Campeão da Liga dos Campeões em 2011/12, Ramires está a viver um período de nostalgia pura. Vê o Chelsea, onde fez sucesso por seis temporada, voltar a disputar o título europeu, desta vez frente ao Manchester City, e num palco especial: Portugal.

Aos 34 anos, o antigo médio do Benfica e da seleção brasileira até vê os citizens como favoritos, mas acredita que o confronto no Dragão vai ser «meio a meio» quando a bola rolar, especialmente porque os blues contam com Kanté, que pode vir a ser um dos três melhores do mundo na época.

PARTE I: «Estive com um pé no Benfica em 2018 e fiquei muito triste»

PARTE II: «Um sonho»: Ramires torce por David Luiz e Diego Costa

Final da Liga dos Campeões, decisão em Portugal, Chelsea em campo… bate aquela sensação de nostalgia?

Foi onde tive os melhores dias na minha profissão e também na minha vida. Deixei o Brasil e rumei para Portugal, vivi uma experiência maravilhosa no Benfica. Se pudesse voltar atrás no tempo, faria exatamente a mesma coisa, o mesmo trajeto, tudo igual, desde passar por Portugal e chegar à Inglaterra. O Chelsea é o melhor clube da minha carreira, foi lá que fiz história e consegui a projeção que tenho hoje. Tudo o que aconteceu na minha carreira profissional, tudo isso é muito graças ao Chelsea.

Surpreso ao ver o Chelsea na final frente ao Manchester City?

Não fico nada surpreso, porque o Chelsea esteve a trabalhar muito bem para chegar à final. A equipa é boa, realmente muito boa. Acompanhei os dois jogos das meias, contra o Real Madrid, e vi o Chelsea a fazer duas partidas maravilhosas. Está na final de forma merecida, é o resultado de uma temporada muito bem trabalhada.

E o espírito de um jogador que chega à final tendo antes eliminado o poderoso Real Madrid, a moral que é criada…

Foi o que aconteceu também com aquele nosso campeão Chelsea de 2011/12. Eliminámos o Barcelona antes de chegar à final contra o Bayern de Munique. Aquilo deu-nos muita energia. Os jogadores devem pensar: «Ganhámos ao Real Madrid!». Mas é preciso manter os pés no chão, caso contrário pode tornar-se uma armadilha. Não podem entrar em campo com soberba. É do ser humano sentir-se mais confiante, mais animado, mas não pode haver salto alto. É preciso respeitar o adversário, da mesma forma como houve respeito com o Real Madrid.

Chelsea 2011/12 vs. Chelsea 2020/21: quem seria o vencedor?

Ah, nós tínhamos muitos jogadores experientes... a gente defendia muito bem e tinha um contra-ataque muito forte. Já o Chelsea de hoje, acho que é uma equipa que tem mais posse de bola, que toca mais a bola, com mais paciência na saída de jogo da defesa. São épocas diferentes, com jogadores diferentes. A equipa atual tem mais juventude em campo, então não vejo muitas semelhanças. São duas equipes totalmente diferentes.

Campeão da Premier League, o Manchester City é visto como grande favorito para vencer a Liga dos Campeões. Dá para dizer que é uma equipa quase imbatível?

Não, não acho que seja imbatível. Todos sabem que o Manchester City sempre quis ganhar a Champions League, sempre contratou grandes jogadores a pensar nisto, montou grupos de peso nos últimos anos, mas nunca conseguiu lá chegar. Agora que chegaram, até são favoritos, mas acho que vai ser um jogo difícil. No fundo, sinto que está meio a meio.

Você, no Chelsea, foi companheiro do De Bruyne, que, por sua vez, foi pouco aproveitado e só veio a ter sucesso no Manchester City. Porquê?

O De Bruyne sempre teve esta qualidade que todos vemos hoje. É lógico que ele teve mais oportunidade para jogar no Manchester City, onde pegou mais experiência e confiança. O futebol às vezes é assim, as coisas acontecem de forma natural. Ele teve poucas oportunidades no Chelsea. Querendo ou não, a autoestima acaba por diminuir, o jogador começa a ficar desacreditado…

Mas você olhava pra ele e pensava: «Este miúdo precisa de jogar, pô!»?

Sim, sim. Via isso nele. Mas não são os jogadores que definem quem vai jogar ou não. Ele, de facto, já era diferenciado nos tempos do Chelsea. Acho que faltou paciência ao clube…

E o que falar do Kanté? Época atrás de época em altíssimo nível…

Vejo o Kanté a jogar e passa um filme na minha cabeça, porque vejo a mim. Ele joga, tem destaque, mas ninguém o vê a querer aparecer fora de campo. Ele é na dele, muito calmo, sempre tranquilo. É um jogador extraordinário. Ele está em todos os cantos do campo. Na defesa, no meio, no ataque, nos lados… Está entre os melhores do mundo. O que ele está a jogar é impressionante.

Se o Chelsea vier a ser campeão da Liga dos Campeões e também a França obter sucesso no Europeu, acha que o Kanté pode vir a ser eleito o melhor jogador do mundo?

Com certeza. Pode vir a ser um dos três melhores do mundo, mas é difícil um médio-defensivo chegar e ganhar uma Bola de Ouro. Mas, olha, seria merecido sim.