Desde os tempos em que os amigos da Amadora o «arrastaram» para o Estrela da Amadora ao Santa Clara, Diogo Salomão reviveu todas as etapas da sua carreira. Aos 32 anos, o extremo dos açorianos é um jogador maduro, observador e crítico de si próprio.

Em conversa com o Maisfutebol, o antigo internacional sub-21 português admitiu que chegou a treinar em três clubes ao mesmo tempo, lembrou o «choque» que viveu ao saltar do terceiro escalão do futebol português para o Sporting, o golo histórico marcado pelo Depor em pleno Camp Nou contra Messi, Neymar e companhia, e as restantes experiências de uma carreira já longa.

Parte II: 
«O André Santos teve um pesadelo e bateu com a cabeça, de manhã ninguém sabia dele»

Maisfutebol: O Diogo começou a jogar aos seis anos. A paixão pelo futebol começou no Estrela da Amadora ou antes?

Diogo Salomão: Foram os meus amigos da Amadora que me incentivaram a inscrever no Estrela e acabei por seguir o conselho deles. Falaram com os meus pais, que sabiam do meu gosto pelo futebol, e fizeram-me a vontade. Tinha seis anos e na altura nem sequer havia competição, fazíamos apenas treinos. Esse início foi bom.

Esteve quatro anos no Estrela e saiu para o Damaiense. O que aconteceu?

Era muito pequenino e franzino. Os treinadores tinham esse problema com os jogadores mais magros, diziam que faltava um bocado de cabedal. Disseram-me para procurar outro clube onde pudesse continuar a jogar. A opção foi o Damaiense porque tinha lá muitos colegas de infância e era perto de casa. Era muito mais fácil, saía da escola e ia para o treino.

Ia a pé para os treinos?

Sim. Saíamos muitas vezes da escola, às vezes dez jogadores, e íamos a pé. Ainda andávamos um bom bocado, mas íamos a brincar e a fazer companhia uns aos outros.

Por que razão volta ao Estrela, onde não jogava por ser franzino?

Se calhar, por treinadores que possa ter apanhado ou o desenvolvimento que tive a nível corporal possa ter sido significativo. Tive sempre a ambição de procurar a melhor escolha para mim. Em termos de categoria, o Estrela estava um bocado melhor que o Damaiense e dava-me capacidade de competir a um nível nacional. Novamente, ajudou o facto de estar perto de casa.

Como era o Diogo nesta fase?

Fui para o Damaiense com 13 anos e regressei com 16 anos. Há sempre aquelas brincadeiras e amizades que se criam no futebol e que marcam muito. Tive a oportunidade crescer com muitos colegas que fizeram partes dos clubes onde joguei.

Ainda assim, não é no Estrela que se estreia como sénior.

Estive a treinar em três clubes ao mesmo tempo: Belenenses, Atlético e Casa Pia. Acabei por ficar no Casa Pia tanto por insistência do clube como dos meus colegas. O clube estava no campeonato nacional de juniores e foi uma escolha acertada. Correu muito bem. Estive quase um ano sem jogar no Estrela e o Casa Pia foi uma rampa de lançamento onde voltei a mostrar o meu futebol.

O Diogo faz um ano como sénior na III divisão e depois passa para o Real.

Tive umas complicações com o Casa Pia e tanto eu como o clube decidimos acabar a ligação. O próprio Casa Pia aconselhou-me o Real pelas boas condições que tinha e pelo que me podia proporcionar. Mais uma vez, o facto de estar perto da Amadora pesou. Foi um ano em grande, joguei bastante e as coisas correram-me muito bem.

O facto de o Real ser satélite do Sporting pesou na sua decisão?

Pesou, sim. O protocolo entre o Real e o Sporting foi bastante interessante, permitia haver uma proximidade e um acompanhamento dos jogadores que lá estavam. Tenho a certeza que uma parte do meu sucesso e de saltar do Real para o Sporting, foi devido a esse protocolo e acompanhamento que os outros jogadores tiveram. Estava bem, as coisas correram-me bem e foi tudo mais fácil.

Permita-me abrir aqui um parêntesis para falar sobre o Fábio Paim, com quem jogou nessa época no Real. Que opinião tem sobre o Fábio?

