A viver em Andorra e a especializar-se no comentário desportivo, Javier Saviola raramente perde um jogo do seu Benfica. Campeão nacional pelas águias em 2010, El Conejo compara a recente goleada sofrida contra o Bayern aos 5-0 impostos pelo FC Porto no Dragão, há 11 anos. 

Em grande entrevista ao Maisfutebol, o antigo avançado argentino assume que no Benfica apenas lhe faltou ter mais sucesso nas provas da UEFA. Um conversador fantástico, Javier Saviola.

PARTE 1: «No Benfica, eu e o Aimar encontrámos o prazer de jogar»

PARTE 3: «Com o Jorge Jesus nunca há meias palavras»

PARTE 4: «Insistiram comigo e lá fui ver um miúdo chamado Lionel Messi»

PARTE 5: «O Ruben Amorim divertia-me, não o imaginava treinador»


Maisfutebol – O Saviola marcou 39 golos pelo Benfica. Consegue escolher o melhor de todos?

Javier Saviola – Na minha cabeça está o que fiz ao FC Porto, no Estádio da Luz [20 de dezembro de 2009]. Chovia muito, foi um jogo memorável. Quando cheguei ao Benfica, o FC Porto estava num ciclo muito forte e a ganhar vários campeonatos. Em 2009 fizemos uma equipa a pensar em iniciar uma nova era, com o Benfica mais vencedor. Acho que é por isso que a equipa de 2009/2010 é tão recordada. Demos um corte ao que era o mandato de campeão do FC Porto. Esse campeonato foi muito equilibrado, o FC Porto tinha um equipazo com o Hulk e o Lucho, jogadores de grande magnitude e que podiam também ser campeões [o Sp. Braga foi segundo e os dragões acabaram no terceiro lugar]. Ganhar esse clássico contra o FC Porto foi importante para nos colocar na rota do título. Por ter sido tão importante para nós, escolho esse golo no 1-0 ao Porto.

MF – Esse Benfica é campeão em 2010, mas no ano seguinte perde por 5-0 no Dragão e é eliminado da Taça de Portugal pelo FC Porto na Luz. Como se equilibram as emoções de uma equipa com momentos tão duros?

JS – É difícil. O futebol tem estas coisas. Em alguns momentos conseguimos tocar o céu com as mãos e noutros estamos cá em baixo. Isso sente-se principalmente nos clubes grandes. Em Portugal jogam-se muitas competições e o vaivém entre bons e maus resultados é vulgar. Olhemos para o presente: o Benfica vinha muito forte, tremendamente competitivo, e agora perdeu 4-0. Não podemos dizer, de repente, que a equipa está mal. Os grandes clubes têm de ter a capacidade de suportar estes embates. Há equipas que nos podem ganhar porque na Champions estão os melhores do mundo. O que se passou agora no Benfica-Bayern também se passou connosco em 2010 contra o FC Porto. A equipa sentiu o que nós sentimos. 

MF – Ficou-lhe algo por fazer ou ganhar no Benfica?

JS – Gostava de ter chegado a fases mais decisivas na Liga dos Campeões, por exemplo. Tínhamos uma grande equipa e podíamos ter chegado mais longe. Isso ficou-me atravessado na garganta. Fora isso, só guardo a imagem da Luz cheia de paixão. Sempre digo que me surpreendia a quantidade de fanáticos que o Benfica tem por todo o mundo. Fomos uma vez a Paris e parecia que estávamos em Portugal. Eram dez mil ou 15 mil portugueses. Isso demonstra a grandeza do clube.