ou um golo. Já sabemos como é isto: se passo pelo adversário, aplausos; se perco a bola, assobios. Não há meio termo.