O treino acabou e Carlos Mané chega de sorriso aberto à entrevista com o Maisfutebol. Percebe-se rapidamente que está de bem com a vida em Vila do Conde. Uma vida sem dores, recuperado que está de duas lesões gravíssimas. Duas lesões que quase lhe roubaram a carreira.
Mané, como é tratado por todos nos Arcos, fala desse período negro, mas sem nunca largar o sorriso. É um menino bom, um menino de 25 anos e já chefe de família. Tem duas filhas e a esposa consigo no Norte do país e está apaixonado pelo novo conforto familiar.
Nesta conversa dividida em três partes, Carlos Mané fala aqui sobre a estreia na equipa principal do Sporting, mas sobretudo da experiência no Rio Ave, dentro e fora do relvado. Um futebolista que sobreviveu às trevas e vive uma segunda vida. À atenção do selecionador nacional.
PARTE II: «Fui para o Sporting levado por um tio benfiquista»
PARTE III: «Jogar Football Manager salvou-me de levar 15 tiros»
Maisfutebol – 15 de setembro de 2013. Lembra-se do que fez nesse dia?
Carlos Mané – Estreei-me pelo Sporting na Liga (risos). Não é possível esquecer isso. Foi um grande momento para mim. Estava um bocadinho nervoso, mas senti-me confortável em campo e com muita vontade de ajudar.
MF – Começa essa época na equipa B e em setembro é chamado pelo Leonardo Jardim.
CM – Fiz alguns jogos na equipa B e o mister Jardim deu-me depois esse voto de confiança. Só lhe posso agradecer tudo o que fez por mim.
MF – Lembra-se do que o Leonardo Jardim lhe pediu antes dessa estreia?
CM – Perfeitamente. Chamou-me à parte e pediu-me para não ter medo, para fazer aquilo que sabia. Para dar o meu melhor, porque tinha qualidade e podia ir muito longe no futebol.
MF – Seis anos depois, que resumo faz da sua carreira profissional? Está onde esperava?
CM – Dei sempre o meu melhor, em todo o lado. No Sporting, no Estugarda, no Union Berlim e agora no Rio Ave. Estou muito feliz aqui em Vila do Conde. Encontrei um clube que deposita muita confiança em mim e isso é o mais importante, depois de ter estado tanto tempo lesionado. É o melhor clube que podia representar neste momento. Só posso agradecer o apoio recebido do treinador, do presidente e de todos os meus colegas. Estou cá para dar o meu melhor.
MF – Já fez dez jogos pelo Rio Ave. Como se tem sentido fisicamente, após uma paragem tão longa?
CM – Já não me sentia assim tão bem há dois anos. Os preparadores-físicos aqui no Rio Ave são top, têm trabalhado muito comigo e sinto que estou a aproximar-me do meu melhor nível. Passei uma fase difícil, sofri muito, mas já consigo jogar 90 minutos sem dores.
MF – O estilo do Rio Ave tem sido muito elogiado. Identifica-se com as ideias do Carlos Carvalhal?
CM – Os treinos são muito bons, a ideia é ótima e temos de colocá-la em prática todos os jogos. Temos muita qualidade e podemos ganhar a qualquer adversário.
MF – Qual foi o seu melhor jogo nesta fase inicial a época?
CM – Nos primeiros jogos não estava bem, mas contra o FC Porto já gostei do que fiz nos 90 minutos. Posso ajudar a equipa, o mister pode contar comigo.
MF – Passava-lhe pela cabeça ganhar duas vezes em Alvalade em menos de um mês?
CM – Para mim é sempre difícil jogar contra o Sporting. Passei lá muitos anos. Mas estou no Rio Ave e quero dar tudo por esta camisola. É um bocadinho estranho. Senti o carinho do público do Sporting e isso é bom sinal. É sinal de que fiz um bom trabalho e não fui esquecido.
MF – Onde imagina o Rio Ave nesta Liga, em que posições?
CM – O início tem sido bom mas, sinceramente, acho que podemos fazer ainda melhor. Faltam muitos jogos e queremos chegar o mais alto possível.
MF – Depois de uma ligação tão longa ao Sporting, como foi entrar num balneário como o do Rio Ave?
CM – Fui bastante bem recebido. Isto é uma família a sério. Dou-me bem com todos e todos se dão bem comigo. Isso é essencial. Estamos a remar para o mesmo lado.
MF – Como é um dia normal do Carlos Mané em Vila do Conde?
CM – Acordo cedo, levo as minhas filhas à escola e venho logo para o treino. Depois almoço em casa com a minha mulher, durmo uma ou duas horinhas e a seguir vou buscar as meninas. Temos ali um tempinho para brincar com elas e depois voltamos a casa para jantar. É uma vida familiar confortável. Procurava isso depois do que passei naqueles dois anos muito difíceis, com duas lesões graves.
MF – Está no Rio Ave a pensar numa chamada à Seleção Nacional?
CM – Sim, claro. O Rio Ave é uma boa equipa, tenho aqui boas condições para projetar o meu futebol. Estou a conseguir fazê-lo e penso na seleção.
MF – Onde quer estar daqui a cinco anos no futebol?
CM – Honestamente, não faço ideia. Penso muito no presente e não me esqueço que o Rio Ave pegou em mim num momento que não era o meu melhor.