Foi o jogador com mais talento que vi na formação. Quando chegou ao nível júnior/sénior já não era o mesmo Paim, mas tinha o mesmo talento e isso notava-se no jogo dele. Na fase que mais marcou as pessoas, o Fábio era impressionante. Era fora do normal, já fazia coisas à frente da nossa idade e capacidade. Além disso, é uma excelente pessoa. Tinha talento para ir mais longe, mas o futebol não é só talento. Há muitos outros fatores que estão em jogo. 

É incomum saltar do terceiro escalão, II divisão B, para um clube grande.

Não houve assim tantos casos. Mesmo naquela altura em que tive essa transição foi um caso raro. O que mais custou foi a adaptação. É uma realidade completamente diferente, estar em divisões distritais, como o Casa Pia, e chegar ao Sporting… É uma exigência completamente diferente. Não falta qualidade nos escalões inferiores, muitas vezes, é uma questão de oportunidade. Os jogadores nunca devem desistir do sonho e devem trabalhar para isso. Por vezes, a oportunidade pode não surgir, mas se é realmente o sonho, devem estar de consciência tranquilo porque fizeram tudo por ele.

Como foram os primeiros dias no Sporting?

Foi um choque a todos os níveis. Convivemos com jogadores que apenas vemos na televisão, as condições de trabalho e de exigência são diferentes. Estamos habituados a jogar para 500 pessoas, e de repente, estamos num estádio com trinta mil pessoas. É uma realidade distinta e que marca. Muitos jogadores têm qualidade e nunca têm hipótese de mostrar o seu futebol nesse nível.

Na primeira época o Diogo marcou 4 golos em 23 jogos. Considera que o primeiro ano foi positivo?

Aos meus olhos foi uma época excelente. As expetativas que tinha não eram muitos elevadas, como era de imaginar. Vinha de uma II divisão B, havia jogadores de muita qualidade no plantel, mas mesmo assim, fiz bastantes jogos- Podia ter tido mais alguma continuidade e regularidade, mas isso seria pedir muito (risos). Era um miúdo, estava com vontade de me mostrar e ganhei o meu espaço num plantel com muita experiência e qualidade.

Depois dessa boa época, o Diogo sai por empréstimo para o Deportivo. Foi uma opção sua?

Não, não foi opção minha. A minha intenção era dar continuidade à minha carreira no Sporting depois de um ano que correu bastante bem. Acho que tinha condições para ter essa continuidade, independentemente das oportunidades que poderia ter. O clube decidiu que o melhor seria eu continuar a crescer num clube onde tivesse mais oportunidades de jogo.  Dentro das opções que tinha, fui para Espanha. Foi o clube onde fui mais feliz até hoje, marcou-me muito. Guardo um carinho muito especial pelo Deportivo.

O Diogo faz parte da equipa do Depor que sobe à Liga espanhola. Quis continuar para experimentar uma das melhores ligas do mundo?  

Sim, aí a minha ideia foi continuar no Depor. Adaptei-me assim que cheguei, as pessoas ajudaram-me muito, são bastante simpáticas tanto na cidade como no clube. Queria ter a possibilidade de jogar com jogadores de outro nível. Foi na altura em que estavam o Messi e o Cristiano na Liga espanhola e eu tinha oportunidade de jogar esses jogos. Claro que isso pesa na decisão de um jovem.  

E quais foram as principais diferenças que encontrou na Liga espanhola em comparação com Portugal?

A diferença que notei mais foi a nível da qualidade dos jogadores, mesmo aqueles que jogam na segunda divisão. Vê-se muito qualidade nas equipas, por isso é que muitas vezes vemos surpresas em jogos da Taça. O futebol é bem trabalho e há jogadores com qualidade. A nível de intensidade e agressividade Portugal não fica a perder nada para Espanha.

O regresso do Depor à Liga não corre de feição e o clube desce na última jornada. Curiosamente, nesse plantel havia vários portugueses como o Pizzi, Zé Castro, Bruno Gama...

Tínhamos oito portugueses. Estivemos na luta pela permanência até à última jornada. Perdemos o último jogo contra a Real Sociedad, que precisava da vitória para entrar na Liga dos Campeões. Estivemos empatados até perto do final e acabámos por perder com um golo do Griezmann que fazia dupla com o Vela. Nessa altura, em Espanha, havia muitas equipas com jogadores de muito nome e de muita qualidade.